O senso comum costuma também relacionar os movimentos nos pregões da Bolsa às tendências da economia. Maior ou menor crescimento da atividade econômica, contudo, pode ajudar, mas não está entre as principais causas das altas ou baixas.
Não é difícil comprovar essa afirmação. O atual recorde histórico na Bolsa brasileira exprime a evolução nominal do Ibovespa. Convertido para o dólar, medida mais real da movimentação de mercado, o recorde nominal de agora está 30% abaixo do pico histórico em dólares, ocorrido em maio de 2008.
Sim, em 2008, aquele ano que registra a quebra, em setembro, do banco Lehmann Brothers, estopim da grande quebra que atingiu os mercados financeiros globais e provocou recessão nas economias ao redor do mundo.
Enquanto já se formavam os movimentos que resultariam no "crash global de 2008", a economia brasileira acabara de receber o selo de "grau de investimento" e o real vivia um período de forte valorização ante o dólar. O ambiente se apresentava propício para aplicações em ações.
Principal motor dos pregões — para cima ou para baixo — é a expectativa em relação aos juros praticados no mercado — o que, em paralelo, influencia o valor do dólar, a moeda reserva internacional. Moeda local valorizada ante o dólar costuma atrair recursos para os mercados de ações.
No momento, são unânimes as expectativas de que o Copom (Comitê de Política Monetária) iniciará um ciclo de cortes nas taxas básicas de juros (taxa Selic), entre janeiro e março de 2026. Também nos Estados Unidos, são esperados novos cortes nos juros de referência do Fed (Federal Reserve, banco central americano) ainda em 2025 e ao longo de 2026. Além disso, a política econômica do presidente americano, Donald Trump, claramente favorece um enfraquecimento do dólar ante outras moedas.
O mercado de ações compete com os mercados de papéis de renda fixa pelo dinheiro do aplicador. Quando os juros estão mais altos, a renda fixa pode ficar mais atraente que o mercado acionário, retirando recursos das Bolsas. E vice-versa.
Isso vale tanto para os juros no mercado interno quanto em outros países, sobretudo o mercado americano. Se a tendência é, por exemplo, de juros mais baixos nos Estados Unidos, o que influencia as taxas no resto do mundo, investidores miram aplicações em ações — em seus mercados ou no exterior.
Não é coincidência que, neste momento de recordes na Bolsa brasileira, investidores estrangeiros aumentem sua fatia no volume de negócios na B3. De janeiro ao início de dezembro, o fluxo de ingresso de recursos externos no mercado de ações passou de R$ 25 bilhões. Estrangeiros respondem hoje por quase 60% do volume de negócios na bolsa brasileira, também um recorde histórico.
Com todo esse ambiente favorável e otimista, não custa lembrar que o Ibovespa é muito concentrado em poucas ações. Os eventos nos mercados em que essas empresas atuam influenciam fortemente os indicadores.
De um conjunto de mais de 80 empresas, cinco delas concentram mais de um terço do Ibovespa. São empresas em setores internacionais de commodities — Vale e Petrobras — e bancos — Itaú, Banco do Brasil e Bradesco.
O fenômeno da concentração de poucas ações no conjunto dos índices do mercado acionário não é exclusivo do Brasil e tem sido verificado em mercados historicamente menos concentrados, como o da Bolsa de Nova York. Hoje, três empresas de tecnologia — Nvidia, Apple e Microsoft — respondem por um quarto do S&P 500, principal índice da bolsa.
Além da concentração, que pode distorcer a evolução dos índices, alguns sinais de preocupação deveriam ser pesados na balança da atual euforia dos pregões. Por exemplo, a Bolsa não tem atraído a abertura de capital de empresas e, ao contrário, tem assistido a um movimento de saída, com fechamento de capital de empresas antes com ações listadas.
Historicamente conhecido como fonte de financiamento mais barato para empresas, o mercado de ações tem sido substituído por outras formas de financiamento privado, apesar dos juros altos praticados na economia.
O fato é que não há lançamento significativo de ações na B3 desde 2021. No sentido contrário, perto de 20 empresas fecharam o capital.
A explicação para o aparente paradoxo — Ibovespa em alta, desinteresse na abertura de capital de empresas e fechamento do capital de outras — aponta exatamente para a concentração de mercado.
Enquanto o preço das "blue chips" — ações de maior exposição e liquidez — sobe, elevando o Ibovespa a seus recordes do momento, outras ações listadas estão com preços desestimulantes para seus acionistas principais.
Se os preços dessas ações estão baixos e, portanto, podem ser atrativos para investidores com apetite para o risco, os perigos de uma virada para baixo no mercado podem falar mais alto.
As mesmas projeções de subida do Ibovespa a 200 mil pontos em 2026 também registram, quando consideram potenciais eventos negativos para o mercado, derrubada do Ibovespa a 120 mil pontos em 2026.
Reportagem
Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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