Auge e queda: quem ficou com o Mappin?
Em 1983, o Mappin foi considerado a empresa do ano e, em 1984, foi eleito pela revista Exame como a melhor empresa de varejo dos dez anos anteriores. Também em 1984, uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup apontou que 97% dos moradores da capital paulista conheciam a empresa e que 67% já haviam comprado em suas lojas.
A década de 1990 foi, ao mesmo tempo, a de maior expansão da empresa e a da derrocada. Em 1991, o grupo Mappin comprou a Sears, outra importante loja da época, adquirindo novas cinco unidades em shoppings, sendo duas em Campinas (SP).
Em 1995, aparentemente em franca expansão, o Mappin disponibilizava mais de 85 mil itens em suas diversas seções, como eletrodomésticos, eletrônicos, vestuário, móveis, esportes e lazer, entre outras.

Apesar do pedido de falência e de ser extinta como loja em 1999, a marca Mappin permaneceu e foi vendida só em 2010, para a Rede Marabraz, em leilão público. A compra foi efetuada por R$ 5 milhões, valor 60% menor que a avaliação judicial, fixada em R$ 12 milhões.
Os novos proprietários reativaram a marca em junho de 2019, iniciando as vendas por e-commerce, e prometeram reavivar lojas físicas no ano seguinte, mas o plano foi adiado devido à pandemia e até hoje não se concretizou.

Começo de tudo: 1775, na Inglaterra
O Mappin Stores foi fundado em São Paulo em 29 de novembro de 1913. Mas a história da loja tem origem na Inglaterra, mais de um século antes. A Mappin & Webb surgiu na cidade Sheffield, em 1775, quando duas tradicionais famílias de comerciantes se juntaram para criar uma loja de produtos sofisticados.
A loja se expandiu e chegou a Londres, de onde cruzou o Oceano Atlântico, rumando primeiro a Buenos Aires, na Argentina, nos primeiros anos do século 20, e depois ao Brasil.
Primeiro, os irmãos Walter e Hebert Mappin fundaram duas filiais da Mappin & Webb, em 1912: a primeira na então capital federal do Rio de Janeiro, na Rua do Ouvidor, e a segunda em São Paulo, na Rua 15 de Novembro. As especialidades da loja eram produtos finos, cristais, pratarias, relógios, joias e porcelanas importadas.
No ano seguinte, surgiu o Mappin Stores, na capital paulista. A loja funcionava no mesmo endereço da Mappin & Webb, no centro de São Paulo, mas legalmente as empresas estavam desvinculadas. Seis anos depois, em 1919, o Mappin Stores se mudou para a Praça do Patriarca. Na época da chegada da loja ao Brasil, a cidade de São Paulo tinha apenas pouco mais de 300 mil habitantes, bem distante ainda da megalópole atual.

Em seus primeiros anos, o Mappin Stores tinha como seu público-alvo a elite paulistana, priorizando vestimentas para mulheres e crianças, cortinas e artigos de armarinhos. Seguindo as tradições inglesas, a loja servia chá da tarde, passando a funcionar também como ponto de encontro das "senhoras" da sociedade da época. Em 1914, a loja sediou em suas dependências a primeira exposição de arte da pintora Anita Malfatti.
A crise econômica mundial de 1929 fez a loja se reinventar para sobreviver. Com as dificuldades financeiras da elite cafeicultora, o Mappin voltou seus olhos para o grande público.
Pioneira no país em utilizar vitrines para expor seus produtos, a loja passou a exibir também os preços para quem olha de fora, com o objetivo de atrair mais clientes. Além disso, o Mappin também foi a precursora do crediário na cidade, oferecendo a possibilidade de dividir e comprar a prazo.
Com sua expansão, o Mappin chegou ao seu famoso edifício na Praça Ramos de Azevedo em 1939, onde passou a funcionar quase como um shopping center. No local, os departamentos —de roupas, eletrodomésticos, brinquedos etc— eram distribuídos pelos diversos andares do prédio, conectados por elevadores.
Os irmãos Mappin haviam deixado o negócio, adquirido pelo também inglês Alfred Sim, que buscou ampliar a popularização da loja e torná-la mais nacional. A empresa mudou seu nome oficial de Mappin Stores para Casa Anglo Brasileira S.A., mantendo, porém, o nome comercial de Mappin. Os Mappin chegaram a reivindicar na Justiça brasileira a proibição do uso do nome, mas não obtiveram êxito.

Como a empresa faliu -- e a Mesbla entrou no negócio
Ao final de 1995, o Mappin anunciou o maior prejuízo de sua história, de quase R$ 20 milhões. Herdeira do negócio —comprado em 1950 por Alberto Alves Filh —, a empresária Sônia Cosette Alves acabou por vender a loja ao também empresário Ricardo Mansur por R$ 25 milhões, em 1996.
Ex-gestor do banco Crefisul, Mansur pretendia entrar de vez no segmento do varejo e, no ano seguinte, comprou a também extinta Mesbla —outra gigante das lojas de departamento. Seu objetivo era mesclar as empresas e expandir o negócio em filiais pelo país, mas a ideia não saiu do papel.
Prisão de Mansur
Em 1999, o Mappin acumulava 300 pedidos de falência e uma dívida de R$ 1,2 bilhão. Naquele ano, o Mappin fechou as portas, deixando cerca de 2 mil funcionários desempregados, com direito a manifestação na rua, e milhões de paulistanos com saudades de uma era que chegava ao fim. Mansur foi preso em janeiro de 2020, aos 71 anos, condenado por gestão fraudulenta. Em audiência de custódia o juiz autorizou, a pedido da defesa, a transferência de Mansur para prisão domiciliar.
Mansur foi condenado em 2011 pelo juiz Marcelo Costenaro Cavali, então da 6ª Vara, a 6 anos de reclusão em regime semiaberto por crime de gestão temerária de instituição financeira, no caso a Mappin Previdência Privada (MPP). A Procuradoria da República apontou nove operações que caracterizaram concentração ilegal do capital da MPP em companhia de Mansur.
Segundo a denúncia, a concentração de investimentos em empresas do mesmo grupo "agravou-se a partir da gestão Mansur". Na sentença, o juiz Cavali destacou. "Era o réu Mansur quem detinha o domínio do fato, o domínio das ações." À época, a defesa dele não se pronunciou sobre a prisão.
* Com informações de reportagem publicada em 30/05/2023
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