O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), conseguiu emplacar o novo comando da Caixa Econômica Federal, banco que negocia verbas de publicidade com o filho do deputado.
Arthur Lira Filho, 23, é sócio da Omnia 360. A empresa representa veículos de mídia que participam de campanhas da Caixa e outros órgãos públicos.
Lira indicou para a presidência do banco o funcionário de carreira Carlos Antônio Vieira Fernandes. O governo Lula (PT) confirmou nesta quarta-feira (25) que ele irá substituir Rita Serrano no comando da Caixa.
A OPL Dikgital e a RZK Digital, ambas clientes da Omnia, estão na lista de veículos que atuaram na publicidade do banco em 2022 e 2023. A Caixa não divulga os valores pagos a cada veículo.
A Rocket Digital também é fornecedora do banco. A empresa tem como donos Maria Cavalcante, que é sócia da Omnia, e Rodolfo Maluf Darakdjian, proprietário da OPL.
Maria Cavalcante é filha de Luciano Cavalcante, ex-assessor de Lira que foi alvo de operação da Polícia Federal sobre desvios na compra de kits de robótica —o inquérito foi suspenso em julho por Gilmar Mendes, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
A publicitária Ana Magalhães também é dona da Omnia, empresa aberta em 2021.
A Omnia não tem contratos diretamente com a Caixa ou órgãos públicos. A empresa ganha uma comissão dos veículos que representa, quando essas empresas exibem anúncios, por exemplo, em outdoors ou na internet.
A empresa do filho de Lira representa e acompanha os veículos clientes em reuniões. A Caixa registra 26 entradas de sócios da Omnia no banco entre 2021 e 2022, sendo quatro delas de Lira Filho. Ele esteve no banco com representantes da RZK. O último registro de entrada do filho do presidente da Câmara é de abril do ano passado.
Os dados foram repassados pela Caixa à Folha após pedido baseado na LAI (Lei de Acesso à Informação). O banco afirma que não recebeu representantes da empresa em 2023.
A Caixa também informou que os representantes da Omnia fizeram reuniões com funcionários do banco que lidam com publicidade e marketing.
Caixa, Omnia, OPL, RZK e Rocket não responderam aos questionamentos da reportagem sobre possível conflito de interesse nas relações do banco com o filho de Lira. O presidente da Câmara também não quis se manifestar.
Em junho, a OPL disse à Folha que a empresa de Lira Filho recebe 15% dos valores líquidos negociados com as agências do governo. "Porcentagem padrão para todos os nossos representantes pelo Brasil", segundo a empresa representada pelo filho do presidente da Câmara.
As clientes da Omnia já veicularam anúncios de campanhas publicitárias ao menos da Secom (Secretaria de Comunicação Social), dos ministérios da Saúde e Educação, do Banco do Brasil e da Caixa.
Em junho, a Omnia disse que a atividade de representação comercial "consiste justamente em promover os produtos do representado para o trade do seu setor".
"Faz parte das atividades da Omnia 360 fazer encontros nas agências de publicidade e apresentar novidades e detalhes técnicos aos anunciantes. Algo corriqueiro nas atividades do mercado publicitário, público e privado", afirmou a empresa do filho de Lira.
Procurada novamente no último dia 20, a empresa não se manifestou.
A Caixa não informa os valores pagos a veículos de mídia. O banco diz que essa informação é estratégica e deve ser mantida sob sigilo.
"Os critérios de escolha de cada veículo, a negociação comercial praticada e os objetivos de sua utilização são considerados informações estratégicas negociais da Caixa e de alta relevância para manutenção da competitividade deste banco no mercado bancário", declarou o banco via LAI.
O banco divulga apenas o total gasto a cada mês com as campanhas. Em 2022, a Caixa pagou cerca de R$ 305 milhões para produzir e distribuir publicidade.
O comando do banco estava na lista de desejos do centrão e entrou nas negociações com o presidente da Câmara em troca de apoio no Congresso Nacional.
Maria Rita Serrano foi demitida nesta quarta do comando do banco estatal, e o governo entregou a um aliado de Lira o posto.
Fernandes é paraibano, economista, integra os quadros do banco, foi diretor-presidente da Funcef (Fundação dos Economiários Federais), o fundo de pensão da Caixa, e trabalhou com ministros do PP no governo Dilma Rousseff (PT).
Ele foi demitido por Dilma em abril de 2016, no momento em que o PP começava a desembarcar do governo para apoiar o processo de impeachment.
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