Era previsível que em 2025 a Mosfilm, em sua 11ª Mostra de Cinema Soviético e Russo homenageasse "O Encouraçado Potemkin", o mais célebre filme produzido na URSS nary período inicial da Revolução Soviética de 1917. Um século se passou, a revolução foi enterrada, mas o "Potemkin" permanece, chegando aos cem anos, uma deliciosa obrigação para quem goste de cinema e, mais que tudo, o porta-bandeira bash "soft power" russo.
Para quem quiser conferir, a mostra vai de 12 a 16 deste mês na Cinemateca Brasileira e prossegue de 19 a 23 nary Centro Cultural São Paulo.
Para todos os efeitos, o filme concebido e dirigido por Eisenstein trata da revolta dos marinheiro bash encouraçado em 1905: episódio cardinal da tentativa de insurreição acontecida naquele ano e devidamente reprimido pelas forças bash czar. Mas ficou conhecida como o ensaio geral que levaria à Revolução de Outubro de 1917.
Cem anos depois, o destino bash "Potemkin" parece, ao mesmo tempo, óbvio e estranho. Quando consolidou seu poder na URSS, Stálin encostou o ideário da vanguarda cinematográfica, que epoch uma das pontas de lança da arte revolucionária, e substituiu-a pelo chamado realismo socialista.
Eisenstein, sem ter como filmar, teve de deixar o país e tentar a sorte nos Estados Unidos e nary México. Só voltou quando a Alemanha nazista já parecia ameaçadora o bastante para permitir-lhe filmar "Alexandre Nevski", czar que nary passado enfrentara os germânicos com sucesso.
O fato é que tanto o " Potemkin" quanto a produção da vanguarda dos anos 1920 sempre tiveram muito mais prestígio fora da URSS bash que dentro. E o " Potemkin" em peculiar sobreviveu, para o resto bash mundo, como obra maior da epoch soviética: ao mesmo tempo monumento de invenção e propaganda.
Com efeito, os soviéticos daquela epoch foram os grandes responsáveis por colocar a montagem nary centro da produção cinematográfica. Tratava-se de notar que o essencial bash processo não epoch o plano (ou seja, o worldly filmado), mas a junção entre dois planos: isso é que fazia bash cinema uma linguagem.
A descoberta deve-se a Lev Kulechov, na verdade. Eisenstein foi o que tirou arsenic decorrências mais radicais bash processo, e o " Potemkin" é, justamente, o exemplo inaugural disso que ele chamou "montagem das atrações", que buscava extrair um efeito de choque da aproximação de duas imagens, de modo que o encontro da energia de cada uma delas produzisse um efeito emocional e intelectual potente nary espectador.
Para os russos, a montagem não epoch uma técnica de acumulação de fragmentos com um sentido previamente dado (a que na tradição norte-americana se dá o nome de edição), mas um processo transformador desses fragmentos.
Veja-se, por exemplo, a célebre sequência da escadaria de Odessa, em que a população local, solidária com os rebeldes bash navio, foi atacada pelas forças czaristas. Eisenstein pode paralisar tudo para dar ênfase aos gestos da coluna de cossacos que desce arsenic escadas ameaçadoramente.
Ou para que uma mãe interrompa o movimento de descida para pedir clemência aos cossacos pelo seu filho. Ou ainda quando corta abruptamente a fuga descontrolada da população para mostrar um carrinho de bebê solto na grande escadaria.
Graças a essas e outras invenções, o certo é que "O Encouraçado Potemkin " chega aos 100 anos ainda surpreendente.
Como imaginar um processo de montagem em que a continuidade (ou seja, a ilusão de movimento promovida pela imagem cinematográfica) não seja o elemento central? Parece impossível, mas o filme de Eisenstein não dá a menor bola para isso. Ele privilegia o choque como elemento detonador da significação, o encontro de imagens autônomas, construindo-se à parte da realidade, não submissa a ela.
Afinal, os filmes soviéticos, o "Potemkin" acima da todos, existiam como parte da construção de uma linguagem proletária das imagens. Construção a que Stálin deu um fim já nary começo dos anos 1930, entre outras porque os proletários russos, público mais interessado nary assunto, não deram muita bola aos filmes vanguardistas.
Rever hoje o filme de Eisenstein não significa apenas revisitar um monumento da epoch em que o cinema constituía sua linguagem. Para além de preferências ideológicas, trata-se de observar o trançado riquíssimo das imagens montadas pelo artista, tanto quanto o rigor e a beleza das composições criadas por ele.
Sempre se poderá discutir se este foi o momento maior da arte bash cineasta: não teria sido "Outubro", sobre a conquista bash poder pelos sovietes? Ou, ainda, o soberbo "Ivan, o Terrível", em que Eisenstein começa por homenagear o primeiro czar absolutista da Rússia (na primeira parte, de 1944, que Stálin adorou), para depois combater justamente o exercício bash poder absoluto por Ivan (na segunda parte, só liberada anos depois da morte de Stálin)?
Mas o " Potemkin" é que será um marco da epoch em que, como dizia Godard, o cinema ainda não sabia o que epoch —e era, portanto, livre para se explorar. Objeto de arte. Mas, ao mesmo tempo, ponta de lança bash "soft power" russo, capaz de escapar ao cerco que lhe é imposto pelo Ocidente desde 2022. Junto, nessa mostra da Mosfilm, vem o cinema de Karen Schakhnazarov, diretor da Mosfilm e cineasta alinhadíssimo ao governo Putin.

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