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Interpol, prisão e extradição: o que pode acontecer com Alexandre Ramagem nos EUA

▶️ Contexto: Ramagem integrava o chamado “núcleo crucial” da trama golpista, ao lado de outras sete pessoas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

  • Segundo integrantes da Polícia Federal (PF) ouvidos pelo g1, o deputado deixou o Brasil antes do fim do julgamento no STF.
  • Interlocutores informaram que ele desembarcou nos Estados Unidos na segunda semana de setembro, no mesmo período em que foi condenado
  • Para a PF, a saída ocorreu de forma clandestina, com a intenção de evitar uma eventual ordem de prisão.
  • No domingo (23), a esposa do deputado, Rebeca Ramagem, publicou nas redes sociais que a família viajou para Miami por “proteção”, alegando enfrentar “perseguição política desumana”.

⚖️ Nesta terça-feira, o ministro declarou a sentença definitiva do deputado e determinou o início do cumprimento da pena. No despacho, Moraes afirmou que Ramagem “encontra-se foragido”, autorizou a expedição do mandado de prisão e comunicou a PF para adotar as providências necessárias.

  • A decisão abre caminho para que a PF peça a inclusão do nome de Ramagem na lista da Interpol, o que permitiria a prisão dele por autoridades estrangeiras.
  • Outra possibilidade é um pedido formal de extradição, já que Brasil e Estados Unidos mantêm um acordo para entrega de condenados.

A seguir, entenda como funciona a prisão via Interpol e o processo de extradição.

Alexandre Ramagem, cuja nomeação como diretor-geral da PF foi suspensa pelo ministro Alexandre de Moraes — Foto: Adriano Machado/Reuters

A Interpol é uma organização criada há mais de um século para facilitar a cooperação policial internacional. Hoje, ela reúne 196 países, incluindo Brasil e Estados Unidos.

  • Os integrantes da Interpol têm acesso a um sistema de comunicação e a bancos de dados que agilizam a troca de informações.
  • A instituição oferece suporte investigativo e auxilia na localização de fugitivos em todo o mundo.
  • O atual secretário-geral da Interpol é o brasileiro Valdecy Urquiza.

Um dos mecanismos mais conhecidos da Interpol é a chamada Difusão Vermelha — uma lista que reúne pessoas procuradas por autoridades de diferentes países.

🔎 Segundo Guilherme Madeira Dezem, professor de Direito Processual Penal da USP e do Mackenzie, caso o nome de Ramagem seja incluído nessa lista, ele pode ser detido por autoridades estrangeiras.

  • Cada país, porém, decide como aplicar as próprias leis diante de um alerta da Interpol.
  • No caso dos Estados Unidos, o Departamento de Justiça afirma que um aviso internacional não obriga automaticamente à prisão.
  • De acordo com a legislação norte-americana, as autoridades locais só prendem alguém se houver base legal interna ou um tratado de extradição que cubra o crime em questão.

Na prática, os EUA poderão cooperar, mas não têm a obrigação de deter Ramagem apenas com base no alerta da Interpol. Ainda assim, ele pode ser parado e até preso de forma provisória se passar por controles migratórios ou abordagens policiais, como em um aeroporto.

Alexandre Ramagem durante interrogatório no STF — Foto: Gustavo Moreno/STF

Brasil e Estados Unidos têm um tratado de extradição em vigor desde a década de 1930. O acordo permite que um país entregue ao outro pessoas investigadas, processadas ou já condenadas pelo crime que motivou o pedido.

  • Se o STF decidir solicitar a extradição de Ramagem, a Corte precisará reunir documentos com informações sobre o deputado, os crimes pelos quais foi condenado e a pena aplicada.
  • Esse material será enviado ao Ministério da Justiça, que avalia se está completo e, em seguida, repassa o pedido ao Ministério das Relações Exteriores.
  • A etapa final cabe à diplomacia brasileira, que será responsável por apresentar a solicitação formal aos Estados Unidos.

🔎 O professor Guilherme Madeira Dezem aponta que um pedido de extradição de Ramagem teria um elemento político que tornaria o caso mais delicado.

“A questão, no caso dos EUA, é saber como eles vão lidar com a extradição de alguém que diz fazer parte do mesmo grupo ideológico do presidente norte-americano.”

Segundo o professor, existe a possibilidade de o governo dos EUA recusar a extradição caso entenda que se trata de um caso político. Ele ressalta, porém, que uma decisão desse tipo poderia afetar outros processos de extradição entre os dois países.

  • O tratado entre Brasil e Estados Unidos permite negar a extradição quando o caso envolve crime político.
  • Por outro lado, o texto estabelece que atos voltados à “subversão da base de toda organização política” não podem ser considerados crimes políticos.
  • O professor ressalta ainda que o caso de Ramagem não envolve liberdade de expressão, o que, segundo ele, “muda totalmente o tema”.
  • Mesmo assim, a decisão final sobre a natureza do crime cabe ao país que recebe o pedido. No caso de Ramagem, essa avaliação seria feita pelas autoridades dos Estados Unidos.

Além disso, processos de extradição costumam ser longos e cheios de etapas. Mesmo que Ramagem seja detido e os Estados Unidos concordem em entregá-lo ao Brasil, não há prazo definido para que ele seja enviado de volta ao país.

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