Lula em entrevista coletiva

Crédito, Ricardo Stuckert/PR

  • Author, Daniel Gallas
  • Role, Enviado especial da BBC News Brasil a Dubai (Emirados Árabes)
  • Há 29 minutos

Lula disse que o Brasil está monitorando a situação e que ainda é preciso "ver no que vai dar" a atual tensão.

"Eu conversei com o presidente da Guiana por telefone já duas vezes. O Celso [Amorim, assessor especial da Presidência] já foi na Venezuela conversar com Maduro. Tem hoje um referendo que obviamente vai dar ao Maduro o que ele quer. Um chamamento ao povo para aumentar o seu território", disse Lula a jornalistas em Dubai, onde o brasileiro estava participando da conferência climática da ONU. Lula já deixou os Emirados Árabes rumo à Alemanha — última parada de um giro internacional por quatro países.

Lula criticou a tensão entre os dois países dizendo que não é o momento para se pensar em briga ou "inventar história" — mas não fez nenhuma menção direta a nenhum dos presidentes.

"Eu acho que só tem uma coisa que o mundo não está precisando. Só tem uma coisa que a América do Sul não tá precisando agora é de confusão. Se tem uma coisa que nós precisamos para crescer e para melhorar a vida do nosso povo é a gente baixar o facho", disse Lula.

"Trabalhar com muita disposição de melhorar a vida do povo e não ficar pensando em briga. Não ficar inventando história. Então eu espero que o bom-senso prevaleça — do lado da Venezuela e do lado da Guiana."

Mas Lula disse que Maduro não está aceitando acordos que o Brasil acata.

"Ele não acata um acordo que o Brasil já acatou. Não só a decisão de 1887 como a de 1965 — em que houve um acordo que o Brasil aceitou. E eles agora estão dizendo que não aceitam. Vamos ver no que vai dar."

No domingo (3/12), milhões de venezuelanos deverão ir às urnas do país para se manifestar em um referendo sobre a região conhecida como Essequibo, na divisa entre a Venezuela e a República da Guiana, uma área conhecida por suas riquezas em ouro, diamantes e petróleo.

O referendo convocado pelo regime de Nicolás Maduro tem cinco perguntas, mas o cerne é sobre se a população apoia ou não a criação de um Estado venezuelano dentro da região conhecida como Essequibo, uma área de pouco mais de 159 mil quilômetros quadrados (maior que o Estado do Ceará) que é alvo de uma disputa territorial com mais de 100 anos e que é hoje administrado pela Guiana.

Nicolas Maduro

Crédito, Reuters

Legenda da foto,

Nicolar Maduro em evento de encerramento da campanha para o referendo

A preocupação com o resultado do referendo se dá por conta das suas possíveis consequências práticas. A criação do Estado venezuelano poderia implicar na perda, pela Guiana, de pouco mais de 70% do seu território.

Na sexta-feira (30/11), a Corte Internacional de Justiça expediu uma decisão sobre um pedido feito pela Guiana que solicitava que a corte impedisse a realização do referendo. A corte não se manifestou sobre a suposta ilegalidade do referendo, mas disse, em sentença, que a Venezuela não poderia tomar nenhuma medida que "modificaria a situação que atualmente prevalece no território em disputa".

Não está claro o que Maduro pretende fazer após o referendo deste domingo.

Em visita à região no final de outubro, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, declarou que o país não abriria mão de Essequibo. "Que ninguém cometa um único erro. Essequibo é nosso, cada centímetro quadrado", disse.

Lula tinha um encontro marcado com Irfaan Ali na COP28 em Dubai, mas a reunião acabou não acontecendo.