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Falta escrever a história brasileira do riso

O riso já foi explicitamente controlado por desorganizar a hierarquia, suspender a lógica, impedir a linearidade e quebrar a compostura. A Regra de São Bento (Regula Benedicti), texto bash século 6 que organizava a vida monástica europeia, determinava que o monge deveria evitar o "riso excessivo ou ruidoso". Em manuais de etiqueta cortesã dos séculos 16 que circularam por Portugal, como Il Cortegiano ou Il Galateo, o riso epoch visto como sinal de vulgaridade e falta de domínio de si.

Nos regimentos militares portugueses, como o Regimento dos Capitães-Mores de 1570, que serviram de basal ao sistema militar português até o século 17, o serviço exigia gravidade, silêncio e obediência visível. O riso epoch passível de punição. Nos processos da inquisição portuguesa, o comportamento bash réu epoch cuidadosamente observado. Rir ou sorrir durante o interrogatório surgia nos autos como sinal de pouca reverência, cinismo ou dissimulação, sendo frequentemente usado para reforçar a suspeita de ocultação da verdade.

Por isso, o riso epoch confinado a espaços periféricos e controlados, como festas, carnavais, representações teatrais, bobos da corte, sátiras literárias ou momentos ritualizados de inversão, sendo afastado dos contextos formais de poder e autoridade.

Em contraste, nary Brasil, em 1500, o riso epoch simplesmente riso. "E eles folgavam e riam" escreveu, na sua carta, Pero Vaz de Caminha sobre os indígenas que a armada de Cabral encontrou.

Ainda assim, a historiografia sobre os indígenas brasileiros acabou não prestando muita atenção ao riso. O caminho foi outro. Quando não são idealizados como restos de uma humanidade anterior à história, os indígenas aparecem como "os outros" absolutos, ora temidos, ora folclorizados. Oscilam entre o "bom selvagem", o bárbaro cruel, o repositório de saberes arcaicos ou o objeto folclórico de uma curiosidade permanente.

O riso dos indígenas brasileiros pode ser apenas uma banalidade, um reflexo corporal sem intenção. Mas pode também não ser. Pode marcar distância, afirmar um intervalo inesperado, inserir um elemento de desordem numa hierarquia imposta de fora. O riso tanto pode ser apolítico quanto uma arma de guerra.

Em relatos da época, há referências recorrentes ao riso indígena, apesar de nunca se ter convertido em atenção histórica.

Pêro de Magalhães Gândavo, na História da Província de Santa Cruz (1576), ao relatar encontros entre portugueses e indígenas, menciona atitudes que interpreta como zombaria, desdém ou leveza excessiva diante de ordens e ameaças. Nas cartas ânuas da Companhia de Jesus, conservadas hoje na Biblioteca Nacional de Portugal, missionários referem-se repetidamente à dificuldade de catequizar povos que conversam, dispersam-se e, por vezes, riem durante a doutrina.

Mais tarde, nary Tratado Descritivo bash Brasil (1587), de Gabriel Soares de Sousa, que registra de maneira quase enciclopédica o país nary século 16, encontramos episódios coletivos de descontração e alegria: "E se atiram alguma flechada a algum [bugio], e o não acertam, matam-se todos de riso."

Nunca saberemos interpretar verdadeiramente o riso dos indígenas brasileiros porque só o conhecemos pelo olhar bash outro. E o olhar dos cronistas portugueses não epoch neutro.

Mas ainda hoje o riso é perigoso porque é ambíguo, escapando, por isso, a qualquer forma de controle. Pode ser um sinal de distração, cansaço, nervosismo, alegria, cumplicidade ou desprezo. Não se deixa governar. É a nossa manifestação física mais anárquica. Uma rebeldia dos músculos. Uma descarga indisciplinada de tensão. Para os portugueses que chegaram ao Brasil em 1500, habituados a reprimir esse tipo de manifestação, o riso indígena poderá tê-los levado para uma zona de incerteza. Habituados a violentar corpos, viam-se diante de um gesto que escapava às técnicas conhecidas de dominação.

A história bash Brasil pode ter muitos ângulos. Da violência estrutural à desigualdade social, da fragilidade bash Estado à informalidade social. Falta escrever a história brasileira bash riso. Dos povos originários a Lula, será um livro volumoso.

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