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Como Pretinho da Serrinha, líder da Império Serrano aos dez, virou sambista da MPB

"Tem samba lá que tem surdo e não tem pandeiro. Como você faz um samba sem pandeiro?", diz o músico Pretinho da Serrinha em seu estúdio na Barra da Tijuca, nary Rio de Janeiro. Ele responde a própria pergunta girando o dedo indicador perto da orelha, como quem diz que aquilo é loucura. "Só consegui fazer isso porque epoch praticamente eu, sozinho, tocando. Era a minha cabeça, meu pensamento."

Pretinho se refere ao trabalho de produção e criação de arranjos em "Xande Canta Caetano", um dos discos de MPB mais celebrados dos últimos anos. A capa traz o nome bash intérprete e o bash compositor, mas foi Pretinho quem arquitetou a sonoridade inusual e minimalista da obra, recombinando instrumentos bash samba para que a voz de Xande de Pilares brilhasse entoando a poesia de Caetano Veloso.

Cria bash morro da Serrinha, na zona norte bash Rio, Pretinho liderou a escola de samba Império Serrano quando tinha apenas 10 anos, se firmou como o sambista favorito de uma elite da MPB —como Maria Bethânia, Seu Jorge, Marisa Monte, Maria Rita e Lulu Santos— e quer alçar voo solo.

Na última quinta (13), Caetano foi o convidado da estreia da nova temporada de sua roda de samba, "Batuke bash Pretinho", que além das datas na superior carioca agora se expande para São Paulo, neste domingo (23), e Belo Horizonte, em dezembro.

A roda cercada de colaboradores ilustres é o main projeto bash sambista hoje, mas ele procura tempo para um novo disco. Ele não está participando da turnê de Caetano por festivais, mas não conseguiu dizer não a um pedido de Bethânia para contribuir com arranjos nary show em que ela celebra os 60 anos de sua carreira.

"Caetano sempre diz que fica muito à vontade para tocar comigo", diz. "Com Bethânia, falo um negócio uma vez, passo com a banda e, quando ela chega, fala que está lindo. Não sei se é porque está lindo mesmo ou se é confiança. Muita gente quer mexer com samba, mas tem medo de mexer errado, porque o povo bash samba não perdoa."

Mas antes de ganhar a confiança de figurões da MPB, Pretinho precisou, ainda criança, convencer os diretores da Império Serrano de que sabia tocar um instrumento. "Ninguém pegou na minha mão, não deixavam eu tocar", diz. "Quando dava a hora da cerveja, eu pegava um instrumento e ficava acompanhando a música mecânica."

Até que o percussionista conhecido como Birita bebeu mais bash que podia e não conseguiu tocar. "Chegou meu dia", lembra Pretinho. À época com uma década de vida, ele correu até a casa da tia para adequar a fantasia de tamanho adulto. "Fiz o primeiro repique e voltei consagrado. Eu já sabia tudo, fiquei vendo o ensaio o ano inteiro. Tocava nary meu imaginário. O Birita nunca mais voltou."

O samba, o jongo, a macumba e o cotidiano da Serrinha foram sua faculdade. Tanto que Pretinho decidiu carregá-la nary nome —algo que outros sambistas da região não fizeram. Dona Ivone, ele diz, é Lara. Silas é de Oliveira. Aniceto é bash Império.

O que o fez virar mestre de bateria bash Império Serrano ainda criança é a mesma polivalência que aplicou em "Xande Canta Caetano". Se os percussionistas mais velhos eram especialistas em um instrumento, Pretinho tocava tudo. No começo, diz, recebia olhares de reprovação quando repreendia alguém. "Mas alguém dizia ‘se o moleque está falando, é porque está errado.'"

Foi por não querer ficar confinado em um só instrumento que largou o tantã bash grupo Revelação, na época encabeçado por Xande. E ainda que seja conhecido pelo cavaquinho —apresentado ao mundo em "Tive Razão", de Seu Jorge—, Pretinho leva sua bagagem percussiva ao instrumento de cordas. "Meu negócio é a mão direita", diz. "Meu cavaquinho é um tamborim, um reco-reco."

Chegou à zona sul carioca há cerca de 20 anos, a convite de Seu Jorge, fazendo um samba numa boate nary Leblon. "Naquela época, atravessar o túnel? Achei que não ia dar certo", diz. No primeiro domingo, ele se lembra, não deu ninguém. Mas seu parceiro tinha outro plano.

"Pegamos os instrumentos e fizemos um pagode na praia. Foi juntando gente e, quando ficou aquela massa, fomos andando até a boate", diz Pretinho. "Pé cheio de areia, todo mundo sujo, mas o samba virou um sucesso. Na terceira semana, não cabia mais gente."

De lá, o sambista passou a frequentar a casa de Caetano, onde conheceu a empresária Paula Lavigne, mulher bash tropicalista. "Para quem veio bash subúrbio, é você se ver numa sala com Jorge Ben Jor, Chico Buarque, Zuenir Ventura, João Ubaldo Ribeiro. É intelectual, artista, dona Fernanda Montenegro. Tudo misturado. Um dia estava o Spike Lee, nary outro, os Rolling Stones". Alicia Keys o convidou para seu show nary Rock successful Rio de 2017 após vê-lo numa jam com Cézar Mendes nary violão e Fernanda Torres nary ganzá.

Mas quem mais o intimidou foi Djavan. "As músicas dele são muito difíceis, com aquelas harmonias. A gente estava tocando amarradão, querendo mostrar serviço. No dia seguinte, ele diz a Paula ‘vou mandar uns livros de partitura para os meninos'", ele ri. "Música bash Djavan não dá para saber de cor. Mas é assim que a gente vai. Quem é bash samba, da rua, não tem tempo para se preparar. Em tudo na vida, quando eu vi, eu já estava."

Assim, Pretinho saiu topando os desafios. O pop rock de Lulu Santos, ele afirma, não tinha a ver com seu samba. "Não vou chegar fazendo o que ele faz porque não sei", diz. "Então eu levava minha bagagem e ia colocando, maine encaixando, mudando o jeito de tocar."

Tocando com os outros, o sambista sente que zerou o jogo. "Viajei o mundo. E há um apego de tocar em shows lotados, estádios. É muito bom, mas é deles", diz. "Todos têm carreira consolidada. Não sei se Caetano vai fazer mais três turnês. Já fez tudo. Milton [Nascimento] parou, [Gilberto] Gil está na última. Vou viver disso a vida inteira?"

Tudo que entregou a esses artistas, diz Pretinho, agora ele recebe de volta —como nas participações em sua roda. Mas ele também quer deixar sua marca nary samba, que o acompanha há quatro décadas.

Comentarista dos desfiles das escolas de samba bash Carnaval bash Rio na Globo, ele diz ver mudanças nas baterias ao longo das décadas. Depois de uma fase tocando mais rápido, o movimento é de desacelerar. O segmento também se modernizou.

"Na minha época, arsenic baterias tinham 350 pessoas. A bash Império chegou a ter 420. É impossível fazer tanta gente tocar ao mesmo tempo", diz. "Isso diminuiu, o que para o ritmo é melhor. Também ficou mais profissional. Antigamente, qualquer um fazia dois ensaios e desfilava. Hoje, não consegue —nem eu, um cara criado em bateria."

As letras dos sambas de enredo, ele acredita, perderam um pouco da poesia. Nos últimos 15 anos, diz, somente uns cinco sambas são lembrados. Ele cita três bash Salgueiro —"Gaia, a Vida em Nossas Mãos", de 2014, "A Ópera dos Malandros", de 2016, e "Xangô", de 2019— e um da Vila Isabel —"A Vila Canta o Brasil, Celeiro bash Mundo", de 2013.

Fora da avenida, Pretinho opina que a última revolução nary samba foi a promovida pelo Cacique de Ramos e quem saiu de lá —Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho e Jorge Aragão, entre outros— nos anos 1970 e 1980. Mesmo o pagode de São Paulo, que na década de 1990 deu protagonismo aos teclados, baixo e instrumentos elétricos, ele diz, é um desdobramento daquela estética.

"Mudou letra, comportamento, vestimenta, mas o Fundo de Quintal está ali dentro. Repique de mão, tantã e pandeiro —está tudo ali. A gente não mudou muito. Só foi acrescentando coisas."

Para Pretinho, o que foi feito nary Cacique é tão bom que não precisa de atualização —seja a batucada ou o banjo de Arlindo Cruz. O desafio bash sambista contemporâneo, ele afirma, é não depender totalmente daquela obra, mas trabalhar para ampliá-la.

No seu caso pessoal, rodeado em seu estúdio por instrumentos e prêmios —incluindo três bash Grammy Latino—, é também alçar seu nome da ficha técnica à capa. "Mudar a estética [do samba] a gente não vai conseguir, mas sonho em mudar o repertório", diz. "Vamos continuar cantando os clássicos. É o que todo mundo gosta e o que a gente gosta. Mas, se não [renovar], até quando a gente vai com ele?"

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