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'Hardware biológico': tecnologia pode remover plástico do corpo?

A presença de microplásticos no organismo humano pode estar associada a um risco maior de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e até morte, aponta um estudo publicado em 2024 no New England Journal of Medicine. A pesquisa analisou placas ateroscleróticas removidas de artérias carótidas e identificou que pacientes com esses resíduos apresentaram maior incidência desses desfechos em um período de 34 meses, em comparação àqueles cujas placas estavam livres de microplásticos. Para a enfermeira e pesquisadora sênior do Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, Lis Leão, os dados revelam que a poluição já não é apenas externa. “A situação já passou de uma poluição externa, de vermos plástico espalhado por todo lugar e principalmente nos oceanos. Agora também é algo que está dentro de todos nós.”

Em uma série de entrevistas à Agência Einstein, em agosto deste ano, Lis e outros cientistas repercutiram o avanço dos estudos sobre o que sabemos até agora da influência dos microplásticos no corpo humano (que já foram encontrados no cérebro humano, placentas, cordões umbilicais, fígados, rins, pulmões e testículos) e como a tecnologia, nesse sentido, pode ser um facilitador para encontrar soluções efetivas de combate a esses resíduos tóxicos.

 Reprodução/ Pexels Classificados como "contaminantes emergentes" pela OMS, resíduos plásticos desafiam pesquisadores e impulsionam debates sobre saúde global — Foto: Reprodução/ Pexels

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica os microplásticos como contaminantes emergentes, isto é, substâncias químicas com potencial ameaça à saúde humana e ecossistemas devido aos seus efeitos adversos. Essas pequenas partículas de plásticos (com menos de 5 milímetros) surgem de duas formas: quando fabricadas intencionalmente em cosméticos, por exemplo, ou resultantes da quebra de plásticos maiores, como garrafas e sacolas.

A exposição a micro e nanoplásticos, cada vez mais constantes em nosso cotidiano, pode acontecer pela alimentação, respiração e, possivelmente, pela absorção da pele. "A gente sabe que a água está contaminada, que todos os alimentos têm contaminação, principalmente os do mar, embutidos em plástico", explica a infectologista e professora da Universidade de São Paulo (USP), Thais Mauad. "Quando as pessoas passam aqueles cremes que têm microplástico, os esfoliantes, isso também tem risco de ser absorvido", completa. Para ela, todo mundo que esteja no meio urbano, que compra comida no mercado, está inalando essas substâncias indiretamente.

Como corpos estranhos no corpo, capazes de provocar inflamações e alterações celulares, os microplásticos carregam aditivos potencialmente tóxicos, cujos efeitos no organismo ainda são investigados. Pesquisas publicadas nos periódicos científicos Particle and Fibre Toxicology e EnvironmentInternational insinuaram que os microplásticos podem afetar o metabolismo hepático e aumentar o risco de resistência à insulina. Outros estudos sugerem impactos no sistema reprodutivo, inflamações crônicas e alterações hormonais relacionadas à presença desses resíduos no corpo.

Para especialistas, a invisibilidade da contaminação é um fator que dificulta a ameaça dos microplásticos ser vista com a devida urgência para a sociedade. Isso porque micro (menos de 5 milímetros) e nanoplásticos (menos de 1 micrômetro), por definição, não podem ser vistos a olho nu. Há, ainda, outras causas apontadas: a falta de informação e a naturalização da produção e consumo de plástico na vida moderna. "Se o plástico faz parte da nossa vida e está em todo lugar, então a sociedade ainda não consegue percebê-lo como uma real ameaça", aponta Lis Leão.

 Reprodução/ Pexels Outros estudos sugerem impactos no sistema reprodutivo, inflamações crônicas e alterações hormonais relacionadas à presença desses resíduos no corpo — Foto: Reprodução/ Pexels

Diante da preocupação com o hoje e as consequências futuras, o Tratado Global do Plástico é um dos compromissos internacionais que buscam mitigar os efeitos do microplásticos no meio ambiente. A ideia é tornar o ciclo de vida do plástico (desde o design, a produção e até o descarte) mais sustentável. Concomitantemente ao documento, que está sendo negociado com a Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2022, cientistas têm se debruçado em desenvolver métodos eficazes de remoção desses resíduos. No campo da medicina de intervenção, pesquisadores da Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, investigam o uso da "aférese terapêutica", que é uma técnica avançada de filtragem sanguínea, para remover compostos de poliamida e poliuretano (dois tipos de compostos de plástico) diretamente da corrente sanguínea. Esse método tem chamado a atenção da comunidade científica e, por utilizar recursos tecnológicos avançados e aplicáveis, sua funcionalidade se assemelha a um hardware convencional. Algo como um sistema de purificação externa para o corpo.

Paralelamente, já surgem purificadores de água inteligentes equipados com membranas de grafeno e sensores de IA capazes de bloquear partículas em escala nanométrica que filtros comuns deixariam passar. A fronteira da inovação tem focado em dispositivos de filtragem de última geração para purificar o que consumimos. A ideia é transformar a tecnologia em nossa principal defesa molecular contra uma ameaça que não podemos ver, mas que já faz parte de nós.

Um estudo publicado no periódico Brain Medicine, conduzido por pesquisadores da Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, sugeriu que a aférese terapêutica (técnica de filtração sanguínea utilizada em algumas doenças autoimune) pode ser uma via promissora. As análises revelaram compostos com características semelhantes à poliamida e ao poliuretano, dois plásticos amplamente usados.

Essa matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Conheça o projeto aqui 👈

 Divulgação/Um Só Planeta Um Só Planeta atualizado — Foto: Divulgação/Um Só Planeta

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