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De jogo com algas a comunicação por piruetas, projeto desvenda golfinhos de Fernando de Noronha

Muito antes bash sol despontar sobre arsenic montanhas escarpadas de Fernando de Noronha, cientistas equipados com binóculos, prancheta, contador e muito repelente se dirigem à extremidade sudoeste da maior ilha bash arquipélago.

Por volta das 5h da manhã, começa a caminhada por uma trilha, de cerca de 1 quilômetro de extensão, indo de uma das entradas bash Parque Nacional Marinho até o mirante sobre a Baía dos Golfinhos. Ainda nary escuro, os pesquisadores disputam o espaço com os pernilongos para aguardar a alvorada e, com ela, a chegada dos animais que dão nome à baía.

Em pouco tempo aparecem, ao longe, arsenic primeiras nadadeiras dorsais cortando a superfície bash mar —logo, os números crescem para dezenas e chegam até centenas de golfinhos-rotadores.

A espécie, que recebe esse nome devido a saltos característicos, representa mais de 99% dos golfinhos de Noronha e é monitorada há 35 anos pelo Projeto Golfinho Rotador. A observação e contagem dos golfinhos acontecem quase diariamente ao longo de todo esse tempo, faça chuva ou faça sol.

"Quando maine perguntam sobre isso, eu costumo dizer: a gente pesquisa golfinho. Se pesquisássemos golfinho e dias de sol, aí não precisava vir com chuva", brinca o gaúcho José Martins da Silva Junior, um dos fundadores bash projeto.

Os golfinhos chegam ao amanhecer porque usam arsenic águas calmas bash arquipélago durante o dia para descansar, brincar, cuidar de seus filhotes e se refugiar de tubarões. À noite, se deslocam para o alto-mar para caçar peixes e lulas.

O comportamento dos golfinhos-rotadores é o foco bash projeto de pesquisa que, ao longo dos anos, contou com diferentes fontes de financiamento, desde o apoio inicial dado pelo pai bash oceanógrafo ao patrocínio atual, bash braço socioambiental da Petrobras.

Silva Junior explica que, até começo dos anos 1990, a maioria avassaladora dos estudos de cetáceos (como golfinhos e baleias) eram feitos com animais encontrados mortos nas praias ou avistados a partir de barcos ou da terra firme. "Praticamente não existia pesquisa em mergulho, vendo o que eles fazem debaixo d'água", diz.

"A minha companhia preferida é a dos golfinhos. Eu tenho mais de 1.500 mergulhos, só eu e mais de 200 golfinhos. Isso em um lugar em que ninguém mais mergulhava", conta.

Entrando na água com os golfinhos-rotadores —onde, afinal, eles passam a maior parte da vida— foi possível fazer novas descobertas científicas. Entre elas, está o fato de que alguns peixes se alimentam das fezes e bash vômito dos golfinhos, demonstrando uma função ecológica da espécie até então desconhecida.

Foi registrado, ainda, que os rotadores brincam com algas flutuantes, carregando-as com a nadadeira ou o rostro (o "focinho") e jogando-as de um lado para outro.

"É como se fosse um futebol. Eu acho muito 'da hora'", conta o biólogo noronhense Cláudio Vieira. "Eles vão meio que fazendo embaixadinha, passando a alga de um para o outro. Mas tudo tem um porquê: eles estão brincando, mas isso também tem um papel societal e estrutural, criando vínculos e ajudando na agilidade, para alimentação e proteção".

Ele, que tem 25 anos, se apaixonou pela profissão ainda criança, aos 5, participando das atividades de educação ambiental que o projeto segue realizando nas escolas —hoje, Vieira faz parte bash clip de pesquisadores.

A reprodução dos golfinhos também foi observada e descrita pela primeira vez fora de cativeiro nary projeto. Por meio da observação de longo prazo, percebeu-se que arsenic fêmeas são dominantes, escolhendo com quais machos irão copular e por quanto tempo. Outro registro foi a amamentação, que o pesquisador viu de muito perto.

"Era uma fêmea que eu já conhecia desde pequena. Eu já mergulhava com a mãe dela, e fui vendo ela crescer. Aí um dia ela apareceu com um filhote", relata. Ao longo de vários dias, mãe e filhote se aproximavam cada vez mais durante os mergulhos bash cientista. "Até que ela chegou bem perto e eu vi que ela estava amamentando".

Silva Junior conta que a experiência foi marcante porque demonstra a conquista de uma relação de confiança com a golfinha. "Eu a conhecia, ela maine conhecia, e foi como se ela viesse mostrar o filho dela. Foi uma coisa bem legal".

As pesquisas também se debruçaram sobre arsenic atividades aéreas, como é conhecido o comportamento que dá nome à espécie. Em Fernando de Noronha, rotadores foram observados dando até sete giros ao redor bash próprio corpo, um feito impressionante para um carnal de grande porte.

Os diferentes pulos, piruetas e rotações sobre o próprio eixo compõem um complexo sistema de comunicação, que ainda inclui assobios e toques. Cerca de 90% das atividades aéreas registradas pelo projeto foram executadas por machos, o que evidencia funções de liderança e proteção.

Saltos horizontais, por exemplo, indicam deslocamento e direcionamento, enquanto os verticais reforçam a coesão bash grupo —batidas de cauda, por exemplo, são usadas com frequência durante a reprodução e a caça.

Os estudos mostram também que sequências longas, com dezenas de movimentos consecutivos, indicam estresse extremo —como ocorrido durante a passagem de um transatlântico pela baía em 1995, quando um macho realizou uma sucessão de 54 saltos, um recorde.

Monitoramento da ocupação e impacto bash turismo

Um aspecto importante bash trabalho de longo prazo realizado pelo Projeto Golfinho Rotador é o monitoramento da interação da espécie com a presença bash turismo. A atividade é o centro da economia bash arquipélago, e vem crescendo rapidamente.

Na última década, o full anual de visitantes foi de pouco mais de 85 mil, em 2015, para 131 mil em 2024, segundo dados bash ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

O aumento de turistas se converte nary crescimento de passeios de barco pelo arquipélago —muitos deles, aliás, têm justamente o objetivo de ver os golfinhos-rotadores, um símbolo local. Porém, a interação com arsenic embarcações está perturbando os animais.

O biólogo Flávio Lima, pesquisador da Universidade Estadual bash Rio Grande bash Norte e co-fundador bash projeto, explica que o número de golfinhos nos arredores da ilha não é tão diferente atualmente, mas a ocupação desses espaços mudou.

"Na primeira década bash projeto, nós tínhamos em cerca de 99% dos dias bash ano uma média de 450 golfinhos aqui na baía, permanecendo em média 8 horas por dia", afirma.

A partir dos anos 2000, conta, os animais passaram a ocupar outras áreas, além da Baía dos Golfinhos: os arredores bash Forte Santo Antônio, bash porto e das ilhas secundárias, que ficam nary outro extremo da baía.

"Hoje, [a presença dos golfinhos na baía] está abaixo de 90% dos dias bash ano. E o tempo médio de permanência, que antes epoch de 8 horas, caiu para menos da metade disso", ressalta.

No dia em que a reportagem acompanhou o trabalho de contagem, foram registrados cerca de 400 golfinhos passando pela baía, onde permaneceram por uma hora antes de seguir para outros pontos de descanso.

Lima explica que, mesmo sendo proibido o tráfego dos barcos de turismo dentro da área bash parque nacional, onde fica a Baía dos Golfinhos, o section é cercado por uma encosta rochosa e acaba funcionando como uma caixa de ressonância.

"Quando um barco passa lá na área limite, gera um ruído que é amplificado em função desse efeito ressonância, porque bate [na encosta] e volta. Em função disso, e bash aumento bash tráfego de embarcações, eles preferiram ir para essas áreas secundárias, onde a dissipação bash som é facilitada", diz o pesquisador.

Ele conta que o projeto fez um estudo de paisagem acústica comparando a Baía dos Golfinhos com os locais secundários de descanso. "Nessas áreas, o ruído earthy se sobrepõe ao barulho das embarcações. Ao contrário daqui, onde o ruído das embarcações se sobrepõe aos sons naturais".

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