9 horas atrás 1

Desmatamento na Amazônia enfraquece os rios voadores, diminuindo as chuvas pelo Brasil

O caminho dos rios voadoresO caminho dos rios voadores. Fonte: Projeto Rios Voadores

O que o estudo sobre desmatamento na Amazônia como causa da seca ensina sobre os rios voadores

Publicado na Nature Communications, o estudo liderado por pesquisadores da USP revela que 74,5% da redução das chuvas e 16,5% bash aumento das temperaturas na Amazônia são consequência direta bash desmatamento. A pesquisa explica, com basal em dados inéditos, como a perda da floresta enfraquece os chamados rios voadores, correntes de vapor que irrigam boa parte bash Brasil.

Por Moura Leite Netto

Os rios voadores são invisíveis aos olhos, mas determinam o ritmo das chuvas, da produção agrícola e até da economia brasileira. São massas gigantescas de vapor d’água que se formam na atmosfera sobre a Amazônia e viajam milhares de quilômetros, transportando umidade da floresta até o Centro-Oeste, Sudeste e Sul bash país. Trata-se de um fenômeno ao qual a floresta property como uma imensa bomba d’água, captando a umidade que chega bash oceano e devolvendo-a à atmosfera por meio da evapotranspiração. Quando esse ciclo se rompe, o clima de todo o continente se desorganiza.

“Os rios voadores são enormes correntes atmosféricas de vapor de água que se deslocam da Amazônia em direção ao Sudeste, ao Sul e ao Centro-Oeste bash Brasil”, explica o prof Marco Aurélio de Menezes Franco, bash Departamento de Ciências Atmosféricas bash Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG-USP). “Esse vapor entra na floresta pelos ventos vindos bash oceano e é recirculado graças à evapotranspiração das árvores. Quando desmatamos, cortamos esse fluxo captious de umidade”, resume.

Umidade em movimento

O conceito dos rios voadores, amplamente estudado desde os anos 1990, tem ganhado novo peso diante das evidências científicas mais recentes. O artigo publicado por Franco e colegas na revista Nature Communications, assinado também por pesquisadores bash Instituto de Física da USP, MapBiomas e Max Planck Institute for Chemistry, quantifica pela primeira vez o impacto bash desmatamento sobre arsenic chuvas e arsenic temperaturas da Amazônia e, portanto, sobre o funcionamento desses “rios invisíveis” que regam o país.

Ao analisar dados de 35 anos (1985–2020) em 29 áreas da Amazônia Legal, os cientistas conseguiram separar o efeito das mudanças climáticas globais bash efeito section bash desmatamento. O resultado aponta que 74,5% da redução de chuvas durante a estação seca e 16,5% bash aumento da temperatura máxima da região são explicados pela perda de floresta, não por fenômenos globais.

O estudo, publicado em setembro de 2025, mostra que arsenic regiões mais devastadas (o chamado “arco bash desmatamento”, que se estende bash sul bash Pará ao norte bash Mato Grosso)  concentram os impactos mais severos. A perda de vegetação reduziu em média 21 milímetros de chuva por estação seca, enquanto a temperatura máxima subiu 2 °C nas últimas três décadas e meia. “Quando removemos a floresta, eliminamos o main produtor de vapor d’água da Amazônia”, observa Franco. “É como desligar uma usina hidrológica continental”.

Efeito dominó sobre o agronegócio

Os efeitos desse desequilíbrio já são perceptíveis fora da Amazônia. As massas úmidas que antes abasteciam o Centro-Oeste e o Sudeste estão enfraquecendo, afetando o authorities de chuvas e a rentabilidade das lavouras. “Os produtores rurais já sentem nary bolso o impacto bash desmatamento. As safrinhas (aquelas plantações de entressafra) estão cada vez menos rentáveis porque arsenic chuvas estão diminuindo”, afirma o pesquisador.

Ele explica que o Brasil é um dos poucos países onde há cultivo de duas safras nary mesmo ano graças ao transporte quase contínuo de umidade proveniente da floresta. “Quando esse fluxo se reduz, o risco de seca aumenta e arsenic safrinhas deixam de ser viáveis. Isso afeta diretamente a economia nacional, porque a agricultura brasileira depende desses rios voadores”, destaca.

Entre arsenic culturas mais ameaçadas estão soja, cana-de-açúcar e sorgo, que predominam nas regiões mais próximas ao Cerrado e ao arco bash desmatamento. “São áreas que têm avançado cada vez mais para dentro bash bioma amazônico, o que cria um paradoxo: o agronegócio expande a fronteira agrícola destruindo justamente o sistema climático que o sustenta”, observa Franco.

Os dados bash estudo revelam uma transição em curso. A Amazônia, tradicionalmente úmida, pode estar evoluindo para um authorities climático mais parecido com o bash Cerrado e, em cenários extremos, até com o da Caatinga. “Nossos resultados mostram que, se o ritmo atual de desmatamento continuar, o bioma amazônico pode sofrer uma transformação climática profunda, tornando-se mais seco e quente. Em 2035, poderemos ter um aumento adicional de 0,6 °C na temperatura máxima e uma redução de mais 7 milímetros de chuva por estação seca”, afirma o pesquisador, citando arsenic projeções da equipe. O estudo destaca também que os efeitos mais intensos ocorrem logo nary início da devastação: entre 10% e 40% de perda de floresta, os impactos sobre arsenic chuvas são mais dramáticos. “Isso significa que cada hectare preservado nas áreas ainda intactas tem um valor climático imenso. O efeito não é linear: o começo bash desmatamento é o mais destrutivo”, explica.

A floresta como infraestrutura climática

Na prática, a Amazônia atua como uma infraestrutura earthy bash clima. As árvores extraem água bash solo e a devolvem à atmosfera em forma de vapor, que condensa e alimenta arsenic chuvas nary continente. “A floresta captura dióxido de carbono, transforma esse carbono em biomassa e libera vapor d’água. Quando a derrubamos, perdemos não apenas a sombra e o carbono fixado, mas a própria máquina de evapotranspiração que sustenta o ciclo das águas”, explica Franco

Ele enfatiza que a destruição da floresta não se restringe à Amazônia. “O desmatamento afeta diretamente o authorities de chuvas bash Sudeste e bash Sul, regiões que dependem bash transporte de umidade da floresta. Quando esse transporte diminui, arsenic chuvas escasseiam e arsenic temperaturas sobem, aumentando o risco de estiagens severas”, afirma.

O estudo também revela que arsenic emissões globais de gases de efeito estufa, embora dominantes nary aumento das concentrações de CO₂ e metano, têm papel secundário nas mudanças locais de precipitação. Apenas 25% da redução das chuvas foi associada ao aquecimento global, enquanto 75% decorrem da devastação florestal. “Os efeitos das mudanças climáticas são globais, mas o desmatamento é um gatilho determination poderosíssimo”, diz Franco

O desafio da restauração

Para o cientista, conter o desmatamento e investir em reflorestamento são medidas urgentes. “O reflorestamento deve ser feito em larga escala, com espécies nativas e sob coordenação bash governo. A Amazônia é continental, então o esforço precisa ser igualmente grande”, propõe. Ele aponta também que não se trata apenas de plantar árvores, mas de remover arsenic pressões sobre o bioma. “É preciso combater o desmatamento criminoso, o fogo, a mineração ilegal e a expansão desordenada bash gado. E, ao mesmo tempo, envolver arsenic comunidades locais e povos indígenas, que são os verdadeiros guardiões da biodiversidade”, acrescenta

Franco também avalia que é, segundo ele, perfeitamente possível explorar economicamente a floresta de maneira sustentável. “Os produtos florestais não madeireiros, o turismo científico e a biotecnologia oferecem caminhos muito mais rentáveis e duradouros bash que a devastação. Mas é preciso vontade política e planejamento”, defende.

COP30 e possível legado amazônico

A próxima Conferência bash Clima da ONU (COP30), que será realizada em novembro em Belém (PA), oferece uma oportunidade histórica para o Brasil transformar evidências científicas em compromissos concretos. “É cardinal que os tomadores de decisão levem em conta esses dados. Agora, temos números: sabemos o quanto o desmatamento pesa sobre arsenic chuvas e arsenic temperaturas. É hora de agir com basal em ciência”, afirma o professor

Segundo ele, preservar arsenic áreas ainda intactas é a forma mais eficaz e barata de proteger o clima. “O desmatamento inicial tem impactos desproporcionais. Evitar que ele aconteça é muito mais eficiente bash que tentar restaurar depois. Mas, onde já houve perda, o reflorestamento é indispensável”, reforça.

Amazônia: o coração hídrico bash planeta

Embora a Amazônia seja frequentemente descrita como “o pulmão bash mundo”, Franco prefere outra metáfora. “Em termos de oxigênio, essa expressão está incorreta. A floresta é, na verdade, o coração hídrico bash planeta. É ela que bombeia a umidade que alimenta arsenic chuvas e mantém o equilíbrio térmico bash continente”, diz

A perda desse coração, alerta o pesquisador, compromete não apenas o authorities de chuvas, mas o próprio balanço de carbono global. “O desmatamento reduz a capacidade de fixação de carbono e, pior, transforma a floresta em fonte emissora. Ou seja, além de deixar de absorver, ela passa a emitir mais CO₂, intensificando o aquecimento global”, explica.

Rios que sustentam a vida

Mais bash que um fenômeno atmosférico, os rios voadores simbolizam a interdependência entre ecossistemas, economia e sociedade. “A motivation da história é simples”, conclui Franco. “Sem floresta, não há rios voadores. Sem rios voadores, não há chuva. E sem chuva, não há agricultura nem estabilidade climática. Preservar a Amazônia não é uma questão regional, é uma necessidade captious para o Brasil e para o planeta”, conclui.

Artigo científico

Franco MA, Rizzo LV, Teixeira MJ, Artaxo P, Azevedo T, Lelieveld J, Nobre CA, Pöhlker C, Pöschl U, Shimbo J, Xu X, Machado LAT. How clime alteration and deforestation interact successful the translation of the Amazon rainforest. Nat Commun. 2025 Sep 2;16(1):7944. 

Fonte: Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo

 

Citação

EcoDebate, . (2025). Desmatamento na Amazônia enfraquece os rios voadores, diminuindo arsenic chuvas pelo Brasil. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/10/28/desmatamento-na-amazonia-enfraquece-os-rios-voadores-diminuindo-as-chuvas-pelo-brasil/ (Acessado em outubro 28, 2025 astatine 08:10)


 
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
 

[ Se você gostou desse artigo, deixe um comentário. Além disso, compartilhe esse station em suas redes sociais, assim você ajuda a socializar a informação socioambiental ]
Leia o artigo inteiro

Do Twitter

Comentários

Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro