Com o tropeço do relator do PL Antifacção, Guilherme Derrite (PP), que avançou o sinal contra a Polícia Federal e precisou recuar dias depois, a direita arriscou a vantagem que avalia ter nas discussões em torno da segurança pública, pauta que candidatos do grupo pretendem usar como vitrine nas eleições de 2026.
O movimento, visto como atropelado até por aliados, atrasou a votação do projeto e levou Derrite a recuar das propostas iniciais e se explicar reiteradamente.
"Vocês sabem quem está do lado da população e quem acha que bandido é um coitadinho vítima da sociedade", disse ele em vídeo na quarta (12), numa menção velada ao presidente Lula (PT), que chamou traficantes de vítimas e teve de se retratar depois. "Repito, é hora de descer do palanque e atender o grito de socorro da população."
O relatório inicial apresentado na sexta-feira (7) por Derrite, que é secretário de Segurança do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reduzia as competências da PF e a submetia aos governos nos estados.
Por isso foi amplamente criticado não apenas na corporação e no governo Lula, que apresentou o projeto, mas também por integrantes do Ministério Público, juristas, especialistas e até mesmo outros políticos da direita.
A condução do PL e as mudanças propostas no texto por Derrite —pré-candidato ao Senado no próximo ano por indicação de Tarcísio— abriram espaço para que o governo federal pudesse avançar na discussão, com acusações de que a direita teria tentado tirar proveito eleitoral do episódio.
Vice-líder da oposição e policial federal de carreira, o deputado Sanderson (PL) avaliou que o relatório gerou ruídos que precisaram de ajustes. "Faltou um pouco de comunicação e objetividade na construção do relatório", afirmou. "A proposta de redução de atribuições da PF, a necessidade de autorização dos governadores, não seria votada por nós na Comissão de Segurança Pública."
Um deputado próximo a Derrite também afirmou à reportagem, sob anonimato, que houve equívoco na formulação e na forma de divulgação. Para esse aliado, o modo como a PF foi tratada deu margem ao Planalto para bloquear a iniciativa da oposição.
Segundo essa leitura, a tentativa do secretário de limitar a atuação da corporação seria uma resposta à PEC da Segurança, defendida pelo governo e criticada pela oposição, que centralizaria as ações do órgão.
Desde a mais letal operação policial da história do país, levada a cabo pelo governador Cláudio Castro (PL) no Rio de Janeiro ao fim de outubro, governadores de direita se uniram para pautar o debate nacional em torno da segurança pública, tema que veem como o ponto fraco do governo Lula e da esquerda.
Com isso, conseguiram liderar uma nova narrativa com potencial de representar ganhos eleitorais em 2026. Políticos de direita, inclusive aliados de Jair Bolsonaro (PL), já admitiam, sob reserva, cansaço com a pauta da anistia ao ex-presidente e aos participantes do 8 de Janeiro.
Há sinais de que, por enquanto, a exploração do tema da segurança pública surtiu efeito ao interromper uma sequência de resultados positivos na evolução da popularidade de Lula. Nova rodada da pesquisa Genial/Quaest indicou um freio nessa recuperação, com 31% de avaliação positiva e 38% de negativa.
A indicação de Derrite para a relatoria do PL Antifacção, decidida pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), foi uma vitória para a direita, cujos partidos se uniram em torno do nome do secretário de Tarcísio.
A eleição presidencial será daqui a quase um ano, mas todos os movimentos de hoje já antecipam o debate. Neste caso, PP, PL, Republicanos e União Brasil, que devem caminhar juntos em 2026, também abraçaram as mudanças iniciais propostas por Derrite e classificaram as críticas como "narrativas" e "fake news".
O próprio Tarcísio participou de um podcast ao lado do secretário para defender a proposta de equiparar facções criminosas a organizações terroristas, discurso encampado pela direita brasileira em alinhamento ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O governo norte-americano tem justificado ações militares em território internacional, especialmente no mar do Caribe, sob o pretexto de combater o que chama de narcoterroristas.
"Isso [a ação de facções] tem que ser classificado como terrorismo, como forma também de aumentar o custo do crime. É esse entendimento que a gente tem", disse o governador, cotado para disputar a Presidência, possibilidade que ele publicamente nega.
Com o PL Antifacção, a direita planeja se unir em torno de uma primeira proposta concreta para a segurança pública, tema que políticos do grupo querem que seja o principal durante a campanha de 2026.
Professor de ciência política da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Jorge Chaloub afirma que a segurança virou a grande aposta da direita para frear a popularidade de Lula e para as eleições presidenciais, mas ainda é preciso tempo para entender como a opinião pública se desenhará.
Ele diz não ter dúvidas de que a maioria da população aprova medidas duras contra o crime, como mostrou pesquisa Datafolha após a operação policial no Rio de Janeiro, mas afirma que a extensão desse apoio ainda será disputada pelos atores políticos. "A depender de como for se desdobrando, não acho que seja tão simples e automática [a ideia de] que é só sair matando que vai ter o apoio da população."
Chaloub lembra que a popularidade do presidente autoritário de El Salvador, Nayib Bukele, frequentemente reverenciado por figuras da direita brasileira, não é consequência de assassinatos pelo Estado, mas sim da avaliação do eleitorado de que o governo conseguiu retomar territórios antes tomados pelo crime.
Neste sentido, afirma, ainda que a segurança pública não seja o ponto forte do governo Lula, mesmo governadores de direita não têm casos de sucesso para apresentar ao eleitorado. "Segurança pública nunca é um tema tão confortável para ninguém."

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