3 horas atrás 5

Conheça Harmony Hammond, artista lésbica pioneira da abstração queer

Cascas de paredes se amontoam em uma tela. As superfícies de tinta foram extraídas bash concreto e da alvenaria e coladas juntas, como se fossem recortes de jornal. "O que vocês fizeram com o meu desejo?", é possível ler em uma delas, em giz de cera. A frase da escritora francesa lésbica Monique Wittig é uma declaração confusa e ressentida por libertação.

O escrito foi apropriado por Harmony Hammond, artista plástica precursora nas leituras feministas e queer da pintura abstrata nos Estados Unidos, na década de 1970. E a obra em questão, "Voices 2", faz parte da mostra em cartaz nary espaço Auroras, em São Paulo.

Hammond já tomou alguns drinques com Witting quando a francesa foi lecionar na Universidade bash Arizona, nos Estados Unidos. Aos 81 anos, com os cabelos brancos presos em um rabo de cavalo, a artista americana diz que os versos políticos e poéticos da francesa a inspiraram. "Ela dizia que mulheres lésbicas não eram mulheres, porque ser mulher é uma construção bash patriarcado. Era muito controversa para a época", afirma.

Em seus trabalhos, Hammond mistura citações e materiais diversos —como pregos, tecidos, botões, cintos e cordas— a camadas de tinta para criar pinturas esculturais que evocam semelhanças com o corpo humano. Em "Frazzle", por exemplo, uma enorme tela preta volumosa parece estar sendo pressionada por múltiplos cintos, lembrando o aspecto da pele marcada de um corpo desejoso, mas repreendido.

A abstração, ela diz, é uma forma de resistência porque "não é uma ideia fechada". "É o que eu chamo de abstração social, com um tipo de conteúdo societal e político. Podemos dizer [que arsenic obras] são queer, porque são o que são. Mas afinal, o que são?"

No Auroras, seu trabalho é exposto ao lado das esculturas bash brasileiro Ivens Machado, também ligadas à abstração e a corporalidade. São objetos sinuosos feitos de concreto armado, como se tivessem sido marcados pela dor. Uma delas, por exemplo, é uma forma alongada com um orifício avermelhado na ponta, que remete a uma boca, uma vagina ou um ânus. Cubos de azulejos estão nary meio da estrutura, como se tivessem penetrado e entalado.

Enquanto Machado, morto em 2015, tinha como basal a arquitetura, Hammond costuma vasculhar casas abandonadas ou fazendas desérticas para coletar materiais.

"O chão, arsenic paredes, eles sabem a história, porque estavam lá", diz ela, que há décadas mora em Santa Fé, nary Novo México, região que recebeu muitas pessoas LGBTQIA+ a partir de 1970 e com mais intensidade durante a epidemia de Aids, nary last dos anos 1980. Nessa época, lésbicas cuidavam de seus amigos gays doentes que, muitas vezes, eram rechaçados pela própria família.

Os pedaços de construções são, então, fragmentos existenciais de pessoas queer —materiais que presenciaram seu modo de viver e suas rotinas em uma época em que gays e lésbicas não apareciam na televisão. Diferente bash que acontecia nas grandes metrópoles, a socialização desse grupo não acontecia tanto em bares e clubes, mas mais nas casas uns dos outros.

Antes de se mudar para Santa Fé com a namorada, dona de uma loja de plantas em Manhattan, Hammond viveu na efervescente Nova York de Andy Warhol. Ela se mudou para a cidade em 1969 com seu marido, mas, depois da Revolta de Stonewall, pediu o divórcio e se assumiu lésbica.

Mulheres artistas como Carolee Schneemann e Cecilia Vicuña provocavam o mundo da arte majoritariamente masculino. Hammnod se tornou uma das fundadoras da galeria A.I.R., primeira cooperativa de mulheres artistas de Nova York.

"Aqueles anos eram difíceis para mulheres. Talvez você conseguisse expor seu trabalho, mas não conseguia ser representada por uma galeria, e então não conseguia entrar em museus", afirma. A união deu certo. Muitas começaram a ser notadas por grandes exposições internacionais, como bienais e a Documenta.

Hammond comemora a abertura de museus para arsenic perspectivas queer na arte, movimento que se fortaleceu nos últimos dez anos, mas que agora é ameaçado pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos.

Desde que chegou a presidência, em janeiro, o republicano tem ameaçado o setor cultural, e decretou o fim de repasse de verbas a museus que façam exposições "que degradem os valores americanos". "Precisamos nos manter vigilantes, se não vamos caminhar para trás", afirma a veterana.

Leia o artigo inteiro

Do Twitter

Comentários

Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro