Banheiros interditados do Itamaraty são alvo de comparação irônica com obras de arte

Banheiros que estão interditados em um anexo do prédio do Itamaraty, na Esplanada dos Ministérios, foram alvo de uma intervenção anônima que os comparou, de forma irônica, com obras de arte.

As fotos começaram a circular nos últimos dias em grupos de mensagens do Ministério das Relações Exteriores, assim como as descrições rebuscadas, que imitam as encontradas em galerias.

Procurado, o Itamaraty afirmou que não vai comentar.

Em um local onde há dois mictórios interditados por fitas, foi colado um papel em que a "obra" teria o título "Interdição nº 3: Composição em Amarelo e Preto".

O texto descreve o local como uma nova peça do "‘circuito sanitário-conceitual’ do Itamaraty", em que o artista anônimo "abandona o pudor do véu plástico e adota uma linguagem mais geométrica, quase construtivista".

"A composição em X funciona como gesto tanto estético quanto político. É o sinal universal do interditado, do que não deve ser usado, mas também daquilo que, paradoxalmente, não se consegue ignorar. O espectador percebe que a obra, embora silenciosa, afirma-se como presença incontornável: uma espécie de barricada poética contra o fluxo. Reprime-se o gesto, mas não seu significado", diz trecho do texto.

Em outro local, onde três mictórios estão interditados por sacos plásticos, a descrição afirma que há um diálogo com a obra "Fonte", urinol que o artista francês Marcel Duchamp expôs em 1917 em Nova York.

"A diplomacia, sempre atenta às nuances do visível e do invisível, encontra aqui um paralelo inevitável. Como nas negociações internacionais, há um processo em curso — talvez lento, talvez técnico, talvez eternamente provisório — que permanece hermético ao público. O saco plástico torna-se cortina opaca entre intenção e execução, entre protocolo e realidade", diz o texto.