Para isso, o corpo deve ser mantido conservado por uma equipe de médicos e profissionais da tanatopraxia — mas nem sempre a Igreja obteve sucesso no processo.
Naquela época, porém, o "papa Pacelli" (seu sobrenome), como era conhecido na Itália, detinha muita popularidade, especialmente na capital italiana, onde havia nascido. Era esperada uma multidão jamais vista para seu cortejo fúnebre.
Pio XII morreu em um dia 9 de outubro, aos 82 anos, num início de outono ainda bem quente em Castel Gandolfo, a residência de verão dos papas localizada nos arredores de Roma, de parada cardiaca, depois de três dias de uma súbita deterioração de saúde.
A seu lado, estava o médico Riccardo Galeazzi-Lisi, um oftalmologista originário de uma influente família em Roma que ascendeu ao posto de "arquiatra pontifício", chefe da equipe médica do Vaticano.
Galeazzi-Lisi foi pivô de mais de um escândalo na época: nos dias anteriores à morte se Pio XII, o médico tirou fotos do papa recebendo oxigênio suplementar, vendidas à revista francesa "Paris Match".

Detalhes dos rituais de fechamento do caixão e sepultamento do papa Francisco
Conservação 'à moda antiga'
Alguns anos antes, porém, Galeazzi-Lisi havia convencido o papa, quando morresse, a utilizar uma técnica que ele mesmo afirmava ter desenvolvido para preservar corpos. Até 1914, era comum os corpos dos pontífices terem os órgãos retirados para preservação em recipientes separados, mas a prática foi encerrada por Pio X. Pio XII havia deixado em testamento a vontade de ser enterrado "da forma que Deus havia lhe feito".
Coube a Galeazzi-Risi explicar à imprensa o seu método "revolucionário".
O médico do Vaticano conversou com jornalistas ao lado de seu colega Oreste Nuzzi, um médico napolitano creditado como cocriador do processo. Segundo este, "o método era uma redescoberta do utilizado não apenas pelos primeiros cristãos, mas também ao longo dos tempos, em muitas personalidades ilustres, como Carlos Magno".
A verdade viria à tona depois: Galeazzi-Lisi envolveu o corpo de Pio XII em óleos e ervas e recobriu tudo com uma camada de celofane. Logo na primeira madrugada, porém, na Sala dos Suíços do palácio de Castel Gandolfo, sob o calor do início de outono no Hemisfério Norte, os presentes perceberam que algo havia saído errado.
Os gases formados no processo de putrefação se acumulavam no corpo de Pio XII, inchando a olhos vistos o tórax de Pacelli, conhecido em vida por sua magreza.
Mas o pior ainda está por vir: durante o traslado do corpo até a Basílica de São Pedro, pouco antes de entrar em Roma, os ocupantes do carro funerário cedido pela prefeitura ouvem um altíssimo barulho de explosão vindo do caixão. "O corpo desajeitadamente embalsamado literalmente se despedaçou", diz Margheriti.
Em uma parada na Arquibasílica de São João de Latrão, já na capital, sob um cheiro insuportável, profissionais tiveram de improvisar um reparo no corpo às pressas. O caixão teve de ser coberto até a chegada ao Vaticano, enquanto uma multidão de romanos se aglomerava para homenagear o amado papa Pacelli, influente desde seus tempos de cardinalato. Ao chegar a São Pedro, Margheriti descreve um cenário de horror:
O cortejo chegou ao Vaticano à noite. Antes do primeiro dia de exibição do corpo, colocado em um altíssimo catafalco no centro da basílica, os restos de Pio XII foram descidos, desnudados e alvo de uma enorme operação de emergência de tanatopraxistas. Ele passou por um novo processo de embalsamamento, e uma máscara de cera e látex foi aplicada em sua face.
O aspecto inchado do cadáver seria visível, no entanto, até o nono dia dos ritos ,fúnebres, quando Pio XII foi finalmente sepultado.
Galeazzi-Lisi, o médico, passou para a história como um profissional presunçoso e incompetente. Embora não tenha sido responsabilizado oficialmente pela deterioração do corpo de Pio XII, ele foi considerado culpado pelo vazamento das fotos e expulso do Vaticano pelo conselho dos cardeais, antes mesmo do conclave que elegeria Angelo Roncalli, o João XXIII, como sucessor de Pacelli.
Seu método, naturalmente, nunca mais foi utilizado em outro pontífice. Ele morreu em 1968, a tempo de ver ainda o funeral de João XXIII, um trabalho considerado impecável pelos pares:
"O embalsamamento patenteado pelo competente prof. Gennaro Goglia, que incluiu, entre outras coisas, injetar muitos litros de líquido conservante à base de formaldeído através das artérias principais, teve excelentes resultados. O corpo foi perfeitamente preservado durante toda a exposição pública", registrou Margheriti.

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6 meses atrás
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