O trabalho de Paulo de Tarso da Cunha Santos, 72, como marqueteiro de Lula (PT) na campanha de 1989 já dura quase quatro décadas, mesmo que aquelas eleições tenham se encerrado há muito tempo, com o petista derrotado por Fernando Collor de Mello.
Lula foi conduzido três vezes ao Planalto desde 2002 e está em vias de disputar o quarto mandato. A cada pleito, ele ressuscita uma antiga estratégia de Paulo de Tarso: um singelo trocadilho com seu nome para mobilizar a base de apoiadores.
Em 1989, o marqueteiro justapôs o substantivo Lula ao lugar onde a militância desejava ver o então candidato: lá, termo cuja imprecisão mede a utopia almejada pelo PT daquela época.
Com o bordão "Lula lá" definido, Paulo de Tarso procurou o músico Hilton Acioli para compôr o jingle "Sem Medo de Ser Feliz", entoado até as eleições mais recentes.
O publicitário repassa a sua trajetória na política em seu livro "Lula Lá E Outras Histórias", que chega agora às livrarias pela Geração Editorial, com bastidores, anedotas e curiosidades de quem acompanha os passos da política e seus atores desde a infância.
Segundo Paulo de Tarso, já não se faz jingle como antigamente. "As campanhas passaram a adotar um tom mais popularesco, dançável, para ir atrás do carro de som. A aposta é essa: pôr todo mundo para dançar, só que aí ocorre uma perda de conceito", diz ele.
O livro lembra que "Sem Medo de Ser Feliz" não foi um acerto imediato de seu autor. Paulo de Tarso fez a encomenda a Hilton em um almoço, ao qual também compareceu o redator publicitário Tom Figueiredo. Dois dias depois do encontro, o marqueteiro recebeu uma ligação do "jingleiro" com a boa nova: Hilton havia composto um samba-exaltação.
A música seria, porém, rejeitada pelo marqueteiro, porque não citava o candidato ou o partido. Foram necessários mais dois dias para o telefone soar de novo, com o anúncio da versão definitiva, que não enfrentou resistência pelos integrantes da campanha.
O sucesso foi tamanho que, nas eleições de 2022, artistas foram convocados para interpretar a canção. Também em 1989 Paulo de Tarso incorporou ao marketing de Lula o gesto da letra "L", com as mãos, uma sugestão neurolinguística do militante Mário Milani. De todo modo, a ligação do publicitário com a política vem antes de qualquer eleição.
Ele é filho de Paulo de Tarso Santos, ex-ministro da Educação durante o governo João Goulart e deputado federal, preso mais de uma vez, nos anos 1960, pela ditadura militar, o que o fez perder o mandato e os direitos políticos. Por isso, exilou-se com sua família no Chile, onde ficou de 1964 até 1974.
No livro, Paulo de Tarso, o marqueteiro, lembra as vezes em que acompanhou o trabalho de seu pai, como no dia da inauguração de Brasília. Na época, ele chegou a conhecer Che Guevara, que foi à capital para receber uma condecoração. O futuro especialista em eleições escreveu não ter se encantado pelo que viu como um milico emburrado que acompanhava num almoço seu pai, o primeiro prefeito de Brasília —o cargo existiu de 1960 a 1969.
Paulo de Tarso conta ter escrito "Lula Lá E Outras Histórias" para dar aos jovens publicitários a sua memória de tantos anos na política.
Ele não atuou somente com o PT. Já em 1985, trabalhou com Fernando Henrique Cardoso em sua campanha à Prefeitura de São Paulo. Ambos se reencontrariam no segundo mandato presidencial do tucano. Como assessor de comunicação, incluiu uma linguagem mais prosaica aos pronunciamentos do presidente, um deles com referência a Deus —uma grande notícia naquele tempo. Também enfrentou a crise do apagão e, tempos depois, o mensalão, como integrante do governo Lula.
Em 2010, Paulo de Tarso foi o principal responsável pelo marketing de Marina Silva. No livro, a então candidata é descrita como temperamental, avessa às sugestões da equipe.
Para o ano que vem, o publicitário não descarta trabalhar em uma campanha. Diz ser mais difícil se comunicar no tempo das redes sociais e afirma que o cenário está mais para uma reeleição do petista. "Lula está com a Presidência na mão. Com essa confusão toda na direita, o país está caminhando para o centro", afirma Paulo de Tarso.

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