A nomeação de Abu Mohammed al-Golani, que agora quer ser chamado de Ahmad al-Sharaa, para ser presidente da Síria "na fase de transição" ocorreu após uma reunião dos grupos rebeldes do país em Damasco, capital síria.
Os rebeldes também descartaram a Constituição da Síria, adotada sob o regime Assad, e afirmaram que uma nova carta será elaborada em breve.
O anúncio foi feito pelo porta-voz do setor de operações militares do novo governo interino da Síria, coronel Hassan Abdul Ghani, segundo a agência de notícias estatal Sana. Ainda não se sabe exatamente qual mecanismo foi adotado pelas facções para escolher al-Sharaa como presidente interino.
Conhecido anteriormente como Abu Mohammed al-Golani, al-Sharaa é o chefe do Hayat Tahrir al-Sham, que liderou a ofensiva-relâmpago que derrubou Assad no início de dezembro. Anteriormente, o grupo foi afiliado à Al-Qaeda, mas há anos renunciou a esses laços.
Os Estados Unidos haviam anteriormente colocado uma recompensa de US$ 10 milhões (cerca de R$ 59,1 milhões) sobre al-Sharaa, mas a revogaram no mês passado após uma delegação norte-americana visitar Damasco e se reunir com ele. A principal diplomata dos EUA para o Oriente Médio, Barbara Leaf, disse após o encontro que al-Sharaa se mostrou "pragmático". Veja mais abaixo quem é al-Sharaa.
Ahmad al-Sharaa compareceu à reunião desta quarta-feira vestido com uniforme militar e enfatizou a “tarefa pesada e grande responsabilidade” que os novos governantes da Síria enfrentam.
Entre as prioridades para reconstruir a Síria, ele disse, estará "preencher o vácuo de poder legitimamente e legalmente" e "manter a paz civil buscando justiça transitória e prevenindo ataques de vingança" após o reinado desastroso de Assad.
Sírios saíram às ruas em Damasco e em outros lugares para celebrar o anúncio, buzinando e, em alguns casos, atirando para o alto. Muitos expressaram apoio a al-Sharaa.
"Esta pessoa é inteligente, tem um bom entendimento e foi o líder da batalha que libertou a Síria", disse Abdallah al-Sweid, que estava entre os que comemoravam na Praça Umayyad em Damasco. "Ele é alguém que merece ser presidente."
Outros — até mesmo aqueles que haviam se alegrado com a queda de Assad — pareceram críticos sobre a forma como a nomeação foi feita e a falta de clareza sobre os próximos passos.
"O problema não está nas decisões. O problema está no timing, nas promessas anteriores e na confusão", disse Mohammad Salim Alkhateb, um oficial da Coalizão Nacional das Forças de Revolução e Oposição Sírias — um grupo formado por membros da oposição a Assad no exílio.
O Catar foi o primeiro a reagir à nomeação de al-Sharaa, que já era esperada, dizendo que saudava decisões voltadas para "fortalecer o consenso e a unidade entre todas as partes sírias". A declaração acrescentou que isso deveria ajudar a abrir o caminho para uma "transferência pacífica de poder por meio de um processo político abrangente".
Nações ocidentais, embora tenham começado a restaurar laços com Damasco após a queda de Assad, ainda são algo céticas quanto aos novos governantes islâmicos da Síria.
Abdul Ghani, o porta-voz, também anunciou na quarta-feira que a constituição da Síria — adotada em 2012, sob o regime de Assad — foi anulada. Ele disse que al-Sharaa estaria autorizado a formar um conselho legislativo temporário até que uma nova constituição seja elaborada.
Todas as facções armadas do país seriam desmanteladas, disse Abdul Ghani, e seriam absorvidas pelas instituições estatais.
Desde a queda de Assad, o HTS se tornou o partido de fato no poder e montou um governo interino composto em grande parte por oficiais do governo local que anteriormente liderava na província de Idlib, controlada pelos rebeldes.
As autoridades interinas prometeram iniciar um processo inclusivo para formar um novo governo e constituição, incluindo a convocação de uma conferência de diálogo nacional e o convite às diferentes comunidades da Síria, embora nenhuma data tenha sido definida.
Com o colapso do exército sírio após a queda de Assad, al-Sharaa pediu a criação de um novo exército nacional unificado e forças de segurança, mas questões têm surgido sobre como a administração interina pode reunir um mosaico de antigos grupos rebeldes, cada um com seus próprios líderes e ideologias.
Ainda mais complicado é a questão dos grupos curdos apoiados pelos EUA que formaram um enclave autônomo no início da guerra civil síria, nunca se alinhando totalmente com o governo de Assad nem com os rebeldes que buscavam derrubá-lo. Desde a queda de Assad, tem havido uma escalada de confrontos entre as forças curdas e grupos armados apoiados pela Turquia, aliados do HTS no norte da Síria.
As Forças Democráticas Sírias, lideradas pelos curdos, não estavam presentes na reunião de quarta-feira das facções armadas do país e não houve comentário imediato do grupo.
No encontro anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, neste mês, Asaad al-Shibani, novo ministro das Relações Exteriores da Síria e oficial do HTS, disse que o país precisa da ajuda da comunidade internacional à medida que começa a reconstruir após a brutal guerra civil.
Abu Mohammed al-Golani, líder do grupo rebelde que afirma ter derrubado o ditador Bashar al-Assad na Síria, fez sua primeira aparição pública neste domingo (8). — Foto: Omar Albam/AP
Ahmed al-Sharaa, chamado de Abu Mohammed al-Golani quando era comandante do HTS, tem 42 anos. Ele nasceu em Riade, na Arábia Saudita, mas sua família é originalmente de Golã, uma região do sudoeste da Síria, anexada unilateralmente por Israel na década de 1970.
Nos últimos anos, al-Sharaa trabalhou para reformular sua imagem pública, afastando-se de seu parceiro de longa data, o grupo terrorista al-Qaeda.
Agora, aos 42 anos, o líder dirigiu seus combatentes em uma ofensiva impressionante que colocou sob seu controle a maior cidade da Síria. Com isso, ele reavivou a longa guerra civil do país e provocou a fuga do ditador Bashar al-Assad, cujo paradeiro é desconhecido.
A ofensiva e o papel de al-Sharaa nesta liderança são evidências de uma transformação notável. O sucesso dele no campo de batalha é resultado de anos de manobras entre organizações extremistas, enquanto eliminava concorrentes e antigos aliados.
Ao longo do caminho, ele se distanciou da al-Qaeda, aprimorando sua imagem e a do grupo extremista que lidera, o "governo de salvação", em uma tentativa de conquistar governos internacionais e as minorias religiosas e étnicas do país.
Com um discurso de pluralismo e de tolerância, os esforços de reformulação da marca de al-Sharaa buscaram ampliar o apoio público e a legitimidade de seu grupo.
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