Encontro entre Lula e Trump é vitória da 'Realpolitik' sobre o amadorismo

O caso do Brasil, nessa saga das tarifas americanas, se deu em dois atos. Primeiro, recebemos uma tarifa de 10%, que soou até como um alento. Sobretudo, quando cotejada com os demais percentuais da famigerada tabelona em cartolina apresentada pelo próprio Trump.

No segundo ato, recebemos um adicional de 40%, que foi pré-anunciado por meio da tão discutida carta enviada ao presidente brasileiro. Nela, as razões econômicas escasseavam. A argumentação política, por sua vez, parecia compor o cerne das motivações. Ameaças, ataque às instituições brasileiras e desrespeito ao Estado Democrático de Direito e à soberania do Brasil.

Nada como o tempo. O Conselheiro Acácio já vaticinava: as consequências chegam depois. No nascedouro, o tarifaço trouxe quase 700 exceções, milimetricamente escolhidas após o recebimento, provavelmente, das pressões dos setores econômicos americanos afetados.

Medidas dessa magnitude não passam sem deixar rastros sobre a inflação e a atividade econômica. Não é só o Brasil o perdedor, em termos de redução de seus fluxos exportados. Os produtos para os consumidores americanos ficam mais caros, porque se reduz a oferta, da noite para o dia, num movimento difícil de se compensar com produção local, em muitas situações.

O posicionamento do Brasil, como afirmei desde o início dessa novela, foi correto. Figuras como Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, conduziram as negociações brilhantemente. A excelência da burocracia weberiana do Itamaraty combinou-se com a habilidade política dos atores mencionados e o empenho do setor empresarial brasileiro.

Tudo longe do trivial, a verdade é que há, ainda, grande incerteza sobre os próximos capítulos da história. Mas, sem dúvida, a reunião de ontem, na Malásia, foi uma evidência de que a Realpolitik prevaleceu.