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É #FAKE que vídeo mostre avião bombardeiro nuclear dos EUA sobrevoando ilha perto Venezuela; cena foi gravada em Miami

Ao Fato ou Fake, Comando Militar do Sul dos Estados Unidos, responsável por operações no Caribe, disse que aeronave vista na cena não sobrevoou Aruba. Busca reversa e comparação com imagens do Google Street View indicam que cena, na verdade, foi registrada em Miami.

Vídeo não mostra B2 voando sobre praia de Aruba — Foto: g1

Circula nas redes sociais uma publicação dizendo que um avião bombardeiro de última geração americano foi flagrado sobrevoando uma praia em Aruba, ilha que fica muito perto da Venezuela. É #FAKE.

Publicado na segunda-feira (24) no X, onde passou de 315 mil visualizações, o post exibe o vídeo de um avião bombardeiro norte-americano B-2 sobrevoando, a baixa altitude, uma praia ensolarada. Sobreposto ao vídeo, aparece a seguinte mensagem, em inglês: "Passando férias em Aruba, quando vejo isso".
Aruba é uma pequena ilha do Caribe holandês, situada ao largo da costa da Venezuela. A menor distância entre os dois países é de apenas 25 km.

Mas, diferentemente do que diz a publicação viral, o vídeo não foi gravado lá. Na verdade, o episódio ocorreu em uma praia de Miami, na Flórida, meses atrás (leia detalhes abaixo).

⚠️Por que a afirmação é falsa?

Embora seja real — e não produto de inteligência artificial (IA)—, o vídeo registra outra localidade. O Fato ou Fake enviou e-mail ao Comando Militar do Sul dos Estados Unidos, que respondeu: "Podemos confirmar que a afirmação do vídeo, de que a aeronave foi vista em Aruba, não procede. O vídeo não representa o que afirma mostrar".

▶️ O Fato ou Fake também consultou Vitelio Brustolin, professor de relações internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador de Harvard. Ele citou explicou por que um B-2 não seria flagrado, com facilidade, em um local próximo à Venezuela, uma nação considerada hostil pelos americanos:

B-2 é feito para missões "furtivas" – "O B-2 é o bombardeiro estratégico furtivo projetado para penetrar espaço aéreo fortemente defendido. Então, dada a sua missão, voos de baixa altitude ou muito visíveis durante o dia sobre áreas costeiras tropicais caminham contra a norma esperada para esse tipo de avião – ao menos em missões de combate ou patrulha".
Falta de justificativa conhecida – "Um avião B-2 operando perto da Venezuela em plena luz do dia exigiria justificativa clara: treinamento, demonstração, exercício ou autorização diplomática. Isso faria com que esse evento fosse publicamente reconhecido, o que não é caso".
B-2 não operaria sem escoltas em uma área sensível – "Dadas as tensões entre Estados Unidos e Venezuela, é muito improvável que um B-2 operasse sem uma escolta. Especialmente ali perto da Venezuela, seria normal que ele tivesse uma escolta de caças F-22 ou F-35. Esses caças atuariam para impedir a aproximação de aeronaves hostis, garantir a segurança e, em um espaço aéreo hostil, controlar as aproximações de aeronaves civis, por exemplo".
Não visível ao olho nu – "Em regiões sensíveis, o B-2 voaria de 30 mil a 40 mil pés, invisível ao olho nu".

▶️ Para encontrar os conteúdos originais usados nas publicações falsas, o Fato ou Fake usou a plataforma InVID e fragmento ou vídeo em diversos frames (imagens estáticas). Depois, fez uma busca reversa com essas "fotos" no Google Lens, para verificar se o conteúdo havia sido reproduzido anteriormente por fontes confiáveis.

A pesquisa levou a um post feito no TikTok em 25 de maio, pelo perfil levinmoore.st. Na publicação, que tem mais de 500 mil visualizações, ele aponta que o vídeo gravado em Miami, durante as comemorações do Memorial Day, feriado norte-americano dedicado a militares mortos em serviço. Uma nova busca, agora pelos termos "Memorial Day Miami Beach", foi indicou o site oficial do evento, que teve demonstrações militares em 25 e 26 de maio, entre as ruas 1 e 21 da orla de Miami.

Por fim, é possível ver, no vídeo viral, um posto-salva-vidas azul-claro, com detalhes em amarelo. Uma comparação com imagens disponíveis no Google Street View permite observar que se trata da torre da rua 5, ou seja, dentro do perímetro do evento (veja abaixo).

Posto salva-vidas característico de Miami — Foto: g1

📌 Qual é o contexto da fake?

O governo Trump anunciou uma operação militar no Caribe poucos dias após dobrar para US$ 50 milhões a recompensa por informações que levem à prisão ou condenação de Maduro. O venezuelano é acusado pelo governo americano de liderar o Cartel de los Soles, grupo classificado nesta segunda-feira (24) como um grupo terrorista internacional.
Neste contexto, os EUA podem considerar Maduro um alvo legítimo ao anunciar ataques militares contra cartéis.
De agosto para cá, Forças americanas atacaram 21 embarcações no Mar do Caribe e no Oceano Pacífico, em ações que deixaram 83 mortos. Na versão defendida pelo comando americano, os barcos pertenciam a organizações narcoterroristas.
O jornal "The New York Times" informou que o presidente Donald Trump já tem uma série de opções militares na mesa, incluindo ataques a autoridades venezuelanas e medidas para assumir o controle do petróleo do país.
Já a revista "The Atlantic" afirma que Maduro estaria disposto a negociar a saída do poder, desde que recebesse anistia e garantias de segurança para viver no exílio. A Rússia diz estar pronta para ajudar Venezuela na escalada contra os EUA.
Além do envio de vários navios de guerra ao Mar do Caribe e de um submarino nuclear, os Estados Unidos também deslocaram caças, bombardeiros e helicópteros para o sul do Caribe.
Junto a esse cerco, estão bases militares que os EUA mantêm na região, além de estruturas de segurança cooperativa instaladas em aeroportos de países parceiros -- dois deles a menos de 100 km da Venezuela.