Bitcoin pode ser hackeado? Especialistas explicam por que isso é improvável

Com esse domínio, o atacante poderia, por exemplo, reorganizar transações recentes, atrasar confirmações e até tentar executar gastos duplos em um curto intervalo de tempo. O que ele não poderia fazer é criar bitcoins do nada, alterar regras do protocolo ou acessar fundos de terceiros.

Na prática, executar esse tipo de ataque hoje exigiria uma infraestrutura colossal.

"Para tentar algo assim hoje, seria necessário controlar uma infraestrutura de mineração e consumo de energia comparável à de países inteiros, operando de forma coordenada, contínua e sem garantia de retorno financeiro", diz Guilherme Bissoli, country manager da Coins.xyz.

Um estudo da Coin Metrics, publicado em 2024, estimou que um ataque de 51% exigiria a aquisição de cerca de 7 milhões de máquinas de mineração, com um investimento de aproximadamente US$ 20 bilhões apenas em hardware —sem contar logística, manutenção e custos operacionais.

Além disso, o gasto com eletricidade para sustentar o ataque seria da ordem de bilhões de dólares, tornando a operação não apenas complexa, mas economicamente irracional.

"Mesmo nesse cenário extremo, o atacante não ganha acesso aos fundos de terceiros. O máximo que se consegue é tentar reorganizar transações recentes por um curto", afirma Bissoli.

Computação quântica: um novo risco no radar

Nos últimos anos, um novo tema passou a rondar o mercado cripto: a computação quântica. Em tese, esse tipo de tecnologia teria potencial para quebrar algoritmos criptográficos, inclusive os usados no bitcoin.

Recentemente, declarações de Vitalik Buterin, criador do ethereum (ETH), reacenderam o debate ao sugerir que, no futuro, computadores quânticos poderiam representar um risco tanto para o bitcoin quanto para o ether. Estaria tudo ameaçado?

Segundo especialistas, não.

"Os computadores quânticos capazes de quebrar a criptografia do Bitcoin ainda não existem, estão a décadas de distância de serem operacionais nesse nível e precisariam de estabilidade e escala que hoje são apenas teóricas", diz Wander Guedes, gerente de operações da Transfero.

Além disso, esse cenário desconsidera um ponto central: o bitcoin pode ser atualizado. Caso a computação quântica avance a ponto de representar um risco real, a rede pode migrar para algoritmos resistentes a esse tipo de ataque.

"Estamos falando de um risco monitorado, mas não iminente", afirma.

Então, por que pessoas perdem dinheiro com cripto?

Apesar de o bitcoin ser considerado um sistema altamente seguro, há inúmeros relatos de pessoas que perdem dinheiro no mercado cripto —seja por ataques hackers, golpes ou erros operacionais.

Nesses casos, as perdas não estão relacionadas a falhas na tecnologia do bitcoin em si, mas ao ecossistema que se formou ao redor dela, envolvendo plataformas, intermediários e o próprio comportamento dos usuários.

Se um investidor mantém seus bitcoins em uma exchange, e essa plataforma sofre um ataque, o problema está na segurança da exchange —não na blockchain do bitcoin.

Da mesma forma, quando alguém opta pela autocustódia (ou seja, tomar conta da própria cripto, em vez de deixar em exchange), mas perde ou expõe sua chave privada (senha), trata-se de uma falha na gestão individual dos ativos, não de uma vulnerabilidade do protocolo.

Segundo Guedes, da Transfero, alguns cuidados básicos podem reduzir significativamente esses riscos: