Em excelente entrevista ao jornalista Alex Ribeiro, do "Valor", o economista e matemático Aloisio Araújo, preocupado com os atuais limites da política de juros e com sua eficácia no controle da inflação, propõe um caminho para a (quase) impossibilidade política de rever a meta de inflação.
Referência no lado ortodoxo em política econômica, Araújo é professor da EPGE-FGV (Escola de Pós-Graduação em Economia, da Fundação Getúlio Vargas) e professor emérito do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada). Ele acaba de ter aceito para publicação em importante revista acadêmica internacional de temas macroeconômicos, juntamente com outros autores, artigo científico sobre os sistemas de meta de inflação em ambiente de fragilidade fiscal.
"O centro da meta de 3% é inadequado para a economia brasileira, que vive situação de fragilidade fiscal", avalia o economista. Araújo não aconselha rever a meta para um ponto mais adequado, entre 4% e 4,5%. "Pode ser interpretado como licença para gastar", explica. Sugere, porém, que o Copom mire o intervalo de tolerância, cujo teto vai até 4,5%. A sugestão implica em altas menores dos juros básicos.
Risco de dominância fiscal
A preocupação do economista é a de que aumentos ilimitados de juros, na tentativa de conter a inflação, possa jogar a economia numa situação de dominância fiscal — nessa circunstância, aumentos de juros resultam não em contenção, mas elevações da inflação, exigindo novos aumentos de juros, num circuito vicioso e altamente prejudicial à economia. "Um dos fatores que definem a relação entre dívida e PIB é a taxa de juros", diz Araújo. "A taxa de juros é determinada em função da meta de inflação", complementando que "o ajuste fiscal necessário para atender à meta de 3% seria alto demais".
Estudo recente de economistas do Itaú-Unibanco mostra que, em 15 ciclos de alta ou baixa da Selic, desde outubro de 2002 até agora, somente em duas ocasiões a Selic subiu ou foi cortada acima de um ponto percentual. Na média, o ritmo de ajuste em cada reunião do Copom variou em 0,50 ponto e 0,75 ponto, com mediana em 0,5 ponto
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