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- Author, Jessica Bradley
- Role, Da BBC Future
Há 25 minutos
Nem que seja apenas para passar o tempo em uma tarde chuvosa, nadar pode ser um dos hobbies mais antigos da história humana.
A primeira piscina conhecida data do ano 3000 a.C., no vale do Indo (hoje, parte da Índia, Paquistão e Afeganistão).
Muito tempo depois, no século 19, surgiram piscinas no Reino Unido e nos EUA. E, junto com elas, veio a preocupação de mantê-las higienizadas.
Até hoje, as piscinas públicas e privadas podem ser focos de infecção, se não receberem manutenção adequada.
Nadar é uma atividade considerada altamente benéfica para a maioria das pessoas. Ela fornece exercício para o corpo inteiro e estímulo cardiovascular, além de causar baixo impacto para os ossos e as juntas.
Mas, em raras ocasiões, as piscinas foram relacionadas a surtos de doenças respiratórias e gastrointestinais.
Mesmo em piscinas com boa manutenção, o cloro costuma nos proteger mais do que talvez gostaríamos de saber.
Quais bactérias nos acompanham para nadar?
Nos últimos 25 anos, as piscinas têm sido o ambiente mais comum para a ocorrência de surtos de doenças intestinais infecciosas transmitidas pela água, na Inglaterra e no País de Gales. O principal culpado é o Cryptosporidium.
Este parasita pode causar problemas no estômago que podem durar até duas semanas. As pessoas podem sofrer diarreia, vômitos e dores abdominais — e cerca de 40% delas terão recaída dos sintomas após o término da doença inicial.
Na maior parte das vezes, as doenças entéricas (que causam diarreia e vômitos) são curadas sozinhas em pessoas saudáveis, segundo a professora Jackie Knee, do Grupo de Saúde Ambiental da Escola de Medicina Tropical de Londres.
Mas estas doenças podem ser mais preocupantes em crianças mais jovens, idosos e pessoas imunocomprometidas, segundo ela.
Os nadadores podem contrair Cryptosporidium quando uma pessoa infectada tem um acidente fecal na piscina ou ao engolir matéria fecal residual do seu corpo, explica Knee.
"Elas também podem expelir [o parasita] posteriormente, quando não sentem mais sintomas", afirma o professor Ian Young, da Faculdade de Saúde Pública e Ocupacional da Universidade Metropolitana de Toronto, no Canadá.
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Por mais que tentemos evitar engolir a água da piscina, evidências indicam que alguma quantidade ainda acaba entrando no nosso corpo.
Um estudo de 2017, realizado em piscinas públicas de Ohio, nos Estados Unidos, realizou exames de sangue de 549 pessoas, entre adultos e crianças, depois de nadar na água da piscina por uma hora.
Em média, os adultos engoliram cerca de 21 ml de água por hora, enquanto as crianças ingeriram cerca de 49 ml por hora.
Quando a água é engolida, a chance de riscos de infecção varia, dependendo da quantidade de pessoas que há na piscina. Um estudo concluiu que é mais provável contrair Cryptosporidium ao nadar nos horários de pico.
Os pesquisadores testaram a água de seis piscinas, uma vez por semana, por 10 semanas, no verão de 2017. Eles detectaram Cryptosporidium em 20% das amostras e pelo menos uma vez em cada piscina.
Dois terços dessas amostras de água foram retiradas nos horários de maior movimento da piscina, nos feriados escolares.
Mas o Cryptosporidium não é o único a ser monitorado, segundo o professor Stuart Khan, diretor da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade de Sydney, na Austrália.
As infecções de bactérias oportunistas, como Staphylococcus, podem atingir a pele, segundo ele. E também existe o potencial de contrair infecções fúngicas nos vestiários das piscinas, já que estes patógenos sobrevivem por mais tempo em ambientes quentes e úmidos.
Outra infecção bacteriana comum que pode ser contraída nas piscinas é a otite externa, conhecida como "ouvido de nadador".
Khan explica que ela é normalmente causada pela água que fica no canal do ouvido externo por longo período. Mas não é transmitida de uma pessoa para outra.
Embora seja incomum, o grupo de parasitas Acanthamoeba também vive na água e pode causar infecções oculares. Elas são muito sérias e podem levar à cegueira, segundo Khan.
Também é possível contrair infecções por via inalatória. Bactérias Legionella, por exemplo, podem estar presentes nas piscinas. E, quando inaladas com as gotículas no ar, podem causar a infecção pulmonar conhecida como doença dos legionários.
Mas os surtos das doenças mais infecciosas relacionadas às piscinas são raros.
"Não observamos muitos surtos de doenças transmitidas pela água em piscinas públicas, o que significa que a desinfecção com cloro é feita de forma suficiente na maior parte do tempo", explica Young. "Mas, ocasionalmente, ocorrem alguns surtos."
O controle das bactérias nas piscinas
Antes do século 20, as piscinas não contavam com desinfetantes químicos.
Algumas delas filtravam ou trocavam a água com frequência. Havia piscinas construídas em encostas para auxiliar a drenagem, enquanto outras possuíam uma espécie de calha para retirar as impurezas visíveis.
"Tradicionalmente, os locais de banho públicos ficavam no oceano, onde a água é renovada naturalmente, ou em água doce como em rios, onde há o movimento da corrente", explica Khan.
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Acredita-se que o primeiro uso de cloro nos Estados Unidos tenha ocorrido em 1903, em uma piscina da Universidade Brown, em Rhode Island, quando a substância foi desenvolvida para a desinfecção de água potável.
Em casos raros, é possível contrair infecções bacterianas em piscinas, de patógenos que incluem Campylobacter, Shigella e Salmonella. Na maioria dos casos, estas bactérias causam sintomas gastrointestinais como diarreia e dores de estômago, além de febre.
Mas elas também podem gerar complicações mais sérias. Felizmente, grande parte deste risco é reduzida pelo cloro, segundo Khan.
Vírus como o norovírus (que pode causar diarreia, náuseas, vômitos e dores de estômago, entre outros sintomas) são um pouco mais resistentes que a maioria das bactérias.
Existem relatos isolados de surtos de vírus em piscinas, mas eles são normalmente associados a falhas de equipamentos ou níveis muito baixos de cloro. O vírus geralmente é bem controlado pelo cloro, afirma Khan.
Para manter este nível de proteção contra vírus e bactérias, a piscina deve ser bem controlada, segundo ele. Isso envolve manter a água com alcalinidade e pH corretos, para permitir a eficácia do cloro.
Já a quantidade necessária de cloro depende de quantas pessoas estiverem na piscina em um dado momento.
"Quando mais alta a demanda de cloro, mais você precisa colocar", explica Khan. "Existe muita ciência envolvida."
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A regulamentação sobre a manutenção das piscinas públicas varia de um país para o outro.
No Reino Unido, não existem leis específicas de saúde e segurança, mas os operadores devem respeitar a Lei de Saúde e Segurança no Trabalho do país.
Nos Estados Unidos, as piscinas podem ser regulamentadas em nível estadual e federal. E, embora os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos mantenham um código de saúde e segurança para piscinas, sua adoção é voluntária.
Mas, mesmo em piscinas sem manutenção, o Cryptosporidium é resistente aos níveis normais de cloro.
"O parasita Cryptosporidium é extremamente tolerante ao cloro", explica Knee. "A maior parte dos outros patógenos morre em questão de minutos, mas o Cryptosporidium permanece vivo e ativo por mais de uma semana, em tratamento de cloro em níveis normais."
Isso ocorre devido à forma em que o parasita é estruturado.
"Ele pode formar esporos, que o envolvem firmemente e evitam que qualquer coisa toque o lado externo, aumentando sua resistência", segundo Khan.
O risco de infecção provavelmente é mais alto com acidentes maiores e mais óbvios na piscina, mas este risco pode ser reduzido no caso de reação imediata, segundo Knee.
Os operadores de piscinas podem usar um coagulante e filtrar a água da piscina, se tiverem um equipamento de filtragem adequado que não filtre a água com muita rapidez. E podem também usar a "supercloração", explica a professora.
Este processo envolve a adição à água de níveis muito mais altos de cloro, que são mantidos por um período de tempo mais longo.
Mas estes incidentes são bastante óbvios, enquanto as pessoas podem eliminar material fecal passivamente, sem que se torne um evento de massa, destaca Knee.
Existem outros riscos na piscina?
Você poderá se surpreender ao saber que o odor inconfundível de cloro que você sente quando sai do vestiário para a piscina, na verdade, não é tecnicamente o cheiro do cloro.
"Este cheiro surge quando o cloro reage com outras substâncias na água, particularmente amônia, gerada pela urina e pelo suor", explica Khan. Essa amônia reage com o cloro, formando cloramina, que é o que causa o cheiro.
"Por isso, o cheiro indica que existem fluidos do corpo na piscina que reagem com o cloro", segundo ele.
Essas cloraminas pairam sobre a superfície da água e sua inalação pode irritar nossa garganta e os olhos, segundo Young.
"As substâncias que causam irritação e prejudicam a qualidade do cloro na piscina podem prejudicar a saúde de todos", afirma ele. "Uma curta exposição já é suficiente para afetar você."
Existem muito poucas pesquisas que indiquem que as pessoas que ficam continuamente expostas à cloramina, como professores de natação e salva-vidas, podem apresentar maior risco de desenvolver asma.
Como minimizar o risco?
Com tantos convidados microscópicos indesejados nadando na água das piscinas, pode ser tentador substituí-las por nadar em ambiente selvagem — como um local de banho em um lago, no rio ou no mar.
Mas, nesses locais, também existem riscos de infecção bem documentados. Alguns corpos d'água, por exemplo, contêm esgoto não tratado ou podem estar contaminados por fezes de animais.
É possível reduzir o risco de formação de cloraminas acima da água das piscinas, fazendo com que todas as pessoas entrem no chuveiro antes de nadar, segundo Ian Young.
Esta medida ajuda a eliminar o material fecal e pode reduzir o risco de difundir e contrair infecções, explica Jackie Knee.
Young também destaca a importância da boa ventilação nas piscinas.
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Outra forma importante de evitar infecções nas piscinas é evitar engolir água, segundo Knee. Os patógenos causadores da diarreia são transmitidos pela ingestão de água contaminada com fezes.
Ela destaca que é importante alertar rapidamente os operadores sobre casos de contaminação e sair da piscina imediatamente.
Os CDC indicam que os responsáveis pela manutenção de piscinas podem reduzir o risco de infecções drenando e substituindo a água regularmente, mantendo os níveis de pH e de cloro dentro das faixas adequadas e esfregando as superfícies da piscina para remover o limo.
Jackie Knee e Stuart Khan concordam que os benefícios da natação, à saúde e à socialização das pessoas, superam o risco das infecções.
"Piscinas com manutenção adequada e corretamente tratadas, com operadores que saibam como entrar em ação no caso de contaminação, apresentam riscos mínimos à saúde, em termos de doenças infecciosas", segundo Knee.
Sendo assim, parece que existem muitos motivos para darmos um mergulho na piscina. Só não se esqueça de passar pelo chuveiro, antes.
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