Nina Santos, 37, começou a prestar atenção à revolução digital que acontecia à sua volta ainda no curso de jornalismo da UFBA (Universidade Federal da Bahia), na metade dos anos 2000. "Eu me lembro de pensar: será que ainda haverá Redações de jornais, de revistas, de TV, de rádio? Era um momento de muitas transformações", diz ela, que venceu a categoria Democracia, informação e liberdade de expressão do Prêmio Todas 2 Folha/Alandar.
Os jornais resistem, mas a inquietação com os rumos da tecnologia acabou levando Nina, que é neta do geógrafo Milton Santos, para outro caminho dentro da comunicação. Primeiro, completou um mestrado na sua alma mater baiana, no qual se propôs a debater qual é o poder do cidadão em uma democracia dentro de um contexto de comunicação online. Defendeu a dissertação em 2012. No ano seguinte, o Brasil explodiu em protestos que foram, em grande parte, estimulados pelas redes sociais —e documentados por meio delas.
"O início da década de 2010 é muito marcado por essa ideia de que as mídias sociais vão democratizar absolutamente a política, de que os custos de uma campanha política vão diminuir absurdamente, de que todos os povos oprimidos vão se revoltar contra os seus opressores e a revolução vai ser tuitada, e de que o mundo finalmente será democrático porque todos terão voz", lembra.
A importância das redes sociais para a política e para as ruas ficou clara, e Nina embarcou em 2015 para o doutorado na Universidade Panthéon-Assas, em Paris, para estudar como o digital influencia a mobilização da sociedade civil. De volta ao Brasil em 2019, decidiu que era hora de aplicar na prática o conhecimento adquirido.
A essa altura, o otimismo do início da década já havia esmorecido. "A gente começa a caminhar no sentido contrário, de negação absoluta da capacidade democrática dessas ferramentas", conta.
A jornalista conta que acreditava que era possível alcançar um meio-termo e usar as redes sociais para atingir propósitos como a redução de desigualdades e o combate à desinformação, que crescia aos borbotões. Foi com essa intenção que ela criou o Desinformante, projeto voltado a produzir conteúdo sobre desinformação. Em 2021 nasceu também o Aláfia Lab, iniciativa que visa promover o uso da tecnologia para ampliar a democracia e defender os direitos humanos.
Em fevereiro de 2025, Nina recebeu um convite para migrar novamente de área, dessa vez para o coração do governo federal. Assumiu, então, o cargo de secretária-adjunta de Políticas Digitais na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. A jornalista já tinha trabalhado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de 2012 a 2015, quando foi funcionária do Instituto Lula e ajudou a criar o Facebook do então ex-presidente.
"O grande desafio da secretaria é entender como o Estado brasileiro pode, na era digital, produzir políticas públicas para garantir que as pessoas tenham acesso a informação de qualidade para exercer a sua cidadania", afirma Nina.
As frentes de trabalho, diz ela, são múltiplas. "Temos um mundo digital, ele é inevitável, mas precisamos ter regras. Que regras são essas? Como essas regras podem ser negociadas? Até onde é o Estado que define regras? Até onde são as plataformas que definem regras?", questiona.
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A questão regulatória é o mais notório aspecto do trabalho do Executivo no campo das redes sociais, a exemplo do projeto de lei de regulação das big techs proposto neste ano pela gestão Lula. Nina explica, contudo, que o trabalho também abarca questões educativas e de sustentabilidade do jornalismo.
Décadas depois de seu primeiro questionamento sobre a sobrevivência do jornalismo diante da revolução tecnológica, Nina diz que atua para permitir que isso aconteça. "Quando a gente fala de garantir informação de qualidade, a gente não está falando só de combater os conteúdos problemáticos, seja desinformação, fraude, golpe, discurso de ódio, a gente está falando também de ocupar esse espaço digital com informação de qualidade."
Quando a gente fala de garantir informação de qualidade, a gente não está falando só de combater os conteúdos problemáticos, seja desinformação, fraude, golpe, discurso de ódio, a gente está falando também de ocupar esse espaço digital com informação de qualidade
Entre as iniciativas da área a secretária-adjunta cita uma incubadora de projetos de jornalismo negro e periférico, em parceria com o Ministério da Igualdade Racial, e uma discussão atualmente em curso no Congresso Nacional para instituir o pagamento de direitos autorais a veículos de comunicação cujos conteúdos sejam usados para alimentar ferramentas de inteligência artificial.
"Eu acho que agora estamos em uma época de construção de soluções e de novos imaginários", diz NIna, se mostrando otimista com o futuro das tecnologias.

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