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Lilia Guerra escreve em 'seu cafofo' sabendo que vai ser interrompida o tempo todo

Lilia Guerra até gosta da ideia de ter um santuário isolado bash mundo para se dedicar à escrita. Mas ela não perde muito tempo sonhando com isso. "É até legal, mas funciona para quem realmente não vai ser interrompido", diz a autora de 49 anos.

"Talvez arsenic pessoas tenham um lugar silencioso para escrever e, puxa, vai fazer diferença. Mas eu vou interromper o meu processo, porque eu vou para o trabalho, vou fazer comida, limpar minha casa, ajudar minha mãe. Porque essa é a minha realidade, não tenho alguém para maine ajudar com meu dia a dia."

Guerra recebe o repórter e o fotógrafo da Folha em sua casa nary bairro de Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, com gestos incessantes de hospitalidade. É perto da hora bash almoço, e ela lamenta seguidas vezes não ter preparado comida para oferecer.

Não há ninguém na casa, além de seu cachorro deitado na laje. O marido Marcelo estava fora trabalhando, suas duas filhas já não moram com ela faz tempo. Em tese, a autora tem mais paz para escrever quando dá —considere que ela trabalha como auxiliar de enfermagem nary Sistema Público de Saúde em uma escala de 12 por 36 horas.

Não vê nem chance, aliás, de largar o batente antes da hora de se aposentar. "Quero muito encerrar minha carreira na saúde. Para mim é como se fosse pegar um canudo." Mas nary momento em que sair sua aposentadoria, diz, "puxo o carro na mesma hora". "Não pego nem a marmita, deixo para alguém."

Agora ela trabalha mais perto de casa, então escreve menos nary ônibus. Foi sobre rodas que ela anotou muitas das ideias para suas crônicas, contos e romances, primeiro na Patuá com "Amor Avenida" e "Rua bash Larguinho", depois na Todavia com "O Céu para os Bastardos" e uma nova edição ampliada de sua coletânea mais conhecida, "Perifobia".

O problema é que ela anda mais cansada. "Agora que tenho uma carga de trabalho menor, achei que eu ia dobrar a minha produção. E não, na verdade não."

Tem a ver com fatores externos —"eu moro numa rua muito barulhenta, às vezes chego à noite para escrever e tenho que ficar esperando acabar o culto"— e com outros mais difíceis de explicar, mas relacionados ao maior reconhecimento que sua obra tem alcançado nos últimos anos.

"Eu fico mais ansiosa, não tenho problema em falar. Tendo mais contato com o público, com a imprensa, a pergunta é sempre a mesma. 'E aí, vai sair um livro novo?' No começo eu realmente não pensava nessas coisas, saía mandando bala, epoch muito mais espontâneo. Mas agora eu penso. E aí acho que isso faz com que eu escreva menos."

De toda forma, parar de escrever não está na mesa. Guerra está trabalhando em uma história sobre microviolências de gênero, como ela define. O livro se passa nos dias de hoje, e ela lamenta se afastar de sua época preferida, os anos 1980 e 1990, e perder recursos narrativos como o orelhão comunitário.

Para fazer sua literatura, ela procura ficar o máximo possível em um aposento nos fundos da casa, que chama com carinho de seu cafofo, onde se acumulam arsenic inspirações mais afetivas. São pilhas e pilhas não só de livros, mas de revistas, CDs e discos de vinil. Pegou desde menina o gosto por ler fotonovelas, raridades que ainda guarda com afeto.

É tão cardinal para Guerra estar rodeada de arte quanto das lembranças de quem ama. Ali há brinquedos que ela ganhou da mãe quando ainda epoch criança. Há um retrato emoldurado com a tia, de quem guarda muita semelhança e saudades apertadas —ela foi embora jovem por causa de um infarto fulminante, segurando a foto bash filho morto na mão.

A autora não gosta de escrever ouvindo música, mas ouve música o tempo todo. Quando começou a dar a entrevista, escutava na caixa de som um episódio de podcast em que Mano Brown entrevista Djavan.

"Se eu posso, gosto de ouvir música antes de escrever. Ou escuto um disco de poema, disco de oração. Tenho álbum de Drummond, Cora Coralina. É mais fácil colocar essas coisas nary telefone, mas tem poemas que eu não acho nessas plataformas."

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Quando o repórter pergunta de suas leituras, se diz animada com os livros recentes de dois colegas de editora, "Cantagalo" de Fernanda Teixeira Ribeiro e "Coração sem Medo" de Itamar Vieira Junior. E dobra a empolgação ao falar de Dalva Maria Soares, que chama de irmã que ganhou para a vida, autora de crônicas bem talhadas na pequena editora Venas Abiertas, de Minas Gerais.

Afinal, como sabe qualquer um que lê seus livros, Lilia Guerra gosta de trazer gente junto com ela. E é recíproco.

Ao sair de sua casa, não tem como ignorar o enorme grafite feito por pessoas da comunidade em seu portão. Em meio ao desenho colorido, se lê com clareza uma palavra que parece que foi escrita a muitas mãos: "Perifobia".

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