Em meio a crise de corrupção, chefe de gabinete de Zelensky renuncia na Ucrânia

Zelensky anunciou a renúncia de Yermak horas após a operação.

As buscas sem precedentes no coração do governo ucraniano ocorrem em um momento em que Kiev se encontra sob intensa pressão dos EUA para assinar um acordo de paz.

Yermak, uma figura poderosa na Ucrânia e participante-chave nas negociações com os Estados Unidos, confirmou que seu apartamento dentro do complexo presidencial no centro de Kiev foi revistado, com acesso restrito por postos de controle.

Não ficou claro onde Zelensky ou Yermak estavam no momento da operação policial realizada pela manhã.

O Gabinete Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU) e a Procuradoria Especializada Anticorrupção são os órgãos anticorrupção ucranianos. Eles estão atualmente conduzindo uma grande investigação sobre um escândalo de corrupção no setor de energia, envolvendo US$ 100 milhões e altos funcionários ucranianos, que dominou os noticiários nacionais nas últimas semanas.

Não ficou claro se as buscas estavam relacionadas ao caso.

Um porta-voz da Comissão Europeia, Guillaume Mercier, disse à emissora local ucraniana Radio Svoboda, nesta sexta, que estavam acompanhando os desdobramentos de perto e que as buscas demonstravam que as agências anticorrupção da Ucrânia estavam trabalhando. Ele acrescentou que o combate à corrupção era fundamental para a adesão do país à União Europeia.

Investigadores suspeitam que Tymur Mindich, ex-sócio de Zelenskyy, foi o mentor do esquema. Mindich fugiu do país, e qualquer processo criminal contra ele provavelmente será conduzido à revelia. Dois ministros importantes do governo renunciaram em decorrência do escândalo.

Dois ex-vice-presidentes de Yermak — Oleh Tatarov e Rostyslav Shurma — deixaram o governo em 2024 após serem investigados por órgãos de fiscalização por irregularidades financeiras. Um terceiro vice-presidente, Andrii Smyrnov, foi investigado por suborno e outras irregularidades, mas ainda trabalha para Yermak.

O escândalo agravou ainda mais os problemas de Zelenskyy, que busca apoio contínuo dos países ocidentais para o esforço de guerra da Ucrânia e tenta garantir a continuidade do financiamento estrangeiro. A União Europeia, à qual a Ucrânia deseja aderir, disse a Zelenskyy que ele precisa reprimir a corrupção.

Zelenskyy enfrentou uma rebelião sem precedentes de seus próprios parlamentares no início deste mês, após investigadores divulgarem detalhes de sua investigação sobre o setor energético.

Embora Yermak não tenha sido acusado de qualquer irregularidade, vários parlamentares veteranos do partido de Zelenskyy afirmaram que ele deveria assumir a responsabilidade pelo fiasco para restaurar a confiança pública. Alguns disseram que, se Zelenskyy não o demitisse, o partido poderia se dividir, ameaçando a maioria parlamentar do presidente. Mas Zelenskyy os ignorou.

Zelenskyy pediu aos ucranianos que se unissem e “parassem com os jogos políticos”, em vista da pressão dos EUA para que se chegasse a um acordo com a Rússia.

Yermak conheceu Zelenskyy há mais de 15 anos, quando era um advogado que se aventurava no ramo da produção televisiva e Zelenskyy era um famoso comediante e ator ucraniano.

Ele supervisionou as relações exteriores como parte da primeira equipe presidencial de Zelenskyy e foi promovido a chefe de gabinete em fevereiro de 2020.

Yermak acompanhou Zelenskyy em todas as viagens ao exterior desde a invasão russa em fevereiro de 2022, e a confiança que o presidente deposita nele faz com que o poder de Yermak pareça quase intocável.

No âmbito interno, autoridades descrevem Yermak como o guardião de Zelenskyy, e acredita-se amplamente que ele tenha escolhido todos os principais nomeados do governo, incluindo primeiros-ministros e ministros.