
- Author, Leandro Prazeres
- Role, Da BBC News Brasil em Brasília
Há 8 minutos
Para o empresário e influencer de direita Paulo Figueiredo, uma das vozes mais conhecidas da direita brasileira, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não tem, hoje, condições de liderar o campo político que o levou à Presidência da República.
"Nestas condições, preso sob tortura? Não. Ele não tem condições de liderar a direita no Brasil neste momento. Eu tenho dito isso de forma bastante clara. O presidente neste momento é uma vítima", disse Figueiredo em entrevista à BBC News Brasil na quarta-feira (26/11).
A entrevista foi concedida um dia depois de Bolsonaro e outros seis réus serem presos para começar a cumprir suas penas após a condenação por crimes como tentativa de golpe de Estado e abolição violenta ao Estado democrático de Direito.
O laudo do exame de corpo de delito realizado pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) não constatou nenhuma lesão ou violação à sua integridade física.
Mesmo assim, Figueiredo afirma que o ex-presidente estaria sendo submetido a tortura psicológica e que, assim, não teria sequer condições de apontar o nome de quem pode sucedê-lo nas eleições presidenciais de 2026.
Neto do último presidente da ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985, o general João Baptista Figueiredo, Paulo Figueiredo ganhou notoriedade como comentarista político em programas de rádio, TV e podcasts.
Hoje, Figueiredo conta com mais de 1,3 milhão de seguidores em diferentes redes sociais e transmite, quase diariamente, um programa em seu canal no YouTube.
Nos últimos meses, parte da opinião pública brasileira e até mesmo membros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se surpreenderam, ao menos temporariamente, com a atuação de Figueiredo nos Estados Unidos, onde vive.
Ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o empresário passou a participar de reuniões com integrantes do governo do presidente Donald Trump nas quais defendia, abertamente, a aplicação de sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes — como resposta à condução do processo que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) respondia por tentativa de golpe de Estado, e a favor da implementação de uma anistia aos militantes, militares e políticos processados por seus supostos envolvimentos em uma tentativa de golpe de Estado ocorrida entre 2022 e 2023.
Em julho deste ano, a pressão da dupla parecia estar fazendo efeito e o presidente Trump anunciou tarifas de 40% sobre produtos brasileiros e mencionou que uma das razões para o tarifaço era o processo de Bolsonaro, que classificou como "caça às bruxas".
A atuação de Figueiredo e Eduardo Bolsonaro junto ao governo norte-americano fez com que a Procuradoria-Geral da República apresentasse uma denúncia ao STF contra os dois por coação no curso do caso contra Bolsonaro, que é quando alguém usa de violência ou grave ameaça para interferir no resultado de um processo judicial.
Mas desde a imposição do tarifaço e das sanções contra ministros do STF e do governo Lula, Trump e o petista deram início a uma aproximação.

Crédito, EPA
Os dois já encontraram duas vezes, trocaram um telefonema, se convidaram para visitas de Estado, e as negociações comerciais entre os dois países foram retomadas. Parte das tarifas a produtos vendidos pelo Brasil foi retirada.
Ao mesmo tempo, apesar da pressão feita pelo governo norte-americano, o processo de Bolsonaro prosseguiu, ele foi condenado e, na semana passada, foi preso. Ele cumpre agora sua pena de 27 anos de prisão por crimes dos quais ele alega ser inocente. E anistia, defendida por Figueiredo, não foi aprovada até agora. Tudo isso levanta dúvidas se a dupla Figueiredo/Eduardo ainda mantém a mesma aparente influência junto ao governo norte-americano de meses atrás.
À BBC News Brasil, mesmo diante da possível aproximação entre Trump e Lula, Figueiredo diz que continua apostando suas fichas no presidente norte-americano.
"Continuo apostando e acho que é a forma bem-sucedida para que a pressão da comunidade internacional em relação ao Brasil possa ser benéfica para a aprovação de uma anistia, que é um instrumento correto político para a solução dos problemas que o Brasil vive hoje em dia", afirma.
Na entrevista, Figueiredo também criticou a atuação de políticos de Centro, entre eles o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que estariam tentando se aproveitar da fragilidade de Bolsonaro para se viabilizarem eleitoralmente em 2026.
O empresário e influencer também criticou um dos pré-candidatos da direita às eleições de 2026, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), a quem chama de "Romeu Zebra".
"Ele é um governador até acima da baixa média no Brasil, mas é uma pessoa que não tem massa cinzenta o suficiente para presidir o país", afirma.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista com Paulo Figueiredo.
BBC News Brasil - O ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso e, ao contrário que se viu quando o presidente Lula foi preso, não se percebeu uma grande mobilização popular contrária à prisão dele em Brasília ou mesmo em outros lugares do Brasil nos últimos dias. Por que, na sua opinião, isso não aconteceu?
Paulo Figueiredo - A prisão foi decretada com base na convocação dessa mobilização popular. Quando houve uma convocação simples para uma vigília por parte do senador Flávio Bolsonaro, isso foi utilizado como base para a decretação da prisão. Alexandre de Moraes criminalizou a manifestação pública de direita no Brasil. As pessoas tiveram medo de ir para uma determinada região onde estivesse o presidente Bolsonaro, como aconteceu com Lula, e isso ser interpretado como um tipo de insurreição ou baderna (...) O Brasil tem tido manifestações populares em favor do presidente Bolsonaro muito maiores do que qualquer coisa que já tenha sido feita em favor do presidente Lula. Há poucos meses, por exemplo, tivemos uma outra grande manifestação nesse sentido.
BBC News Brasil - Há analistas que estão lendo essa falta de mobilização como um esvaziamento do bolsonarismo. Com a prisão do Bolsonaro, ele ficou esvaziado?
Paulo Figueiredo - Acho que não. O presidente Bolsonaro e, obviamente, o bolsonarismo, são símbolo de um movimento maior no mundo inteiro que é chamado de movimento nacional populista. Essa é a nova cara da direita. É um movimento caracterizado por uma revolta contra um establishment, contra o sistema, contra autoridades, contra os poderes sejam eles econômicos, de mídia, ou políticos. Esse sentimento nunca esteve tão forte no mundo. Obviamente, temos um cenário de muito medo por parte da direita. Tivemos pelo menos três grandes manifestações bolsonaristas neste ano (...) então não vejo enfraquecimento nenhum e acho que eleitoralmente isso fica bastante traduzido pelo medo que as pessoas têm de que o Bolsonaro dispute as eleições. Isso serve tanto para o Jair Bolsonaro quanto para o Eduardo Bolsonaro.
BBC News Brasil -Atribuir essa falta de mobilização popular em relação à prisão do presidente Bolsonaro não mascara, de alguma forma, uma eventual perda de mobilização popular do bolsonarismo?
Paulo Figueiredo – Podemos fazer uma análise objetiva. Neste ano, o presidente Bolsonaro conseguiu levar multidões às ruas? Sim. Alexandre de Moraes ameaçou pessoas que se mobilizassem em torno do presidente? Sim. Foi essa a base da motivação da prisão preventiva. Quando você junta esses dois argumentos, fica bastante claro que não (houve perda de mobilização). O bolsonarismo continua bastante engajado. As redes sociais e as ruas deixam isso claro. Mas nós vivemos uma situação no Brasil que não é de normalidade democrática. As pessoas de direita jamais poderiam fazer com Bolsonaro o que foi feito com o Lula no sindicato do ABC, na ocasião da sua prisão. Caso o fizessem, os manifestantes estariam sendo presos e nós teríamos uma chamada insurreição, uma tentativa de golpe, uma tentativa de obstrução de justiça de pessoas antidemocráticas.
[Nota da redação: Moraes decidiu no sábado (22/11) revogar a prisão preventiva em regime domiciliar, na qual Bolsonaro estava desde o início de agosto, a pedido da Polícia Federal (PF), após ser identificado um risco concreto e iminente de fuga. Segundo a decisão, esse risco foi identificado após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu filho, convocar uma "vigília" em apoio ao pai nas proximidades da residência do ex-presidente e ser detectada uma tentativa de violação da tornozeleira que ele usava, o que Bolsonaro admitiu posteriormente ter ocorrido.]
BBC News Brasil – Mas como é possível, então, reunir milhares de pessoas em torno do ex-presidente Bolsonaro sem que o Brasil viva normalidade democrática?
Paulo Figueiredo - Pode parecer uma contradição, mas isso reforça o que venho dizendo. Bolsonaro teve muito cuidado em não convocar manifestações por todo o Brasil por medo de que nós tivéssemos episódios parecidos com o que aconteceu no 8 de janeiro (de 2023). Boa parte das manifestações foram convocadas só em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde houvesse controle das aglomerações por conta dos governadores aliados.(...) Alexandre Morais não consegue impedir, ainda, todo tipo de manifestação, mas algumas, como foi o caso da vigília, ele consegue impedir.

BBC News Brasil - O senhor e outras lideranças ou influenciadores da direita sempre trataram o ex-presidente Bolsonaro como um grande líder da direita no Brasil. Uma liderança forte e potente. Tentar romper uma tornozeleira eletrônica com ferro de solda é a postura esperada de um grande líder?
Paulo Figueiredo - Eu tenho sido muito crítico à postura do presidente por não ter tido a postura de uma pessoa tão forte quanto ele deveria ter sido. A tentativa... não de rompimento, mas de adulteração da tornozeleira é o retrato do estado de fragilidade no qual o presidente se encontra. E eu tenho tido notícia de que ele já se encontra (assim) há bastante tempo. Não só uma fragilidade física como uma fragilidade mental (...) Você coloca isso a uma pessoa que tem passado por três anos de linchamento público, (submetido a) constantes injustiças, a uma pressão que é muito difícil de qualquer ser humano suportar... É uma tortura psicológica o que a gente tem porque, a todo momento, o presidente vive sob a ameaça de (ser punido) se não se comportar (...) Quando você associa a isso medicamentos que tem interações preocupantes, eu não tenho dúvidas de que o presidente Bolsonaro estava e provavelmente ainda está em um estado de confusão mental. Eu não acho que há nada de vergonhoso nisso em você, debaixo dessa tortura e sob medicação, adotar um comportamento confuso para um senhor de 70 e poucos anos.
BBC News Brasil – Admitindo que seja este o caso, o senhor acha que, nessas condições, Jair Bolsonaro tem condições de liderar a direita no Brasil?
Paulo Figueiredo - Acho que não. Nestas condições, preso sob tortura? Não. Ele não tem condições de liderar a direita no Brasil neste momento. Eu tenho dito isso de forma bastante clara. O presidente neste momento é uma vítima. Ele é um refém que está sendo torturado e nenhum refém tem condições de liderar nada. Então, o presidente Bolsonaro precisa ser, neste momento, protegido por aqueles que representam seu movimento.
BBC News Brasil – Preciso interromper para dizer que o presidente Bolsonaro foi submetido a um exame de corpo de delito que não constatou nenhum tipo de lesão ou violação à sua integridade física. Em relação às condições às quais ele está submetido, no que se refere às instalações, não há indicações de que elas apresentam condições desumanas. O senhor pode qualificar melhor o que quer dizer com tortura?
Paulo Figueiredo – Claro. O conceito de tortura psicológica é um conceito amplamente documentado de forma acadêmica que não passa por nenhuma violação física. Você tem várias técnicas psicológicas de submeter alguém a um ambiente de tortura. Bolsonaro vive debaixo de um ambiente de ameaça constante e com interlocutores constantemente indo a ele e dizendo: "Se você não for dócil ao sistema, se você o enfrentar, vai ser pior". Ele não teria motivos para tomar medicação se ele não estivesse num estado mental periclitante que é o estado em que ele está (...) A ameaça (a Bolsonaro) é: "Se você não se comportar direitinho e se você não nomear os candidatos à sua sucessão que nós queremos que você nomeie, você será enviado para a Papuda. Você vai perder o benefício de estar dentro da Polícia Federal". Como é que alguém sustenta uma situação dessas? Ninguém aguenta três anos disso.
Paulo Figueiredo - Talvez não. Não tenho, por ordem judicial, contato direto com o presidente Bolsonaro para saber como ele está atualmente. Mas, sem dúvida nenhuma, ele não está numa posição onde possa, livremente, escolher quem vai ser o sucessor para representar este movimento político, do qual ele é o maior símbolo, nas eleições de 2026.
BBC News Brasil - Quem são os atores que estariam se aproveitando dessa condição dele na direita?
Paulo Figueiredo - A direita é um ambiente muito amplo, mas, sem dúvida nenhuma, dentro do establishment do centro político brasileiro, há várias pessoas que estão se aproveitando disso porque querem um candidato que seja dócil ao sistema.
BBC News Brasil - Você pode citar algumas? O senador Ciro Nogueira seria uma?
Paulo Figueiredo - Acho que o Ciro Nogueira pode ser um exemplo, mas ele não é o único. Boa parte dos atores de centro no Brasil querem esse tipo de coisa. Mas não acho construtivo ficar aqui e apontar todos os nomes. Mas há pessoas, por exemplo, no próprio mercado financeiro. Há um consenso dentro da Faria Lima (avenida que concentra instituições financeiras em São Paulo) nessa direção. Há um consenso, mesmo na mídia, de que o candidato precisaria ser alguém como o Tarcísio. Eu não reputo ao governador de São Paulo esse plano. Não reputo a ele essa vontade ou uma traição ao presidente (Bolsonaro) para que ele seja o candidato. Mas acho que o sistema gostaria muito que alguém como ele fosse candidato representando o Bolsonaro, tendo os votos do Bolsonaro, sem efetivamente representar um movimento político do qual o presidente faz parte.

Crédito, Getty Images
BBC News Brasil - No X o senhor já disse que dentro do universo é MAGA (Make America Great Again), Tarcísio é visto como um aliado da China e de Alexandre de Moraes. O senhor vê Tarcísio de Freitas como aliado de Alexandre de Moraes?
Paulo Figueiredo - Eu não o vejo como um aliado de Moraes. Eu vejo o governador Tarcísio, que já fez elogios ao Alexandre Moraes e ao Supremo Tribunal Federal, como alguém que não representa uma ameaça aos abusos de poderes e ao golpe de Estado que Alexandre de Moraes começou a praticar em 2022. Isso não significa que ele é necessariamente um aliado (de Moraes). Significa que ele não é um opositor que representa uma ameaça.
BBC News Brasil - Como o senhor o classificaria em relação a Bolsonaro? Ele é alguém confiável? O senhor confia nele?
Paulo Figueiredo - Eu não conheço o governador Tarcísio o suficiente para confiar ou não confiar. Eu me considero uma pessoa bastante ingênua e que costuma ver o melhor das pessoas. A impressão que eu tenho do governador Tarcísio é que ele é uma pessoa leal ao presidente Bolsonaro. Eu já conversei com ele algumas vezes e a impressão que eu tenho é que ele tem uma visão diferente sobre a forma de ajudar o presidente Bolsonaro. Ele tem uma visão de que é possível fazer isso através da conversa e do diálogo e não do enfrentamento. Eu acho que essa visão, que foi a visão implementada até hoje, falhou miseravelmente. Levou o presidente Bolsonaro a estar cumprindo, na sede da Polícia Federal, uma pena de 27 anos na prisão. Mas isso não significa que, por ter uma tese que eu considero equivocada, que ele seja necessariamente um traidor, um canalha ou qualquer coisa do tipo.
BBC News Brasil - Com Bolsonaro preso hoje, quem deveria ser o candidato da direita nas eleições de 2026?
Paulo Figueiredo – O melhor nome para representar o movimento bolsonarista nas urnas em 2026, entre os candidatos que se colocaram, é o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Algumas pessoas podem dizer que ele pode se tornar inelegível até o final do ano que vem por conta desse julgamento fajuto no processo de coação do processo penal, mas eu acho que esse processo vai ter muita dificuldade de avançar. No caso de esse julgamento prosperar, há outras possibilidades. Uma delas, que eu acho que é quase tão boa quanto, é o senador Flávio Bolsonaro, que também representa muito bem o movimento político do pai.
BBC News Brasil - Como é que você avalia o impacto da prisão do ex-presidente Bolsonaro sobre a direita no Brasil? Ela fica mais fragmentada?
Paulo Figueiredo - Não sei se deixa a direita mais fragmentada... talvez. Existe um mito muito forte em torno de prisão. A prisão injusta traz uma certa união. Ela é quase um arquétipo do injusto, de alguém que está sendo perseguido. O martírio é uma coisa que tem uma imagem psicológica muito forte para as pessoas. Então, talvez a prisão sirva para facilitar, para galvanizar e para criar um mito de união, um mito fundador de união em torno do bolsonarismo.
BBC News Brasil – O senhor costuma utilizar em seus vídeos um apelido para se referir ao governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Que apelido é esse e por que o senhor o utiliza?
Paulo Figueiredo - Eu procuro chamar o governador de Minas Gerais de Romeu Zebra, porque ele não é, digamos assim, a faquinha mais afiada da gaveta, como a gente diz aqui em inglês. Ele não é uma pessoa exatamente brilhante. Então eu acho que é um apelido bastante oportuno. Aliás, o Trump gosta também de aplicar apelido nas pessoas.
BBC News Brasil – O senhor já disse que ele não seria apto a presidente da República. Zema é um pré-candidato à Presidência da República. Por que ele não seria apto à Presidência?
Paulo Figueiredo - Coitado do governador de Minas Gerais... Ele é um governador até acima da baixa média no Brasil, mas é uma pessoa que não tem massa cinzenta o suficiente para presidir o país. Não que o Lula tenha (...) ele é muito ignorante no que diz respeito à verdadeira luta política no país. A própria política no estado dele é um caos completo. (Zema) não consegue cuidar nem da própria política doméstica de Minas Gerais. E ele foi, no mínimo, omisso em relação ao que aconteceu no Brasil ao longo desse tempo. Tenho sempre dito que os governadores deveriam ter um papel mais combativo, porque são muito fortes no Brasil, e deveriam ter um papel mais combativo contra a escalada autoritária que aconteceu no país nos últimos anos e eu não vi o governador de Minas Gerais falar nada em relação às pessoas que foram presas injustamente, muitas delas no estado dele (...) O governador parece que não está nem no Brasil. Parece que está governando Minas Gerais como se Minas Gerais fosse o estado da Suíça. Uma pessoa que está nessa situação não está pronta para ser presidente da República.
BBC News Brasil – O governo de Estados Unidos impôs tarifas de 40% a produtos brasileiros e disse que elas eram resultado de um processo que classificou como "caça às bruxas" em relação ao ex-presidente Bolsonaro. Bolsonaro foi preso e, salvo por uma nota da embaixada dos Estados Unidos, não se viu nenhuma manifestação mais assertiva do governo dos Estados Unidos. O presidente Trump abandonou Bolsonaro?
Paulo Figueiredo – Não houve uma redução específica para o Brasil. Caíram as tarifas para o Brasil. como caíram para vários outros países (...) A manifestação que você falou, foi originalmente feita pelo Christopher Landau (vice-secretário de Estado norte-americano), que é simplesmente o segundo no âmbito da diplomacia americana e uma das pessoas mais importantes dos Estados Unidos. Talvez a gente veja mais algumas medidas tomadas pelos Estados Unidos ao longo dos próximos meses, mas eu não vi absolutamente nenhuma mudança de postura dos Estados Unidos em relação a esse assunto. Abandono teria sido se as tarifas tivessem sido removidas, se as sanções a mais de 20 indivíduos e seus familiares tivessem sido retiradas.
Paulo Figueiredo - Ele não disse "uma pena". Ele disse "too bad", que significa "muito ruim". E foi a única coisa que ele disse num momento em que ele não sabia da prisão do presidente Bolsonaro. Esse vídeo ao qual você está se referindo foi um vídeo de uma repórter que pegou ele entrando ou saindo do helicóptero andando pelo jardim da Casa Branca e ele não sabia sequer do que ela estava falando. (...) Naquele momento, o presidente Trump não tinha sido avisado sobre o assunto. Se o presidente vai voltar publicamente ou não sobre o assunto, eu não sei. O que eu posso dizer é que, neste momento, a política externa da administração dele não abandonou o presidente Bolsonaro. Pelo contrário. Os Estados Unidos têm aumentado a aplicação das sanções e, eu sei, pelas discussões que eu sei que estão acontecendo lá dentro, existe uma possibilidade de que nós vejamos novas medidas sendo tomadas num futuro próximo.
BBC News Brasil - Em vários momentos o senhor disse que não havia possibilidade de aproximação ou de mudança na postura dos Estados Unidos em relação ao Brasil. Nesse período houve uma mudança....
Paulo Figueiredo – Não houve.
BBC News Brasil – Presidentes que nunca haviam se encontrado se encontraram e a partir daí houve o estabelecimento de reuniões e as negociações voltaram. Na sua avaliação, a situação entre os Estados Unidos e o Brasil não mudou, a despeito dos encontros que ocorreram entre os dois presidentes?
Paulo Figueiredo - Eu te pergunto qual foi o avanço objetivo de todos esses encontros ao qual você está se referindo.
BBC News Brasil – Minha posição aqui é perguntar. É a sua opinião que importa.
Paulo Figueiredo - Não houve avanço. Não há, materialmente, nada. A sanção pela Lei Magnitsky ao Alexandre de Morais, seus familiares e às suas empresas continuam aplicadas. Junte a isso mais de duas dúzias de indivíduos da administração pública brasileira sancionadas com o cancelamento de vistos. As tarifas continuam aplicadas e é importante lembrar que Eduardo Bolsonaro e eu nunca advogamos por tarifas. As tarifas sempre foram uma decisão do presidente Trump que nós apoiamos, como não poderia ser diferente. Imagine se nós seríamos ingratos e irresponsáveis para criticar essa medida. Não houve mudança na relação dos dois países. Agora, o meu interesse pessoal é que essa mudança ocorra. Todo esse trabalho que é feito tem o objetivo de que o Brasil venha à mesa de negociação.

Crédito, Reprodução
BBC News Brasil - Tanto o senhor quanto Eduardo Bolsonaro se mostravam confiantes de que o tarifaço seria importante o suficiente para que houvesse uma reversão (do processo contra Bolsonaro) e que resultasse, nas suas palavras, em uma anistia ampla, geral e irrestrita. A anistia ampla, geral e irrestrita não está no horizonte e o ex-presidente Jair Bolsonaro está preso. Vocês erraram ao apostar essas fichas em uma interferência do governo norte-americano no Brasil?
Paulo Figueiredo - Eu não aceito a premissa de interferência. Eu acho que diplomacia e política externa não são interferência. Em segundo lugar, nós nunca buscamos nada relacionado ao processo penal. Nosso objetivo era que a diplomacia americana e que os instrumentos de política externa americanos tivessem uma influência positiva no cenário político brasileiro para que houvesse a aprovação de uma lei de anistia que, segundo você, não está no horizonte, mas segundo o mundo real, poderia ter sido votada hoje (quarta-feira) na Câmara dos Deputados e que neste momento, o mais provável é que seja votada na semana que vem na Câmara dos Deputados, inclusive como fruto desta pressão internacional. Continuo apostando e acho que é a forma bem-sucedida para que a pressão da comunidade internacional em relação ao Brasil possa ser benéfica para a aprovação de uma anistia, que é um instrumento correto político para a solução dos problemas que o Brasil vive hoje em dia.
Paulo Figueiredo - Alguns dos mais condecorados e honrados que nós tivemos nas Forças Armadas brasileiras, sendo escorraçados, como se fossem criminosos, enquanto o próprio Presidente da República, esse sim, é um criminoso. Um país que vive uma situação dessas não pode persistir (...) As Forças Armadas, que ao contrário do STF, gozam de um enorme amparo e respeito e credibilidade junto à população, estão vendo o seu nome jogado na lama, muito por conta do comando desastrado do general Tomás Paiva (comandante do Exército).
BBC News Brasil – Mas o que o senhor defende? Essas pessoas foram investigadas, processadas e condenadas. O que caberia ao comandante do Exército fazer a uma vez que chegou a fase delas cumprirem essa prisão?
Paulo Figueiredo - Elas não foram investigadas, julgadas e condenadas. Eles foram pura e simplesmente condenadas. Já começaram condenadas. Eu considero esse julgamento uma farsa completa. Então, acho que isso é o suficiente como resposta até agora.
BBC News Brasil - O que o comandante do Exército deveria fazer nessa situação? Impedir a prisão deles?
Paulo Figueiredo - Cumprir a lei. Fazer com que a lei fosse cumprida. Nada além disso. A lei para os militares é diferente da lei para os civis. E a lei deveria ter sido cumprida. E não foi. Eu me reservo o direito de parar por aqui nesse momento.
BBC News Brasil – O senhor é neto de um general que foi presidente durante o período da ditadura militar aqui no Brasil. E nessa semana a gente viu como oficiais generais presos por tentativa de golpe pela primeira vez no país. Como é que você vê a prisão desses oficiais generais e o que você acha que seu avô diria vendo isso?
Paulo Figueiredo - Em primeiro lugar, eu discordo da premissa. Meu avô não foi presidente durante a ditadura militar no Brasil. Meu avô foi presidente durante o regime militar no Brasil. Se teve algo que meu avô fez logo desde o início da sua presidência, foi dar, justamente, aos perseguidos políticos, de ambos os lados, uma anistia ampla, geral e irrestrita. Ele, inclusive, se tornou presidente depois de o AI5 (Ato Institucional nº5) ter sido revogado pelo governo Geisel. Havia um governo com imprensa livre, um Congresso eleito que promoveu eleição direta no país inteiro para governadores, inclusive com enorme vitória da oposição. O STF operava de forma livremente debaixo da lei. A imprensa era livre. Não havia jornalistas perseguidos com passaporte cancelado, exilados...
[Nota da redação: o AI5 foi instituído em 1968 pela ditadura militar e foi considerado um dos atos mais severos daquele regime pois autorizou medidas de exceção como o fechamento do Congresso, cassação de mandatos parlamentares, intervenções do governo federal nos Estados, prisões até então consideradas ilegais e suspensão dos direitos políticos dos cidadãos sem necessidade de justificativa]

Crédito, Alan Santos/PR/Agência Brasil
BBC News Brasil - Eu preciso lhe interromper porque não é a instituição do AI5 que determina se o que ocorreu no Brasil foi uma ditadura ou não. No período em que seu avô foi presidente do Brasil, não havia eleições livres para presidente, havia censura à imprensa. Havia censores dentro das redações...
Paulo Figueiredo – Quantos jornalistas estão exilados no governo do meu avô?
BBC News Brasil - Eu não saberia dizer...
Paulo Figueiredo - Havia zero jornalistas exilados no governo do meu avô (...) Quantos jornais foram fechados durante o governo do meu avô?
BBC News Brasil - Mas o senhor nega que havia censores dentro das redações no período em que seu avô era presidente?
Paulo Figueiredo - Muito menos do que qualquer coisa que haja hoje em dia.
BBC News Brasil – Mas havia.
Paulo Figueiredo - Muito menos do que qualquer coisa que o que há hoje em dia. Eu vou responder à sua pergunta da seguinte forma: a imprensa era muito mais livre no governo Figueiredo do que é no regime de Alexandre de Moraes.
BBC News Brasil - Mesmo com existência de censores dentro das gerações?
Paulo Figueiredo - Nada que se compare aos milhares de perfis no X e nas outras redes sociais que foram derrubados.
BBC News Brasil – E o que o senhor acha que seu avô diria vendo a prisão de colegas de farda?
Paulo Figueiredo – Não sei responder. Tenho certeza de que teria muita tristeza de ver que o país que ele deu o sangue dele para devolver ao controle dos civis se tornou um país onde os grandes militares patriotas são enviados para a prisão, enquanto os criminosos condenados corruptos têm o controle.
BBC News Brasil - Nos últimos anos, a gente observou a fuga da deputada federal Carla Zambelli, do deputado federal Alexandre Ramagem. Eduardo Bolsonaro vive hoje no que classificou como autoexílio. Por que essas pessoas estão fugindo em vez de enfrentar o processo aqui no Brasil?
Paulo Figueiredo - Porque não há processo no Brasil. O processo no Brasil é uma farsa. Tanto que, em geral, com exceção do caso da deputada Carla Zambelli, toda vez que o Alexandre (de Moraes) se depara com a legislação internacional, ele tem as suas decisões tratadas como políticas e ilegais (...) as pessoas, para fugirem da ditadura que se tornou o Brasil, não podem sofrer um martírio. Não podem se submeter a um regime que elas consideram tirânico, porque isso seria burrice. É muita inocência. O próprio presidente Bolsonaro não deveria ter retornado ao Brasil.
BBC News Brasil - Na sua opinião, o presidente Bolsonaro deveria ter fugido?
Paulo Figueiredo - Ele não deveria ter retornado ao Brasil. Deveria ter ficado nos Estados Unidos. Isso foi, obviamente, um ato de pouquíssima inteligência.
BBC News Brasil - Mas que tipo de líder seria ele ao fazer isso?
Paulo Figueiredo – Charles de Gaulle está bom pra você? Não posso pegar aqui na história tantos líderes que organizaram uma resistência de fora do país. Eu acabei de pegar o exemplo do general (De Gaulle) porque eu acho que é difícil até para a esquerda chamar De Gaulle de covarde.
[Nota da redação: Charles de Gaulle foi um general do Exército francês que liderou, do exílio, a resistência francesa à ocupação da Alemanha nazista ao seu país. Mais tarde, presidiu a França em duas ocasiões]

German (DE)
English (US)
Spanish (ES)
French (FR)
Hindi (IN)
Italian (IT)
Portuguese (BR)
Russian (RU)
2 horas atrás
1





:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/l/g/UvNZinRh2puy1SCdeg8w/cb1b14f2-970b-4f5c-a175-75a6c34ef729.jpg)










Comentários
Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro