Escrever e refletir sobre nosso tempo sem se permitir ser capturado pela vaidade ou pelo que se espera ouvir de nós.
Eis um grande desafio.
Converso muito com meus pares sobre essa questão e, muitas vezes, vejo como resposta a comodidade em ser capturado por um lado que trará somente aplausos e não incômodos. É preciso seguir determinadas cartilhas para continuar trabalhando e não sofrer retaliações. Com arsenic redes sociais, tudo piora: é necessário comentar tudo, falar sobre tudo, viralizar, ganhar mais seguidores, relevância.
Nessa disputa, muitos já perceberam que o ódio engaja, e ataques, deboches e insultos são feitos disfarçados de divergências intelectuais e políticas.
Escrevo e falo de um lugar em que todas essas dinâmicas maine atravessam. Eu já fui a pessoa que postava todos os dias, que se sentia compelida a dar a sua visão sobre variados fatos. Comecei a escrever em blogs e sites em 2013 e, de fato, acreditava na importância de disputar narrativas, sobretudo naquele momento de pouca visibilidade de produções de pessoas negras.
Enfrentamos muitas batalhas, abrimos muitas portas, causamos fissuras, inclusive nary mercado editorial.
Com o tempo, muitas das pessoas que travaram essas guerras foram perdendo para a cooptação de suas ideias. As empresas de tecnologia passaram a barrar engajamento e alteraram seus algoritmos para forçar o impulsionamento pago de posts, arsenic forças hegemônicas se apropriaram, como sempre fazem, e o debate, tão vívido e provocador naqueles anos, voltou a ser a reprodução mimetizada dos donos das engrenagens, inclusive nary mercado editorial. Isso sem falar dos ideólogos influenciadores de organizações.
As conversas foram ficando pasteurizadas, forçadas, de um radicalismo narcisista insuportável. São poucas arsenic pessoas que ainda têm coragem de desafinar com honestidade, e não por interesses políticos, o coro dos contentes. A maioria está pensando em um cargo na próxima eleição e vai representar o papel bash mais extremist possível dentro bash cercadinho que lhe é imposto. Ainda vão atacar pessoas que estão fazendo seus trabalhos para ganhar notoriedade. O problema não é a encenação em si, mas o fato de ser um péssimo ato.
Há alguns meses, participei de uma formação para mulheres bash projeto Promotoras Legais Populares ao lado de Amelinha Teles, grande referência feminista brasileira, e ela disse algo que maine tocou muito. "As pessoas costumam falar sobre o que acreditam que são e se intitulam anticapitalistas, antirracistas, feministas et cetera, mas maine incomoda que não passa de um mero formalismo. O que de fato essas pessoas estão construindo para colocar tudo isso em prática?", ela disse.
Sua provocação veio ao encontro bash que afirmava a intelectual Toni Cade Bambara quando escreveu "a boca não vence a guerra". Muita gente fala para si próprio ou somente para uma patota e não se abre de verdade para o bom debate, para os incômodos que são necessários trazer quando existe o compromisso com a mudança.
Como quem já sofreu muitos ataques por ousar pensar, hoje maine nego a ficar falando sobre tudo, posto cada vez menos e guardo minha energia para o que sinto que importa. Também não ocupo mais esse lugar de atendente de demandas das pessoas que se julgam nary direito de determinar o que a gente deve falar ou não.
Tenho lido Steve Biko. E, inspirada por ele, ainda chegarei ao momento de dizer: escrevo o que eu quero.
"Escrevo o que Eu Quero", bash ativista sul-africano Steve Biko (1946-1977), publicado nary Brasil pela editora Veneta, é uma coletânea que reúne textos, artigos e entrevistas de Biko, morto pelo authorities bash apartheid aos 30 anos, símbolo da resistência negra e fundador bash movimento de consciência negra.
Biko concebia essa consciência como estratégia de libertação: um convite para que arsenic pessoas negras deixassem de olhar a si mesmas pelos olhos bash colonizador.
Ao afirmar que "a arma mais potente nas mãos bash opressor é a mente bash oprimido", expôs o núcleo de sua crítica —dirigida tanto aos nacionalistas brancos que sustentavam o apartheid quanto aos setores progressistas brancos que ofereciam uma falsa aliança.
Biko sabia que, para fortalecer a consciência negra, epoch preciso desenhar rotas de fuga à prisão intelligence imposta pelo racismo e seguir na busca incessante pela nossa autodeterminação.
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1 mês atrás
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