Policiais carregam um corpo no Rio de Janeiro. Atrás deles há uma fila de corpos no chão.

Crédito, Fabio Teixeira/Anadolu via Getty Images

Legenda da foto, Operação contra o Comando Vermelho deixou 121 mortos e é considerada a mais letal do Rio de Janeiro
    • Author, Iara Diniz
    • Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
  • Há 26 minutos

O comunicado, assinado pelo Mecanismo Internacional de Especialistas Independentes para o Avanço da Igualdade e Justiça Racional na Aplicação da Lei, afirma que a ação policial pode constituir "homicídios ilegais" e deve ser investigada.

A operação de terça é a mais letal já registrada desde 1990 na região metropolitana do Rio de Janeiro, segundo levantamento do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF).

Movimentos de direitos humanos classificam a operação como chacina e questionam sua eficácia como política de segurança.

Para o grupo de especialistas da ONU, é fundamental uma investigação para "assegurar a responsabilização, interromper as violações de direitos humanos em curso e garantir a proteção de testemunhas, familiares e defensores dos direitos humanos".

O grupo afirmou ter recebido informação de que algus corpos foram encontrados com mãos amarradas e ferimentos de bala na nuca.

Moradores também teriam relatado que suas casas foram invadidas sem apresentação de mandados, além da realização de prisões arbitrárias e uso de helicópteros e drones para disparar projéteis.

"A escala da violência, a natureza dos assassinatos relatados e as consequências para as comunidades pobres afrodescendentes que vivem em áreas periféricas urbanas expõem um padrão profundamente arraigado de policiamento racializado e impunidade."

Mulher chora ao lado de corpo no Rio de Janeiro

Crédito, PABLO PORCIUNCULA/AFP via Getty Images

Legenda da foto, Mais de 50 corpos foram retirados da mata e levados para uma praça por moradores da região

Os especialistas também expressaram preocupação com as ameaças de criminalização dos familiares das vítimas, moradores e defensores dos direitos humanos que ajudaram a recuperar os corpos na mata após a operação.

Durante a madrugada de quarta-feira (29/10), moradores da região carregaram pelo menos 50 corpos da mata para a Praça São Lucas, que fica em uma das principais avenidas, para que eles pudessem ser identificados.

O delegado Felipe Curi, secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, acusou moradores de terem tirado a roupa de alguns dos corpos que foram levados à praça. Ele afirmou que iria instaurar um inquérito para investigar fraude processual.

No comunicado, o grupo destacou que a "responsabilidade de preservar o local para posterior exame forense é das autoridades" e que elas devem impedir "qualquer forma de intimidação, assédio ou criminalização".

Medidas solicitadas

Para o grupo de especialistas, o resultado da operação de terça mostra a necessidade do Brasil reformar suas políticas de segurança, "que continuam a perpetuar um modelo de violência policial brutal e racializada".

"As autoridades brasileiras devem romper com o legado de impunidade que caracterizou eventos semelhantes no passado," afirmaram.

Entre as medidas solicitadas às autoridades brasileiras estão:

• Suspensão de todas as operações em curso que resultem no uso excessivo da força e garantia de que não ocorram mais perdas desnecessárias de vidas civis;

• Proteção de testemunhas, familiares, membros da comunidade e defensores dosdireitos humanos contra represálias e processos judiciais arbitrários;

• Preservação de todas as provas e salvaguarda da cadeia de custódia em todos os casos de homicídios e outras possíveis violações, com vista a responsabilizar os culpados;

• Garantia de exames e investigações forenses independentes, em conformidade com as normas internacionais de direitos humanos;

• Cumprimento das normas internacionais sobre o uso da força e garantir a responsabilização por todas as irregularidades cometidas pela polícia.