O Palácio do Planalto identificou em pesquisas internas a resiliência de uma base bolsonarista que não tem mudado sua opinião negativa sobre o governo Lula (PT) apesar de acenos do presidente ao centro e a segmentos religiosos. Essa parcela tampouco tem reagido a indicadores econômicos, como inflação e emprego.
Nas palavras de auxiliares de Lula, passados dez meses de mandato, existe uma calcificação de um eleitorado hostil ao petista que não responde positivamente a nenhuma política do governo.
O Planalto realiza pesquisas de opinião regulares para medir a aceitação de Lula junto ao eleitorado. Nessas sondagens, segundo relatos feitos à Folha, quase um quinto dos entrevistados tem persistentemente avaliado o governo como péssimo.
A existência de uma parcela refratária a Lula não é novidade. O presidente já governou durante oito anos (2003-2010) e sempre conviveu, em maior ou menor grau, com uma fatia da sociedade crítica das suas gestões.
O que preocupa conselheiros do petista é que os levantamentos sobre a atual rejeição a Lula têm um percentual de "péssimo" mais elevado do que nos mandatos passados.
Nas gestões anteriores, dizem esses auxiliares, havia um volume mais significativo dos que classificavam o governo Lula como "ruim" —um segmento que reagia positivamente a determinadas políticas federais.
A inversão dessa tradição aponta para uma solidificação da oposição a Lula. Esses eleitores têm como principal líder o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Impressionou o Palácio do Planalto o fato de as pesquisas não mostrarem variações no índice de eleitores que classificam Lula como péssimo mesmo nos momentos em que o governo buscou se distanciar de pautas mais à esquerda, principalmente no campos dos costumes.
A avaliação na área política é que, apesar da vitória eleitoral de Lula, o conservadorismo ganhou espaço no país. Nesse sentido, o Planalto tem tentado desviar de polêmicas nos costumes e colocado foco em políticas econômicas.
Diante do receio com esse diagnóstico, aliados do petista chegaram a se incomodar nos bastidores com a agenda da então ministra Rosa Weber na presidência do STF (Supremo Tribunal Federal), quando ela colocou em pauta ações sobre a descriminalização das drogas e do aborto, temas frontalmente rechaçados por conservadores.
O próprio Lula verbalizou o diagnóstico do conservadorismo na sociedade em café da manhã com jornalistas nesta sexta-feira (27).
"O Congresso Nacional, por mais que a gente queria colocar dúvida, diga que é conservador, o Congresso Nacional é a cara do povo brasileiro no que ele vota", disse o mandatário. "Certo ou errado, foi aquilo [o que foi votado]. A gente vai ter de se preparar para mudar nas próximas eleições."
Diante dessa impossibilidade de diálogo com uma fatia significativa da população, a estratégia de aliados de Lula é ampliar gestos ao eleitorado que avalia o governo como regular. Um dos caminhos para isso, dizem, é adotar ações destinadas à classe média.
Nas sondagens, Lula tem forte desempenho entre os mais pobres, mas precisa melhorar conforme a faixa de renda sobe.
Entre as medidas propostas estão a perspectiva de ampliação da faixa salarial dos contemplados por programas como o Minha Casa, Minha Vida e o Desenrola (de renegociação de dívidas), além da política de valorização do salário mínimo.
Na segunda (23), Lula manifestou a intenção de ampliar o Minha Casa, Minha Vida para atingir famílias com renda mensal bruta superior a R$ 8.000. Segundo ele, o programa não precisa ser exclusivamente destinado aos mais pobres.
Lula também afirmou que o salário mínimo precisa aumentar todos os anos acima da inflação.
"Eu acho que a meninada tem que aprender uma profissão. Por conta de uma profissão, eu fui o primeiro de oito filhos da minha mãe a ter uma casa própria, a ter um carro, uma televisão. Porque a gente foge do salário mínimo", disse.
Procurado, o ministro Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social) disse que avalia como positivas as pesquisas internas feitas pelo governo. Segundo ele, os levantamentos trazem dados animadores para o Planalto, entre eles a aprovação de Lula.
Ele argumentou que as políticas do governo têm se revertido em aprovação até em uma fatia do eleitorado que não votou no petista no ano passado.
Pimenta disse ainda que o governo se prepara para entrar numa segunda etapa. Os primeiros meses da gestão, segundo ele, foram dedicados à retomada de políticas públicas voltadas aos mais pobres, com destaque para programas como o Farmácia Popular, Mais Médicos e Luz para Todos.
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