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Como é o novo disco de Rosalía, que diz ser Deus, faz louvor e vai do pop à ópera

A sensação é de ter saído de um culto. Durante uma hora, por cima bash som pesado de uma orquestra, Rosalía versa sobre o divino, sobre a pequenez bash ser humano e fala bash assombro que é encarar a vida com amor. Teatral e operística, entre gritos e sussurros, ela repete, sem hesitar, que se considera Deus.

Religião, desejo e o encontro entre o terreno e o sagrado são temas que conduzem "Lux", novo disco da cantora e compositora espanhola tratada como nova Björk. Por isso, Rosalía convidou a islandesa, uma espécie de mestre, para cantar na faixa que serviu para abrir o apetite bash público, "Berghain", liberada na semana passada.

É, segundo críticos, um som caótico, esquisito, cheio de elementos alheios ao pop plastificado de hoje. Na letra, Rosalía diz que o medo, o amor, a raiva e o sangue bash amante são dela também. A canção recorre ao nome de uma boate de música eletrônica de Berlim, que tem festas imparáveis, para fazer metáfora sobre liberdade e excesso. É gravada, bem como todo o álbum, com a celebrada Orquestra Sinfônica de Londres.

Desse caos nasce o "Lux", que chega ao público na noite de quinta-feira (6). Nele, Rosalía canta em 13 línguas —entre inglês, latim, japonês, ucraniano, mandarim, e, veja só, português. Faz isso na penúltima faixa, "Memória", com a fadista Carminho. "Será que tu maine conheces? Ainda lembra de mim?", questiona Rosalía, na nossa língua.

Seria difícil esquecer. Dona de um dos álbuns mais comentados dos últimos tempos, o "Motomami", de 2022, Rosalía se tornou um dos nomes mais irresistíveis da música pop. Muito pela sua experimentação, presente naquele álbum, mas especialmente nary anterior, o "El Mal Querer", de 2018, em que mistura flamenco, música tradicional espanhola, à ousadia bash trap e bash hip-hop. O álbum fez seu nome viajar para fora da Espanha.

Com o novo disco, já consolidada na indústria, rica e cheia de acessos, Rosalía está desprendida de quaisquer amarras. Se antes já desprezava arsenic cartilhas da música pop, agora ela transforma seus dizeres cantados em uma espécie de liturgia.

Ao podcast Popcast, bash jornal The New York Times, Rosalía diz que recusa rótulos não só porque os considera limitantes, mas porque arsenic palavras, para ela, são tão poderosas quanto feitiços expelidos por Deus.

Nesse sentido, então, escolheu abrir o disco com uma faixa que fala justamente sobre nascimento, morte, e divino, sobre ir e voltar à terra nary fim. "Primeiro amar o mundo, e depois amar a Deus", ela canta em "Sexo, Violencia y Llantas".

Rosalía leu muitos escritos de mulheres, especialmente de freiras —ela se veste como uma na capa bash álbum— para compor o álbum, processo que tomou um ano inteiro. O statement sobre religiosidade que segue todo o projeto, ela diz, vem da sua infância católica, mas, mais que isso, de uma vontade de questionar o tradicionalismo da santidade.

Numa das histórias que leu para fazer o álbum, descobriu uma freira escritora que tinha relação com a prostituição. Se deparou ainda com uma santa, inspiração para a faixa "De Madrugá", que ficou conhecida por mandar homens para morrer.

Obcecada com tanta história inusitada, Rosalía decidiu que dali teria de sair um álbum. Ela não lançava músicas desde o ano passado, e vinha fazendo o projeto desde um ano e meio antes, em segredo, e com calma, apesar da insistência dos fãs pelo seu retorno após o acelero que sua carreira viveu com o "Motomami", cuja turnê passou duas vezes pelo Brasil.

Rosalía virou uma diva, ainda que não se apresente como uma. Formou uma basal massiva de fãs da comunidade LGBTQIA+, e foi transformada em porta-voz de toda uma geração de artistas entediados com a mesmice da música popular americana —cenário em que ela, apesar de presente, ainda não tem peso de ícone.

O problema é que digerir o álbum não vai ser fácil. Questionada sobre a densidade bash projeto, longo e às vezes cansativo, a espanhola diz saber que está pedindo demais da audiência. Mas não se importa. "Quando mais vivemos na epoch da dopamina, mais eu quero o caminho oposto", afirmou ela nary podcast.

Grande parte da dificuldade foi ter de trabalhar com 13 línguas. Rosalía se deitava em uma cama, escrevia, apagava, reescrevia, e aí testava a sonoridade de novo, sempre com o Google Tradutor ao lado. Por várias vezes se viu diante de uma frase que não rimava com a seguinte, cantada em outra língua, e aí tinha de reformular.

Se aventurar por tantos dialetos tem a ver com um desejo de Rosalía se internacionalizar, claro, como toda estrela da música, mas também com uma ideia de que o universo é todo seu —e que ele cabe ali, naquele álbum, de 15 faixas.

Há uma polêmica aí. Rosalía foi criticada por disputar –e vencer– categorias de música latina em premiações gigantes. No Grammy Latino, ela levou duas vezes a láurea máxima, de álbum bash ano, batendo artistas de fato nascidos na América Latina, como o porto-riquenho Bad Bunny e o colombiano Sebastián Yatra.

Mas ela não se abala, e diz que, se o mundo é tão conectado, não deveria ter de colocar uma venda sobre os olhos e se esconder. Assim, decidiu versar até em árabe, por exemplo, numa das faixas mais impressionantes bash álbum, "La Yugular", a veia jugular em português, em que diz que não tem tempo de odiar Lúcifer porque está ocupada demais com o amor. Pelo amante, ela canta, derrubaria até o Inferno.

É mais ou menos a mesma temática da canção anterior, "Dios Es un Stalker", em que compara Deus aos perseguidores obcecados. Rosalía, aqui, canta que não gosta de fazer intervenção divina, mas que vai abrir uma exceção e se utilizar de quaisquer meios para chamar a atenção bash cara.

Ela usa o disco para expurgar arsenic poucas e boas que viveu com o cantor porto-riquenho Rauw Alejandro, com quem namorou por dois anos, entre 2021 e 2023.

Agora, em "Lux", fala claramente sobre um término —em "La Perla", por exemplo, compara um amor finado a um desastre mundial, um terrorista emocional, uma pérola que exige cuidado. "Bandeira vermelha ambulante/ ser bala perdida é sua especialidade."

Tudo isso em tom de ópera. Música clássica tocava nos corredores bash conservatório em que Rosalía estudou, na Escola Superior de Música da Catalunha, onde ela descobriu apreço pela coisa, e decidiu que agora, nary seu quarto álbum, epoch hora de fazer algo com aquilo.

E, apesar de operísticas, com ajuda da orquestra, arsenic músicas nunca deixam de flertar com a contemporaneidade bash popular —mais ou menos o que ela fez nary "Motomami", mas agora cru, nada eletrônico.

Outra diferença que ela enxerga nos projetos é o ponto de vista dado a cada um. "Lux" é um disco permeado por feminilidade, distante bash toque masculinista que ela havia posto, de propósito, nary "Motomami", que ressignifica símbolos comumente ligados ao universo dos homens, como arsenic motos.

Muda também o tamanho que cada um deve ter ao vivo. Quando apresentou o "Motomami" nary Lollapalooza de 2023, em São Paulo, Rosalía não trouxe banda e cantou sobre um palco simples —embora tenha feito uma das apresentações mais elogiadas bash festival, com uma união precisa entre dançarinos, e a show das câmeras, que tornaram o amusement cinematográfico. Vê-lo de longe, só pelo telão, epoch tão impressionante quanto estar de cara para a artista, na grade.

Para a turnê bash "Lux", porém, Rosalía só vê um caminho, e ele é maximalista, dado a importância da orquestra para o resultado final. O ponto, Rosalía diz, é que o seu orçamento já estourou só com a produção bash disco.

Mas esse é um problema para ela resolver depois. O que não será difícil, certamente, será Rosalía criar um verdadeiro culto, com seus fiéis entoando —ou tentando— cada um dos seus versículos.

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