O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) adotou como prática na pré-campanha à Prefeitura de São Paulo fugir de embates diretos com adversários que têm feito críticas a ele, como Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB), em uma estratégia que embute cálculos eleitorais.
Com o apoio do presidente Lula (PT) e a liderança nas pesquisas, Boulos tem sido aconselhado a evitar bater boca com adversários e se posicionar sobre questões controversas sem cair em provocações.
A ofensiva sobre ele se ampliou nas últimas semanas, primeiro com a greve contra as privatizações em São Paulo, que teve apoio do PSOL e abriu um flanco para ataques ao filiado, e depois com a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, tema que abriu uma crise na candidatura.
Os dois episódios foram um prato cheio para Nunes, que busca a reeleição e o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O prefeito subiu o tom contra o psolista e se aproximou da retórica bolsonarista ao, por exemplo, dizer em entrevista à rádio Eldorado que Boulos "é amigo da turma do Hamas".
O deputado esboçou uma reação discreta durante a greve de transportes que parou a capital paulista no início de outubro. Ele concordou com a mobilização contra as privatizações propostas pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas foi econômico na resposta a alfinetadas do emedebista.
O prefeito aproveitou que a presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Camila Lisboa, é filiada ao PSOL para falar em "partido do caos" e especular que a cidade mergulhará em desordem caso Boulos se eleja. A tática é reforçar os rótulos de invasor, radical e extremista, que o psolista tenta desconstruir.
As estocadas de Nunes foram dadas em redes sociais e entrevistas ao longo do dia de transtornos pela interrupção em linhas de metrô e trem. O deputado optou por emitir uma nota lamentando "ver um prefeito que abandonou a cidade querer fazer disso (a paralisação) palanque eleitoral".
Dias depois, quando eclodiu a guerra no Oriente Médio, opositores de Boulos se uniram em uma campanha negativa, relembrando seu apoio à causa palestina na intenção de associá-lo ao Hamas. Os principais ataques vieram de figuras influentes do bolsonarismo e do MBL (Movimento Brasil Livre).
Contribuiu para a estratégia das forças de direita o fato de Boulos não ter citado o Hamas em seu primeiro posicionamento sobre o conflito. A ausência levou à saída do ex-secretário estadual de Saúde Jean Gorinchteyn da equipe que prepara o plano de governo da candidatura do PSOL.
Gorinchteyn, que é judeu e apoiador do Estado de Israel, disse que deixaria a função argumentando que o psolista encampava uma postura pró-Palestina sem condenar o grupo extremista islâmico.
Ao mesmo tempo, passaram a circular peças de desinformação. A principal delas foi a afirmação mentirosa de que as pessoas com Boulos em uma foto tirada em 2018 durante visita à Cisjordânia seriam terroristas do Hamas —na verdade, eram outros dois integrantes do PSOL.
Levantamentos indicaram aumento da divulgação de conteúdos e de fake news sobre o pré-candidato em redes sociais e grupos de mensagens. Há indícios de uso de robôs e de orquestração de ataques.
Pressionado, Boulos foi ao plenário da Câmara dos Deputados fazer um discurso em que finalmente citou o Hamas, mas sem qualificar o grupo responsável pelos atentados em Israel. Foi uma tentativa de contornar a repercussão da fala anterior, considerada ambígua por assessores.
O parlamentar decidiu, no entanto, não rebater diretamente seus detratores no tema, incluindo Nunes.
A postura foi a mesma quando Tabata, em entrevista à Folha em setembro, anunciou ser pré-candidata por não se sentir representada nem pelo projeto do atual prefeito nem pelo do colega de Câmara. A deputada afirmou ainda que o maior problema de Boulos "é a falta de seriedade e maturidade".
O pré-candidato deu outra sinalização de que busca uma relação amistosa com Tabata, ao menos por ora, depois que ela relatou estar sofrendo ameaças à sua segurança por ter entrado na disputa municipal.
No X (antigo Twitter) e no Instagram, o perfil de Boulos comentou na mensagem da pessebista: "Toda solidariedade, Tabata! A violência política não vai prevalecer". Não houve resposta pública da adversária.
Auxiliares, nos bastidores, dão diferentes justificativas para o comportamento defensivo nesta fase.
No caso de Nunes, a avaliação no entorno de Boulos é que o rival tem explorado as controvérsias em busca de visibilidade, o que será potencializado em caso de resposta, e tenta desviar o foco de questões municipais e problemas de sua gestão, que têm sido apontados pelo psolista.
O entendimento é o de que entrar no debate com ele sobre o Hamas, por exemplo, seria fomentar uma discussão que só interessa ao prefeito e se distanciar de temas realmente importantes para a campanha. Boulos tem dito que quer discutir a cidade.
Existe ainda a percepção de que é descabido o líder nas pesquisas comprar briga com quem está atrás. No Datafolha, em agosto, Boulos marcou 32%, seguido por Nunes, com 24%, e Tabata, com 11%. Ela ficou tecnicamente empatada com Kim Kataguiri (União Brasil), que teve 8%.
Boulos tem preferido contestar Nunes em pronunciamentos e nas redes sociais, mas evitando dar protagonismo ao prefeito e mantendo a linha de vinculá-lo a Bolsonaro. Num vídeo recente, ele disse que o emedebista "parece não ter disposição de fazer o debate num bom nível".
Em relação a Tabata, faz-se a leitura de que é ruim queimar pontes com uma concorrente que pode se tornar aliada. Nas projeções do PSOL e do PT, Boulos chegará ao segundo turno contra Nunes e deverá buscar o apoio da pessebista. Daí a necessidade de dosar a rivalidade.
Outro fator levado em conta para poupar a deputada é o de que ela "rouba" parte dos votos que seriam destinados a Nunes, o que segura uma disparada do prefeito. A equipe de Tabata faz a mesma interpretação, mas considera que ela também atrai eleitores de esquerda.
A pré-campanha de Boulos tem como coordenadores seu chefe de gabinete, Josué Rocha, ex-coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), e Laércio Ribeiro, presidente do PT na cidade de São Paulo. O marqueteiro Lula Guimarães trabalha com a cúpula nas decisões sobre comunicação.
A equipe diz que a estratégia será ajustada conforme a evolução da disputa, o que significa que o deputado poderá devolver ataques à medida que a briga se acirrar. Já se admite que essa mudança será inevitável, mas idealmente ocorrerá mais perto da eleição.

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