3 dias atrás 3

Com efeito China e tarifaço, quais as melhores ações brasileiras na Bolsa?

A guerra comercial favorece o Brasil?

Entre os cinco produtos que o Brasil mais vendeu à China em 2024 estão: minério de ferro (US$ 27,1 bilhões), soja (US$ 26,2 bi), petróleo (US$ 12,8 bi), carne bovina (US$ 3,9 bi) e celulose (US$ 2,4 bi), segundo levantamento da Vixtra, empresa de soluções para importadores.

Leonardo Baltieri, cofundador da Vixtra, afirma que soja e carne seriam os mais beneficiados, já que são os principais produtos que os EUA exportam para a China. Com as tarifas encarecendo esses itens, o país asiático tende a buscar alternativas confiáveis e mais baratas, e o Brasil desponta entre os principais candidatos.

Ele lembra que esse movimento já ocorreu entre 2018 e 2020, quando, diante de disputa semelhante, a China redirecionou grande parte da compra de soja para o Brasil. "O Brasil pode negociar melhores termos comerciais, acordos estratégicos, melhores condições de pagamento e linhas de crédito", destaca Baltieri.

Segundo ele, os ganhos não se limitariam à trégua de 90 dias. "Mesmo que as tarifas sejam reduzidas, os dois países tentarão diminuir ao máximo a dependência mútua daqui para frente", avalia.

Já José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), é mais cético quanto às oportunidades no curto prazo. Para ele, ainda é cedo para o Brasil comemorar ou reclamar. Ele lembra que, apesar das suspensões recentes das importações de carne dos EUA à China, a demanda internacional segue incerta.

Continua após a publicidade

Na Bolsa, qual é o efeito China?

Oito empresas da Bolsa podem se beneficiar do estreitamento dos laços comerciais entre Brasil e China, com destaque para os setores de carne bovina, soja e celulose.

Minerva (BEEF3)

Maior exportadora de carne bovina da América Latina, a Minerva concentra mais de 20% das exportações na China, segundo Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research.

A ação acumula alta de 36,94% em 2025 até 11 de abril, com avanço de 5,93% mesmo após o tarifaço. Bueno vê perspectiva positiva com o aumento da demanda chinesa, embora a nova política tarifária possa reduzir as exportações aos EUA.

Continua após a publicidade

Entre os riscos, o analista cita o alto endividamento, reflexo da compra das operações da Marfrig em 2023, o que pressiona lucros e dividendos. "Não vejo a Minerva pagando dividendos em 2025. A expectativa é retomar em 2026, com dívida mais ajustada", afirma. A empresa costuma distribuir 50% do lucro quando a alavancagem fica abaixo de 2,5 vezes dívida líquida/Ebitda — atualmente em 5,04 vezes.

Para o médio prazo, Bueno projeta valorização acima de 50%, podendo superar R$ 10 por ação. No curto prazo, os ganhos tendem a ser limitados. O preço máximo de compra recomendado para 2025 é R$ 10, mas pode ser revisto.

JBS (JBSS3)

Segundo Gabriel Boente, analista e diretor de operações da Space Farm, a JBS tem o maior número de frigoríficos habilitados para exportar à China, além de forte presença nos EUA, o que reforça sua competitividade.

"Se observarmos o consumo de carne bovina per capita, a China está abaixo da média dos BRICS (bloco de 11 países emergentes) e da média global", destaca Boente. Diante da guerra comercial, ele vê potencial para aumento das vendas da JBS tanto para a China quanto para o Oriente Médio.

A arroba da carne tem subido em abril, com expectativa de maior demanda chinesa. Para Boente, a JBSS3 tende a se valorizar, embora não seja forte pagadora de dividendos. Ele ainda aponta como fator de alta a possível listagem da empresa nos EUA ainda neste ano.

Continua após a publicidade

SLC Agrícola (SLCE3)

A China reforçou seus estoques de soja com compras de 2,4 milhões de toneladas, cerca de um terço do que costuma processar por mês, em resposta às tarifas de Trump.

Regis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, diz que a SLC deve se beneficiar com o aumento da demanda chinesa e a valorização do dólar, que melhora os ganhos por tonelada exportada. A empresa cultiva soja, milho e algodão, além de atuar com gado, o que ajuda a mitigar riscos.

Segundo Chinchila, a companhia adota proteção cambial e costuma antecipar operações para reduzir exposição à volatilidade. "Para 2025, a valorização cambial e as tensões comerciais entre EUA e China podem favorecer os grãos brasileiros", afirma.

Ele projeta alta nas ações até R$ 26, com preço de entrada recomendado até R$ 22. A estimativa de crescimento composto da receita anual é de 23%, com dividend yield (retorno em dividendos) de 4,5%. A empresa costuma distribuir 50% do lucro em proventos.

O maior risco seria uma reaproximação entre China e EUA, reduzindo a demanda por soja brasileira. Condições climáticas adversas também podem afetar a produtividade.

Continua após a publicidade

Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, alerta para o excesso de soja dos EUA que pode ser redirecionado a outros mercados, pressionando preços. Apesar de dividendos limitados a 4% no curto prazo, ele projeta valorização de até 40% nas ações, podendo chegar a R$ 30.

Segundo o BB Investimentos, a substituição dos EUA pelos produtores brasileiros pode elevar em 37% os embarques de soja à China, com 67% da produção local destinada ao país asiático, ante 49% em 2024. "As tensões comerciais já começaram a refletir positivamente no cenário brasileiro, com prêmios nos portos se mantendo em patamares elevados mesmo durante a colheita", aponta a instituição.

Celulose

A celulose é uma das commodities mais resilientes à guerra comercial, funcionando também como proteção de carteira. Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, destaca que a demanda se mantém estável tanto para a China quanto para os EUA.

"A Suzano exporta para a América do Norte e uma tarifa de 10% não vai reduzir isso", afirma. A empresa está bem posicionada na China, com vendas de celulose de fibra curta, usada para fabricar papel higiênico e A4. Também se beneficia da demanda de papeleiras não integradas, que compram celulose para produzir papel.

A baixa produção da chinesa Chenming favorece as exportações. Arbetman destaca que a Suzano conseguiu repassar preços de janeiro a abril. "É um setor que, apesar das incertezas, segue a vida."

Continua após a publicidade

Marco Saravalle, analista da MSX Invest, reforça que a demanda por celulose independe do PIB (Produto Interno Bruto) da China, pois o consumo de papel é constante, principalmente em produtos de higiene. "É um crescimento previsível, ligado à urbanização e ao aumento das cidades", diz.

Ele prevê alta nos preços da celulose: US$ 20 por tonelada na China e US$ 60 na Europa. Estoques baixos devem sustentar a recuperação no curto prazo.

A Klabin (KLBN11), voltada a papelão e embalagens, está mais exposta ao crescimento econômico e ao consumo chinês. Ambos os papéis são vistos como boas opções de valorização, mas a Klabin tende a pagar dividendos mais elevados.

Mineração

O cenário para a Vale (VALE3) é neutro: o minério de ferro se recupera, mas há incertezas. Segundo Bueno, da Nord, o crescimento nas vendas para a China pode ser compensado por preços menores da commodity. Para manter dividendos robustos, o minério precisa ficar acima de US$ 100 por tonelada.

João Ascoli, sócio da Sphera Wealth, diz que o consumo interno da China segue fraco, mas os estímulos econômicos ajudam a manter os preços do minério. Ainda assim, isso não traria grandes benefícios à Vale. "Ela não é uma grande beneficiada, mas faz parte da cadeia de suprimentos, porque exporta para China."

Continua após a publicidade

A valorização e os dividendos da VALE3 ainda são positivos em 2025. Já a CSN Mineração (CMIN3), com contratos negociados com antecedência, não deve sentir impacto imediato. Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, diz que a empresa é resiliente, segurando vendas e aumentando estoques quando os preços do minério caem. Ele projeta dividend yield de 9,68% para 2025.

Petrobras (PETR4)

Também exposta à China, a Petrobras é vista como resiliente à volatilidade, com expectativa de dividend yield de 13,06% em 2025. Segundo o Investidor10, 12% da receita da estatal em 2024 veio do país asiático.

O petróleo brent caiu desde o tarifaço de Trump e o aumento da produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+), sendo negociado abaixo de US$ 65. Se esse nível persistir, a Petrobras deve manter dividendos ordinários, mas não extraordinários neste ano.

Para Oliveira, oscilações no petróleo fazem parte do "custo emocional e financeiro" de investir na Petrobras. "Esta situação é extremamente efêmera e instável, mas nada relevante para o negócio", afirma. Do lado do investimento, vê uma possível oportunidade de entrada para quem gosta do setor.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Leia o artigo inteiro

Do Twitter

Comentários

Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro