- Author, André Biernath
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
- Twitter, @andre_biernath
18 outubro 2023
Atualizado Há 33 minutos
As próximas duas décadas devem trazer uma série de boas notícias para as pessoas que se incomodam com a própria calvície: segundo estudos publicados recentemente e projeções de especialistas consultados pela BBC News Brasil, tratamentos definitivos contra a queda de cabelo deverão chegar ao mercado neste período.
A promessa da vez são as terapias gênicas — que seriam capazes de atuar em genes relacionados à alopecia androgenética (nome do tipo de calvície mais frequente) — e a clonagem de fios de cabelo para uso em transplantes capilares.
Embora uma cura da calvície ainda não passe de uma possibilidade futura, isso não significa que essa área ficou sem novidades nos últimos anos.
Os avanços mais recentes nas ferramentas de diagnóstico e nas opções de tratamento permitem que médicos e pacientes obtenham resultados cada vez mais satisfatórios — principalmente se o quadro é detectado logo cedo, quando as terapias se tornam mais efetivas para frear o processo.
Conheça a seguir as principais candidatas à cura para a calvície — e como os especialistas lidam com esse problema atualmente.
A esperança está nos genes?
Estimativas mais recentes apontam que, na faixa dos 50 anos, cerca de metade das pessoas — tanto homens quanto mulheres — apresentam algum grau de calvície.
Pelo lado feminino, a estatística até parece surpreendente, mas está relacionada à forma como a questão se manifesta.
"Geralmente, as mulheres têm a área frontal do couro cabeludo mantida. A perda de cabelo nelas ocorre na região central, onde é geralmente feita a divisão do penteado. Com isso, fica mais fácil esconder as regiões com pouco cabelo", explica a médica Fabiane Mulinari Brenner, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Em homens, por outro lado, a calva aparece na fronte — as populares "entradas" — e no cocuruto. Por isso, ela fica mais visível logo nos primeiros estágios.
Como mencionado anteriormente, o tipo de calvície mais comum é a alopecia androgenética.
Ela está relacionada a dois fatores principais. Primeiro, o histórico familiar e alguns genes passados de geração em geração.
Segundo, a ação de um hormônio chamado dihidrotestosterona (DHT), um derivado da testosterona que pode gerar a perda dos fios no couro cabeludo.
E uma das primeiras promessas contra esse tipo de calvície está justamente no DNA.
Nos últimos anos, pesquisadores estudaram a fundo os principais genes responsáveis pela evolução da careca.
A partir dessas investigações, no ano passado uma equipe da Universidade da Califórnia em Irvine, nos EUA, descobriu uma proteína chamada SCUBE3, que tem o potencial de estimular o crescimento capilar.
A ideia — ainda em testes iniciais — é encontrar uma maneira de aplicar essa substância no couro cabeludo, de modo a fazer os fios voltarem a brotar na cabeça.
Uma possível via de administração disso seria a tecnologia de mRNA, a mesma utilizada para as vacinas contra a covid-19.
Seguindo essa ideia, uma eventual vacina de mRNA contra a calvície levaria instruções para que as próprias células do corpo produzissem a proteína SCUBE3, o que levaria ao crescimento do cabelo.
Outros grupos trabalham com a ideia de interferir diretamente nos genes relacionados à perda de cabelo para, quem sabe, reverter a ação deles.
O temor, segundo Brenner, é que esses trechos do DNA que influenciam a calvície podem estar relacionados a diversas funções do organismo. Portanto, é preciso ter bastante certeza que mexer neles não causará efeitos colaterais em outras partes do corpo.
O médico Luciano Barsanti, presidente da Sociedade Brasileira de Tricologia — especialidade médica que estuda os fios de cabelo, o couro cabeludo e os pelos —, destaca outra linha de pesquisa.
"A ideia é entender como a osteopontina estimula os folículos pilosos [estruturas onde nascem os fios] das verrugas, de modo a fazer crescer cabelo ali", complementa o especialista.
Por fim, uma terceira perspectiva futura para lidar com a calvície é a clonagem de fios.
Atualmente, o transplante capilar — método que transfere folículos pilosos de uma área doadora para regiões da cabeça onde os fios rareiam — é feito a partir do material retirado do paciente.
Isso representa uma limitação, pois é preciso colher cada folículo do próprio indivíduo — e, a depender do estágio da alopecia, pode ser que a área doadora esteja reduzida.
A clonagem de fios por meio de técnicas como as células-tronco, por exemplo, pode ampliar a oferta de folículos para uso em transplante.
Embora essas possibilidades terapêuticas representem uma eventual solução para a calvície, todas elas ainda estão em fase de pesquisa — e precisam ter segurança e eficácia comprovadas por meio de testes clínicos que durarão alguns anos.
"Não tenho dúvidas de que a terapia gênica seja a solução definitiva para a calvície. Mas, no momento, ela não passa de uma ficção", opina Barsanti.
Os médicos ouvidos pela BBC News Brasil estimam que, a depender do avanço dos estudos, esses novos tratamentos devem ficar disponíveis daqui dez ou 15 anos.
Mas enquanto esse dia não chega, o que está disponível hoje em dia para lidar com a perda do cabelo?
Freio na queda
Brenner aponta que o melhor momento para procurar um médico é logo nos primeiros estágios da queda dos fios.
"Quanto mais cedo o diagnóstico, melhor será o resultado do tratamento", diz ela.
"É importante buscar a avaliação de um dermatologista assim que você percebe um afinamento dos fios, como quando o couro cabeludo começa a queimar durante um dia de sol ou quando é possível ver o reflexo da luz do elevador na cabeça", exemplifica a especialista.
De acordo com a diretora da SBD, os métodos de diagnóstico da calvície evoluíram bastante nos últimos anos.
Foram lançados aparelhos que conseguem avaliar em detalhes a espessura do fio no próprio consultório.
Outra opção é enviar amostras de bulbos capilares para uma biópsia em laboratório, que determina com precisão a origem e o tipo de calvície.
Essa etapa do diagnóstico é primordial para escolher o melhor tratamento para cada caso.
Barsanti destaca que a calvície hoje recebe uma "abordagem multifatorial".
"Temos que levar em conta fatores como o estresse, a ação de hormônios e tudo o que impede o funcionamento do folículo", diz ele.
Atualmente, o tratamento médico da alopecia androgenética se baseia em dois pilares. Primeiro, os bloqueadores hormonais, uma classe de remédios que impedem a ação da DHT. O representante mais conhecido desse grupo é a finasterida.
Nas mulheres, o uso dos bloqueadores hormonais precisa ser feito junto de um anticoncepcional. A ideia é impedir uma gravidez, pois esses fármacos afetam gravemente o desenvolvimento do bebê.
Entre os pacientes que vão usar finasterida, há um temor sobre os efeitos colaterais, principalmente uma diminuição do desejo sexual.
"Pelas evidências disponíveis, esses remédios não interferem na fertilidade ou na libido, mas alguns pacientes percebem uma redução no volume da ejaculação", aponta Brenner.
Importante: as medicações precisam ser prescritas por um especialista e tomadas com acompanhamento do profissional de saúde.
O segundo pilar do tratamento da calvície é o minoxidil. Essa medicação foi desenvolvida nos anos 1960 e 1970 para tratar a pressão alta.
Com o passar do tempo, porém, os pesquisadores observaram que ela tinha um efeito colateral curioso: estimular o crescimento de pelos no corpo.
A partir disso, foram desenvolvidas versões em loção, gel ou espuma do remédio, que são aplicadas diretamente no couro cabeludo.
"Ele dilata os pequenos vasos sanguíneos da região, que trazem vitaminas, sais minerais e outros nutrientes para o bulbo capilar", explica Barsanti.
Dessa maneira, o bulbo fica mais forte e nutrido — o que permite uma sobrevida extra ao fio de cabelo.
Uma polêmica recente relacionada ao minoxidil tem a ver com a versão em comprimidos do remédio.
Alguns pacientes preferem tomar o fármaco pela boca, em vez de aplicá-lo diretamente na cabeça.
Mas essa prática pode trazer alguns problemas. Como presidente da Sociedade Brasileira de Tricologia, Barsanti contraindica a prática.
"A nossa própria agência regulatória, a Anvisa, proíbe o medicamento oral para uso estético. Além disso, há o risco de efeitos colaterais, como quedas de pressão arterial, crescimento excessivo de pelos no corpo e alterações cardíacas", argumenta ele.
Brenner pondera que o minoxidil até pode ser usado em alguns casos — se houver indicação médica para isso.
"Alguns trabalhos publicados apontam que as versões tópicas [aplicadas no couro cabeludo] e oral, se bem utilizadas, trazem resultados semalhantes", avalia ela.
"Mas é preciso pensar nas desvantagens dos comprimidos e discutir o uso com o paciente. Se essa for realmente a melhor opção, começamos com uma dose bem baixa e aumentamos aos poucos, para testar a tolerância e o risco de efeitos colaterais", detalha a dermatologista.
Em pacientes com doenças cardíacas, a atenção deve ser redobrada — e o tratamento com comprimidos de minoxidil depende da avaliação e da liberação de um cardiologista, diz ela.
Brenner aponta que, além dos bloqueadores hormonais e do minoxidil, existem tratamentos não invasivos com luz e laser que apresentam alguma evidência de eficácia.
"Elas são aplicadas por meio de capacetes ou tiaras, que tem um efeito antiinflamatório e estimulam o crescimento dos fios", explica ela.
O transplante capilar também pode ser uma opção em alguns casos — desde que exista uma indicação médica e uma boa área de doação para fazer a retirada dos folículos que serão reimplantados.
Outras possíveis abordagens também estão à venda em farmácias ou são disponibilizadas em clínicas. Mas, antes de usá-las, é importante buscar a avaliação de um dermatologista, para ver se elas podem de fato ajudar ou não fazem sentido para o seu caso em específico.
A médica diz que, durante as consultas, é importante alinhar as expectativas sobre os resultados possíveis.
"O paciente não vai recuperar 100% dos fios ou voltar a ter o cabelo que possuía aos 12 anos de idade."
"O primeiro passo do tratamento é estabilizar a situação. Em segundo lugar, vamos tentar melhorar aos poucos a cobertura do couro cabeludo", conclui ela.
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