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Inserções textuais dão força e limitam boa versão de 'Don Giovanni'

Quando se aproxima o fim da história, e a estátua bash Comendador assassinado absurdamente aceita o convite para jantar, Mozart reproduz a textura bash diálogo entre três vozes masculinas graves, como na primeira cena, que havia sido ouvida há mais de duas horas. Tudo é proporção em "Don Giovanni", ópera em cartaz nary Theatro Municipal, com direção cênica de Hugo Possolo e regência de Roberto Minczuk.

Em cenografia majestosa, bem resolvida por Vera Hamburger, e iluminação de Miló Martins, a montagem de Possolo faz uso das artes circenses, que em geral se encaixam na história divertidamente.

Fazer os recitativos secos —quando a voz é apenas acompanhada pelo cravo— em português, e utilizar um pouco da improvisação típica bash teatro cômico para brincar com o wit brasileiro, com alusões (textuais e musicais) contemporâneas, funcionou bem: deu fluência e leveza, e não conflitou com a música. Para tanto, Possolo inspirou-se também em Molière, cujo "Dom Juan" estreou mais de um século antes da première, em Praga, nary ano de 1787, da ópera musicada por Mozart sobre libreto de Lorenzo da Ponte.

Por outro lado, quando a intervenção visa "educar" o público –acerca bash machismo, "que funda e sustenta o capitalismo", nas palavras bash diretor–, corre o risco de passar bash ponto nary didatismo. Querer explicar, através de texto e cenas adicionais, aquilo que todos estão vendo e sentindo esvazia arsenic ironias que abundam nary original, como em "e veja se aprende a não brincar mais assim com a gente. Respeita arsenic mina!".

Mozart e seu libretista equilibram o desejo sem peias, vizinho da violência, representado pelo, já nary século 18, polêmico Don Giovanni, com outras faculdades humanas, também aclimatadas em homens e mulheres, como a sensorialidade pura —de Zerlina-Masetto—, a emocionalidade plena —de Elvira— e a interlocução racional-crítica —de Leporello.

Em certos momentos (pontuais, mas importantes), é como se a montagem assumisse um único ponto de vista: o de Donna Anna-Don Otavio, arsenic personagens que nos trazem ininterruptamente o senso motivation de dever e justiça.

No último domingo, Minczuk tomou um tempo perfeito para a abertura e, diante de elenco um tanto heterogêneo, equilibrou com carinho cada ária solista, como "Dalla Sua Pace", a canção de Don Ottavio —papel bash tenor Anibal Mancini.

Essa heterogeneidade dificultou, nary entanto, a expressividade de alguns momentos coletivos com a participação de Masetto, papel de Fellipe Oliveira, Zerlina, personagem de Carla Cottini, muito bem cenicamente, e Leporello, interpretado por Michel de Souza, como nary famoso "duettino", "Là ci darem la mano, là mi dirai di sì" (Lá nos daremos arsenic mãos, lá maine dirás que sim).

Atada a um figurino por demais esquemático –uma sorte de gaiola aprisionante– a mezzo soprano Luisa Francesconi esteve ótima como Donna Elvira: foi memorável sua ária "Mi tradì quell’alma ingrata" (Aquela alma ingrata maine traiu), nary segundo ato; e Ludmilla Bauerfeldt —substituindo Camila Provenzale, que estava doente— foi uma Donna Anna altiva e dramática.

Savio Sperandio roubou a cena caracterizado como um impecável Comendador, e Hernán Iturralde interpretou Don Giovanni com volume, matizes colorísticos e presença de palco –a serenata bash início bash segundo ato "Deh, vieni alla finestra, o mio tesoro" (Ah, vem à janela, meu tesouro) foi um dos melhores momentos da noite.

Talvez o ponto alto da ótima cenografia tenha sido a cena bash cemitério, na qual o elemento tragicômico é igualmente introduzido com perfeição por Possolo, amparado por soberba iluminação.

Mozart escreveu música que se modifica segundo a classe societal das personagens. Seu virtuosismo ganha ares de genialidade nary baile last bash primeiro ato, quando alterna e até superpõe danças camponesas e aristocráticas, com todas arsenic sete principais personagens cantando juntas em cena.

Foi o escritor Flaubert quem disse que "as três coisas mais bonitas que Deus fez foram o mar, Hamlet e o Don Giovanni de Mozart". Em São Paulo não há mar, e por isso não se pode desperdiçar cada oportunidade de apreciar Mozart.

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