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Dá para se apaixonar pela IA? 'Há formas degradantes de amor', diz Dunker

Nós achamos que o amor é sempre uma coisa boazinha, que salva todo mundo e é super legal. Só que existem amores fetichistas. Uma pessoa se apaixona por botas, pelo gato, pela coleção de selos. E são amores. Tendemos a dizer que, porque não é minha a minha forma de amar, não é amor. Mas é
Christian Dunker, psicanalista

Em entrevista ao Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, Dunker lembrou que existem diferentes formas de amar, e nem todas são boas.

Infelizmente existem formas degradantes de amor, em que a pessoa precisa de terapia e tratamento. Existem formas de amor que não são emancipatórias. E isso vai incluir máquinas
Christian Dunker, psicanalista

O psicanalista destaca ainda que os algoritmos não são neutros: carregam interesses, tomam decisões e influenciam comportamentos. Por isso, o tema do amor mediado pela tecnologia exige atenção redobrada.

IA para a paquera

O estudo Solteiros na América, feito pelo Instituto Kinsey em parceria com o Match Group (dono do Tinder, Hinge, OkCupid e outros), mostrou que o número de pessoas desimpedidas usando IA para paquerar cresceu 333% em relação ao ano passado.

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A ajuda da máquina aparece em várias etapas: desde melhorar o perfil até escrever mensagens inteiras para o crush. Para Dunker, no entanto, esse tipo de "edição de si mesmo" já existia antes dos algoritmos.

A IA tem acelerado o problema que a gente já vivia nos apps: eu faço uma versão de mim mesmo super legal. Edito minha foto e crio um personagem que representa o que eu acho que o outro quer
Christian Dunker, psicanalista

Só que, na vida real, esse personagem não se sustenta. E, quando a farsa cai, muita gente prefere culpar a tecnologia em vez de encarar que a mentira começou na própria escolha de inventar uma nova persona online.

Dunker explica: celular sequestra seu cérebro ou amplia poderes humanos?

Os smartphones mudaram completamente a forma como vivemos e nos relacionamos. Desde que ficaram mais acessíveis, práticas que antes pareciam exclusivamente humanas ganharam novos contornos.

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Uma pesquisa recente da Reviews.org mostrou que os americanos checam o celular, em média, 205 vezes por dia. Para muita gente, o aparelho já virou quase uma "extensão do corpo", não só pelo uso exagerado, mas também porque está ligado a uma sensação imediata de satisfação. É o que defende o psicanalista Christian Dunker.

Em entrevista ao Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, ele lembrou que o "corpo tem a ver com prazer e desprazer". Para Dunker, a necessidade de estar o tempo todo grudado na tela mostra como o excesso de uso "nos torna incapazes de suportar a frustração".

Terapia com IA é como refrigerante, diz Dunker: 'você bebe e só sente sede'

No início do século 20, a teoria behaviorista mostrou como uma sequência de reforços pode moldar o comportamento humano. Essa lógica lembra muito a dinâmica das máquinas: quanto mais uma IA aprende, mais se comporta de acordo com esses aprendizados. As inteligências artificiais conversacionais, ou os famosos chatbots, seguem esse mesmo caminho.

Em entrevista ao Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, Christian Dunker ressaltou que, embora muita gente hoje recorra à terapia com a IA, elas ainda não podem oferecer algo fundamental num bom processo de análise: a capacidade humana de discordar.

Até agora as respostas que IA dá são quase sempre afirmativas: você está certo, vai aos poucos? Ela não faz perguntas boas, e devolve mais ou menos o que você espera ouvir
Christian Dunker, psicanalista

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Dunker avisa: 'Até agora o vareio de bola é total: algoritmo 5 x 0 humanos'

Quando pensa no futuro da interação homem-máquina, Christian Dunker se sente um "otimista sem esperança". Apesar de reconhecer o potencial emancipatório de algumas tecnologias, ele vê que, na prática, ainda usamos as ferramentas de forma muito passiva.

Até aqui, temos nos mostrado idiotizados em relação à tecnologia. A gente está em uma selva, achando que esse negócio vai fazer o nosso trabalho
Christian Dunker, psicanalista

Em entrevista ao Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, ele explicou que sua esperança vem da possibilidade de criar instrumentos críticos e coletivos. Mas o ceticismo aparece com a percepção do quanto o placar está desequilibrado:

Para ele, a situação lembra a semifinal da Copa de 2014, quando o Brasil tomou de 7 a 1 da Alemanha. E essa goleada, segundo Dunker, tem muito a ver com a relação permissiva que temos com as big techs.

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