CEO da TAG Livros: 'Hoje vejo o perigo que é ter muita grana em caixa'

A nova política da Apple impactou a forma como as redes sociais vendiam anúncios captando cookies (dados sobre o comportamento digital dos usuários), o que mudou a capacidade das ferramentas de entregarem publicidade digital de acordo com o perfil do público-alvo. Ou seja, a estratégia de marketing digital da TAG deixou de funcionar. O investimento que deveria durar dois anos acabou em um, forçando a empresa a antecipar recebíveis e buscar crédito. "A gente estava começando a se endividar pela primeira vez na vida", explica Lembert .

O aprendizado veio com a necessidade de cortar projetos e reavaliar prioridades. O CEO detalha o esforço para enxugar operações e abandonar iniciativas distantes dos resultados esperados, mesmo com equipes envolvidas e expectativas altas.

Um trabalho muito forte que fizemos em 2022 e 2023, que foi quando fizemos um turnaround, encerrando projetos que não estavam dando certo, o que também é muito difícil de fazer. Tem muita gente empenhada naquilo, e a gente segue acreditando muitas vezes que aquelas coisas podem dar certo, mas tem que saber tirar da tomada na hora certa. Gustavo Lembert

No fim das contas, Lambert diz que agora prefere pensar em crescimento sustentável, mirando longe, em vez de depender de rodadas e aceleração a qualquer preço. "Eu penso muito mais como é que a TAG vai durar 50 anos crescendo com as próprias pernas do que querer talvez acelerar demais e sempre via captação".

A TAG Livros consolidou seu nome entre os clubes de assinatura de livros no Brasil apostando em curadoria, engajamento e uma comunidade ativa para fidelizar clientes. Mais de 80% dos assinantes aderem ao plano anual. Em um balanço entre os erros e acertos após uma rodada de investimentos, o CEO da empresa, Gustavo Lembert, acredita que o negócio não tem o perfil de uma startup.

Eu acho que a gente não pode querer ter a mesma jornada que uma fintech. Eu não posso querer me inspirar no case do Nubank. Por mais que eu achei muito [incrível] o case do Nubank, eu tenho que entender que não é o mesmo patamar que eu posso querer buscar.GustavoLembert

Nos primeiros anos da TAG, o crescimento acompanhou um comportamento de rigor financeiro dos três primeiros sócios, à época, recém-formados no curso de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "A gente era muito jovem, e isso permitia que a gente tivesse poucos custos. [...] Tudo que gerava, a gente investia". Os sócios entendiam que fortalecer a estrutura era mais estratégico do que valorizar a lucratividade.

Ao contrário das startups que apostam na captação de caixa em grandes fundos para crescerem exponencialmente, a TAG entendeu que sua capacidade de expansão é diferente desse tipo de negócio.

Um aporte de 7 milhões que acabou antes do tempo esperado trouxe esse aprendizado para empresa, que precisou de um novo investimento para retomar a saúde da empresa. "A gente tava vendendo o almoço pra pagar o jantar, sabe? Não tínhamos capacidade de realmente investir pra coisa voltar a ser um bom negócio", explica o CEO da TAG. A empresa encarou um layoff (demissão em massa) para arrumar as contas e sobreviveu com resultados mês a mês até chegar ao novo investimento que levou a empresa ao equilíbrio.

Em 2025, recuperado das dificuldades financeiras, o clube busca longevidade, crescendo com recursos próprios, mas aberto a captações pontuais para apostar em projetos específicos, conscientes de qual modelo de negócio funciona para o mercado em que a empresa está.

Eu ainda quero que a TAG siga crescendo e eu acredito que a gente pode sim formar muito mais leitores, a gente pode impactar muito o Brasil expandindo o número de leitores em várias gerações [...] mas eu não acho que a TAG tem que ficar mirando a jornada de cases de...startups que captam não sei quantas vezes, Série C, Série D, Série E. Gustavo Lembert