Choveu e não tirou os eletrônicos da tomada? Saiba o que fazer agora

Calma, não está tudo perdido. Abaixo, veja o índice com dicas do que fazer após esquecer os eletrônicos na tomada durante uma tempestade:

A primeira e mais importante ação após a normalização da energia não é ligar os aparelhos, mas sim esperar. A rede elétrica não estabiliza imediatamente. Tempestades frequentemente causam danos físicos à infraestrutura, como queda de árvores sobre os cabos e postes derrubados. O processo de reparo executado pelas concessionárias é complexo e, por si só, uma fonte de instabilidade. As manobras de "chaveamento" feitas para restaurar o fornecimento são uma causa conhecida de surtos elétricos, mesmo sem raios.

Quando a energia retorna a um bairro inteiro, ocorre um fenômeno conhecido como "surto de restauração". Milhares de aparelhos, como geladeiras e ares-condicionados, tentam consumir energia ao mesmo tempo. Essa demanda massiva e súbita pode causar uma queda de tensão inicial, seguida por uma sobretensão de compensação, criando novos picos perigosos para os circuitos eletrônicos. A prática mais segura é clara: mesmo que as luzes se acendam, aguarde pelo menos de 10 a 15 minutos antes de reconectar qualquer aparelho na tomada - ou tentar ligar os que estão conectados.

Esse intervalo de paciência permite que a concessionária estabilize a rede e que os picos mais agudos se dissipem. É a primeira e mais eficaz linha de defesa. É importante notar que os danos de um surto podem ser imediatos ou cumulativos. Um aparelho pode ligar, funcionar normalmente e dar uma falsa sensação de segurança. No entanto, a instabilidade pode gerar micro-surtos, que degradam os componentes aos poucos. Tudo isso encurta a vida útil do equipamento, que pode falhar semanas depois. A espera não visa apenas evitar a queima imediata, mas proteger o investimento a longo prazo.

Antes de ligar qualquer aparelho, a segurança vem em primeiro lugar. Sendo assim, realize uma inspeção visual detalhada. O primeiro local a ser verificado é a própria tomada na parede. Procure por marcas de fuligem, manchas escuras ao redor dos orifícios, ou qualquer sinal de que o plástico esteja derretido ou deformado. Qualquer um desses indícios sugere que a tomada sofreu um arco elétrico e não deve ser utilizada.

Em seguida, inspecione o cabo e o plugue do aparelho. Verifique todo o comprimento do cabo de energia. Procure por descoloração, plástico derretido nos pinos metálicos, ou se o cabo parece chamuscado ou com o isolamento danificado em algum ponto. Se a energia foi intensa o suficiente para derreter o plástico da tomada, é provável que a fiação interna da parede também tenha sido comprometida. Nesses casos, desligue o disjuntor correspondente e chame um eletricista.

Seu olfato é uma ferramenta de diagnóstico poderosa. Aproxime o nariz das grades de ventilação do equipamento. O cheiro característico de "eletrônico queimado" (plástico derretido) ou um odor metálico (ozônio) é um sinal definitivo para não voltar a ligar o aparelho. Se encontrar qualquer um desses danos visuais ou olfativos, fotografe-os imediatamente. Essa documentação servirá como prova crucial ao acionar o seguro ou a companhia elétrica.

Se a inspeção visual e olfativa não revelou danos, siga para o teste funcional. A abordagem correta é metódica. Não ligue tudo de uma vez. Comece por um aparelho de baixo valor, como um abajur, para confirmar que a tomada está segura. Em seguida, religue seus aparelhos mais importantes, um de cada vez, dando um intervalo de alguns minutos entre eles.

Um surto elétrico pode não "matar" um aparelho por completo, mas deixá-lo "ferido". Fique atento a uma lista de anormalidades e falhas sutis que podem indicar danos internos. Em TVs e monitores, procure por cores distorcidas, linhas na tela ou portas HDMI que deixaram de funcionar. Em computadores, observe dificuldade para iniciar, lentidão extrema, reinicializações aleatórias ou portas USB mortas.

Em geladeiras, o motor pode estar funcionando, mas o aparelho não gela adequadamente, ou o painel digital pode piscar. Em modems e roteadores, luzes de status piscando em vermelho ou laranja são um mau sinal. É importante reforçar o conceito de dano latente. Um aparelho que sobrevive a um surto pode ter sofrido danos microscópicos. Esse estresse elétrico pode levar a uma falha prematura semanas ou meses depois, tornando difícil associar o problema à tempestade.

Depois de ligar um aparelho, seus sentidos continuam sendo o melhor sistema de alerta precoce. Um equipamento danificado por um surto pode se transformar de um bem material em um risco de segurança ativo. Ao primeiro sinal de cheiro ou ruído anormal, desligue o aparelho da tomada imediatamente. Não hesite nem espere para ver o que acontece. O cheiro de plástico queimado é o ponto de não retorno, indicando que componentes internos estão derretendo e há um risco ativo de incêndio.

É crucial saber decodificar os sons do perigo, pois eles fornecem pistas sobre o que está acontecendo dentro do aparelho. Um zumbido alto e anormal (diferente do som de operação) pode indicar um problema em um transformador, que está sendo submetido a uma tensão incorreta. Estalos (popping) são extremamente perigosos, pois geralmente indicam um arco elétrico interno ou um curto-circuito. A eletricidade está literalmente "saltando" pelo ar entre dois pontos que não deveriam se tocar.

Um chiado (hissing) é similar ao estalo, mas contínuo, e também indica um arco elétrico, muitas vezes causado por uma conexão frouxa ou um componente rompido. O calor gerado por este arco é intenso e pode derreter o plástico e iniciar um incêndio rapidamente. É vital criar uma distinção clara entre um "aparelho morto" (que não liga) e um "aparelho perigoso" (que liga, mas emite esses sinais). O primeiro é uma perda financeira; o segundo é uma emergência de segurança em andamento.

Se um ou mais aparelhos foram danificados pela tempestade, existem caminhos legais para buscar compensação financeira. De acordo com a Resolução Normativa 1.000/2021 da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), a distribuidora de energia é responsável por ressarcir o consumidor por danos elétricos em equipamentos, independentemente de culpa. O consumidor tem até cinco anos para fazer a solicitação. O processo é o seguinte: ligue para a sua concessionária (o número está na conta de luz), registre um pedido de ressarcimento de danos e anote o número de protocolo.

A empresa tem um prazo para inspecionar o equipamento: 1 dia útil para aparelhos que armazenam alimentos (como geladeiras) e 10 dias corridos para os demais. Após a vistoria, ela tem 15 dias para informar se o pedido foi aceito. É crucial não consertar o aparelho antes da vistoria, a menos que a empresa autorize. Se o pedido for aceito, o pagamento ou o conserto deve ocorrer em 20 dias corridos.

Existem outras duas vias, mas é preciso ter consciência de que elas podem não se aplicar. A garantia do fabricante cobre defeitos de fabricação, não danos causados por agentes externos como raios. Já o seguro residencial é uma excelente opção, mas apenas se você contratou a cobertura adicional de "Danos Elétricos". Se você tem essa cobertura, contate sua seguradora com as notas fiscais, laudos e as fotos que você tirou. Em todos os casos, se a concessionária negar o ressarcimento indevidamente, o próximo passo é registrar uma reclamação na ANEEL ou procurar o Procon.

Assista no vídeo: qual o eletrodoméstico gasta mais energia em casa? Saiba calcular