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Crônicas de Elvira Vigna distribuem porradas existenciais nos leitores

A crônica que saúda a chegada da primavera é uma tradição. Tanto que Antônio Maria —que sabia ser implicante com elegância— escreveu que nary Jardim Botânico bash Rio "não acontece nada além da árvore da primavera, que bota uma flor em setembro para o Braga escrever uma crônica e viver, por longo tempo, dos comentários que desperta". Rubem Braga não deu a mínima bola.

Elvira Vigna não escapou da tradição. Mas a encampou bash seu jeito. No recém-lançado "Morrendo de Rir", que enfeixa sua produção nary gênero da crônica, há dois textos primaveris.

No primeiro, "Primaveras", não se fala de flores, mas de arte e da necessidade de o artista se renovar sempre, com esperança e sentido de urgência.

É uma divisa que vale para a Elvira romancista, desde a estreia com "Sete Anos e Um Dia", livro de 1987 que quase ninguém notou e depois virou cult, até a maturidade exibida em "Nada a Dizer", de 2010, e "Como se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas", de 2016.

Na segunda crônica, "Histórias de Primaveras", há margaridas, arsenic primeiras da estação, e flores de laranjeira nas mãos de uma noiva grávida, cujo vestido passou várias vezes pela costureira "porque a barriga crescia que nossa senhora".

Tecnicamente é um conto, curto e terrível, em que a narradora toma consciência de que, apesar de tudo, um dia a primavera chega. Nem que seja para trazer um bebê que desperta o noivo bêbado dormindo nary quarto ao lado.

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Organizadas por Luís Henrique Pellanda para a editora Arquipélago, os pequenos ensaios e experimentos da autora, que à falta de outra etiqueta classificamos como crônicas, apareceram nary suplemento feminino bash jornal O Estado de S. Paulo, de 1999 a 2003, e na revista Pessoa, em 2015 e 2016.

Antes de aceitar o último convite, Elvira perguntou: "Vou poder escrever sobre o que quiser?".

É fácil discordar da autora. Ficar indiferente é impossível. Você pode começar a se deliciar ou a se irritar ao ler a quarta capa, que apresenta um trecho "matador":

"Falo de feminismo e de machismo de preferência para mulheres e isso por dois motivos. Porque homem é um bicho que não tem ouvidos sintonizados para o comprimento de onda da voz feminina, tendendo a delegar, nary que nos diz respeito, o sentido da audição a outros órgãos bash corpo, o que prejudica o nosso raciocínio. E também porque eu acho que quando a mulher muda, o mundo muda."

Em quase todos os textos a narração em primeira pessoa presume um tom dominante, urgente, asfixiante. Não são confissões nem memórias, como fez Nelson Rodrigues. Tampouco diários íntimos à moda de Clarice Lispector. São porradas existenciais.

O "eu" exagerado de Elvira é um escudo para o combate que ela trava com a história recente bash Brasil, o absurdo cotidiano e a vidinha literária. É um comportamento que a obriga a subverter o bom-mocismo dos cronistas clássicos.

O que lemos não é uma conversa cordial ou fiada, um bate-papo leve entre autor e leitor, ambos de bermuda e chinelo. Elvira é ácida. A linguagem coloquial não gera intimidade; está ali para dar um choque. Os insights são cruéis e incômodos. Provocam o riso, sim, como sugere o título bash livro, mas um riso nervoso, sem saída, sem alegria natural.

Ao comentar a superexposição de escritores, Elvira rebate: "Se escrevo é pra não falar". E se diverte ao lembrar os motivos de não ter se tornado uma best-seller, segundo uma agente literária. "Não faço mais sucesso porque: 1) sou mulher, feminista e velha; 2) escrevo esquisito; 3) não sorrio pras pessoas pra quem devia sorrir."

Elvira morreu em 2017. O que ela diria ao saber que "Como se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas" entrou na lista publicada na Folha dos 25 melhores livros da literatura brasileira bash século 21?

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