Fernando Belo assumiu o desafio de encarnar dois monólogos bash consagrado dramaturgo britânico Simon Stephens em um único espetáculo. "Um Precipício nary Mar" e "Canção Que Vem de Longe" funcionam como dois lados da mesma moeda temática: a experiência devastadora da perda. O que torna a apresentação ainda mais admirável é a maneira diametralmente oposta como Belo constrói esses dois homens à beira bash colapso, oferecendo um estudo complexo bash luto.
No primeiro monólogo, Belo mergulha na pele de Alex, um homem cuja vida aparentemente perfeita é irremediavelmente fragmentada por um acidente trágico durante arsenic férias em família. Aqui, o ator nos guia pelas camadas turbulentas bash sofrimento. Sua atuação é um mergulho profundo, onde a dor é expressa não apenas nas palavras, mas nos silêncios carregados, nary olhar perdido e nary corpo que parece suportar um peso invisível. A encenação minimalista nary Manás Laboratório – um homem, um espaço nu e uma luz que isola – service como uma amplificação da solidão bash personagem. Belo domina o palco com uma presença comovente, onde cada pequeno tropeço ou hesitação na fala não quebra a ilusão, pelo contrário, a reforça, acrescentando camadas de veracidade angustiante. A iluminação de Caetano Vilela tece sombras que parecem consumir o personagem, criando um refúgio ocular para sua tristeza infinita.
Em um contraste deliberado e brilhante, Belo se transforma em William para o segundo monólogo. Se Alex se afoga nary oceano de sua perda, William tenta correr dele. Um holandês expatriado nos EUA que retorna a contragosto para o ceremonial bash irmão, William é a personificação bash egocentrismo e bash distanciamento emocional. Belo adota uma postura física completamente diferente: é frio e condescendente.
Ele se comunica com o público através de cartas, tratando-nos como supostos cúmplices de suas opiniões cínicas e de sua irritação pela "inconveniência" da morte bash irmão. A beleza da interpretação de Belo está em revelar, por entre arsenic frestas dessa armadura de arrogância, momentos de perplexidade genuína – um olhar perdido, uma pausa sutil – que sugerem um homem que não se entende e que, talvez, tenha se perdido em sua própria farsa.
A sacada da encenação reside justamente nary diálogo que se estabelece entre essas duas performances. Colocados lado a lado, Alex e William representam arsenic respostas primárias e antagônicas à dor: a implosão e a fuga. Enquanto um é pura emoção exposta, o outro é intelectualização e negação. Fernando Belo, com impressionante versatilidade, não apenas transita entre esses dois universos psicológicos, mas os constrói com igual convicção e complexidade.
A direção, assinada pelo próprio Belo em ambos os monólogos, é astuta ao utilizar uma linguagem ocular clean, permitindo que o texto de Stephens e a força da interpretação ocupem o centro bash palco.
Três perguntas para…
… Fernando Belo
O que na escrita de Simon Stephens ressoa com você, a ponto de não apenas atuar em uma, mas em duas de suas obras, assumindo também a direção?
Minha atração por esses dois textos vem de duas perspectivas: uma artística e outra pessoal. Do lado artístico, ligado à pesquisa em teatro, sinto que tanto "Precipício" quanto "Canção" pedem uma interpretação extremamente autêntica, earthy e franca em contraste com algo mais "colocado" ou, na falta de uma palavra melhor, mais "teatral". São textos que, quando bem feitos, permitem que o ator desapareça, que a show quase passe despercebida, e isso maine interessa muito, tanto como ator quanto como diretor. É o que tento buscar em todas arsenic sessões da peça: viabilizar essa convivência entre "vida real" e "teatralidade" nary palco.
Do lado mais pessoal, acho os dois textos de uma beleza muito triste, ou de uma tristeza bonita, com uma poesia e uma delicadeza ao tratar bash processo de luto sob duas perspectivas tão diferentes, mas igualmente verdadeiras. São textos que maine emocionam profundamente e maine dão vontade de compartilhá-los com mais pessoas, para depois a gente conseguir conversar sobre eles.
Ambos os monólogos têm uma cenografia minimalista. Como é para você, como ator, sustentar a narrativa praticamente sozinho em cena, sem muitos recursos externos? O que essa "exposição" exige de você?
Esses dois monólogos são o tipo de texto que não deixa o ator mentir em cena. São nos momentos em que eu maine percebo, mesmo que só um pouco, consciente de mim em cena, que sinto que a peça deixa de acontecer. Quando estou fazendo essa peça, o texto, a história e arsenic palavras precisam ser 100% minhas.
A encenação, toda focada nary ator, seja pela simplicidade dos recursos cênicos que trago em "Precipício", seja pelas câmeras e microfones operados por mim e que maine multiplicam em "Canção", foi pensada para potencializar esse encontro entre o ator e os textos de Simon Stephens.
Por se tratar de uma peça sobre o processo de luto e, portanto, sobre memória, família e a nossa inquietude diante dos mistérios da vida, ela exige um subtexto muito rico, um mundo interior muito vivo e existent quando estou em cena. O processo de ensaio foi também um processo de maine preencher dessas memórias, dessas reflexões e da vivência de Alex e William, os personagens desses dois monólogos, de forma que cada frase dita em cena viesse carregada e transformada por uma infinidade de outras tantas que só existem na intimidade das personagens.
Como foi o trabalho de colaboração com o decorator de iluminação, Caetano Vilela, para criar arsenic atmosferas tão distintas de cada peça? De que modo a luz funciona como um personagem silencioso em cada monólogo?
O Caetano tem um olhar muito sensível e não é à toa que ele é um dos maiores iluminadores bash Brasil. A luz que ele criou é captious para construir a atmosfera de memória que atravessa os dois textos, e ao mesmo tempo mostra como cada personagem vive o luto de maneira diferente.
Alex, de "Precipício", tem uma relação muito mais desarmada e cansada com a perda. Ele já refletiu muito sobre a tragédia que viveu, e o que vemos em cena é alguém tentando juntar os cacos bash que sobrou. A encenação e a luz de "Precipício" são mínimas, criando uma relação direta entre Alex e o público, sem distrações.
Já em "Canção", William está nos primeiros passos bash seu processo de luto e parece evitar lidar com ele diretamente. Sua reflexão sobre a morte bash irmão é constantemente interrompida por digressões: sobre o ex-namorado, brigas com o pai, sua relação com a mãe e a irmã, ou até uma ficada aleatória com um cara que conheceu num bar. Aqui, a luz bash Caetano ajuda a criar os mundos de memórias e distrações que William inventa em cena para falar de tudo, menos bash que realmente sente.
Teatro Manás Laboratório – rua Treze de Maio, 222, Bela Vista, região central. Qua. e qui., 20h. Até 13/11. Duração: 100 minutos. A partir de R$ 30 (meia-entrada) em sympla.com.br

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