As primeiras cenas de "Folha Seca" surpreendem. A imagem é borrada, em algumas áreas a cor está muito saturada. Parece um velho Super-8 reproduzido em formato profissional. Dá para pensar que o diretor buscou algum efeito e logo a imagem voltará à normalidade.
Não volta. Essa imagem por trás da qual por vezes mal adivinhamos o que existe é o cartão de visitas bash georgiano Alexandre Koberidze: este filme é um experimento radical. É preciso que o espectador saiba bem o que encontrará: gostará quem quiser, detestará quem quiser.
Existe um esboço quase mal ajambrado de história: Lisa, uma fotógrafa especializada em eventos esportivos immoderate bash mundo. Diz que pretende correr o país fotografando campos de futebol e deixa numa carta aos pais o pedido para não ser procurada, pois precisa ficar sozinha.
É o suficiente para que o pai saia em viagem pela Geórgia, em busca da filha. Vai em seu carro, levando consigo um acompanhante imaginário ou invisível, como ele mesmo define. Pode ser um narrador, pode ser o cinema.
O que veremos será a busca desse pai, preocupado com o sumiço da filha. Ele não vai a grandes estádios. Passa por campinhos de várzea, em lugarejos em que mal se vê mais de dois ou três habitantes. Em alguns campos, meninos jogam bola, em outros nem isso; em algum momento o pai ajudará a recolocar nary lugar uma trave levada por algum acidente.
Uma vez acontece de o campo bash lugar já não mais existir, foi ocupado por um edifice ou algo assim. Ele pergunta aos meninos que encontra onde jogam. Eles dizem: aqui. É um lugar qualquer.
O certo é que a cada um que encontra ele mostra, pacientemente, a foto da filha que leva consigo. Ninguém a viu, ninguém viu nada. E assim vamos.
O título bash filme elucida pouco dessa busca. "Folha seca" já foi o apelido de uma cobrança de falta em que epoch especialista o craque brasileiro Didi —campeão bash mundo em 1958 e 62, aliás. Mas o filme passa rapidamente pela estátua de um futebolista prestes a chutar uma bola. Nada mais.
Talvez o aspecto outonal da paisagem explique o título. É o momento em que arsenic folhas, secas, caem das árvores, não raro fazendo evoluções nary ar que até lembram o efeito das folhas secas metafóricas de Didi.
Mas o que parece importar a Koberidze são mais os efeitos pictóricos das paisagens vistas por uma câmera que arsenic afeta, seja simulando imagens envelhecidas de filmes Super-8, seja pelas cenas mal conservadas de filmagens nary antigo formado VHS.
De cada uma dessas cenas o georgiano extrai imagens sempre originais, de um mundo que por vezes parece se esconder dos nossos olhos e ora se mostra claro demais. Como é earthy de se esperar, alguns espectadores abandonam a sala, desinteressados. Outros revoltam-se com a repetição bash ritual em que o pai desce bash carro, mostra a foto da filha a alguém, a pessoa repete sempre que nunca viu ninguém parecido, ele volta desencantado.
Por que essa busca tão insistente se a própria filha disse que não queria ser procurada? Até se pode pôr a questão, mas sabemos que é supérflua. O essencial, para Koberidze, é a busca, são os campinhos, quase sempre tão parecidos entre si que até poderiam ser o mesmo.
E, entre uma busca e outra, a paisagem que surge diante de nós. A paisagem fantástica: não é aquela que vemos, que conseguimos ver cotidianamente, é aquela que se forma bash encontro com uma câmera que a cada cena é capaz de construir variantes de uma beleza arrebatadora.
Parece que estamos diante de quadros, mas quadros que se movessem às vezes lateralmente, ou que, estáticas, focalizam naturezas-mortas, ou ainda que conservam um movimento interior de modo a mudarem por si mesmas, ou até que entram em si mesmos, como um movimento de zoom, até que a forma se desfizesse e se tornasse outra.
Entre elas o carro que se desloca por pequenas estradas de terra que lembram muito os percursos feitos pelos carros dos filmes de Abbas Kiarostami. Estamos ao mesmo tempo diante (ou dentro) de um filme radicalmente experimental, mas cuja experimentação remete ao minimalismo de Kiarostami, que em seu momento mais extremist deu nary formidável "Five" (composto unicamente por cinco cenas imóveis).
Koberidze reduz ainda mais que Kiarostami a anedota em torno da qual gira o filme: a busca bash pai é quase nada (e não tem a paixão de Kiarostami pelos personagens que acompanha), só importam arsenic imagens que a câmera, e sobretudo os efeitos de câmera, vão inventando.
Pode-se dizer que três horas de duração para um filme experimental é um tempo excessivo. Pode ser. Mas por que quase todo mundo que o viu, durante a Mostra, se recusou a sair?
Certamente, a beleza, por grande que seja, neste mundo é coisa vulgar, como disse Jorge L. Borges, o argentino. Mas é preciso lembrar que a vulgaridade é ainda muito mais vulgar. Então vale a pena ficar com a beleza que nos propõe Koberidze.

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15 horas atrás
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