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Marcopolo intensifica processo de globalização, diz CEO

de Caxias do Sul

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de Caxias do Sul

Com fábricas na África do Sul, Argentina, Austrália, China, Colômbia e México, além de participação acionária em empresa com unidades no Canadá e nos Estados Unidos, a Marcopolo tem ampliado as relações externas com as operações do Brasil para criar, efetivamente, uma conexão global. Isto inclui intercâmbio das melhores práticas entre todas as unidades, bem como de pessoal e de avanços tecnológicos, para que a empresa se torne competitiva em todos os mercados onde está presente.

Nesta entrevista, o CEO André Armaganijan comenta o seu primeiro ano na função, os desafios vencidos e a superar, e as iniciativas em andamento para tornar a empresa uma concorrente de peso ainda maior no mercado, que passa a ter a descarbonização como um processo inadiável diante das severas crises climáticas mundiais, que foram recentemente vivenciadas no Rio Grande do Sul.

No primeiro trimestre de 2024, a receita líquida da Marcopolo somou R$ 1,6 bilhão, pouco acima do apurado no mesmo período do ano passado. Do total, R$ 1,2 bilhão corresponde ao mercado interno brasileiro, R$ 94 milhões de exportações a partir do Brasil e R$ 339,2 milhões representam as operações internacionais da companhia. O lucro líquido foi de R$ 316,9 milhões, crescimento de 34,1% sobre o mesmo período de 2023. A produção total atingiu 3.261 unidades, 5,9% inferior na mesma base de comparação.

Jornal do Comércio – Completastes recentemente um ano como CEO da Marcopolo. Que avaliação fazes sobre este período em termos de consolidação de objetivos e projetos?

André Vidal Armaganijan – Eu já trabalhava na Marcopolo há vários anos. Mas está é uma posição diferente, tive acesso a novas áreas da organização, com as quais efetivamente não trabalhava. Este primeiro ano está sendo de aprendizado, de conhecer e de conectar cada vez mais com todas as áreas, com um grupo muito maior de pessoas sob minha gestão. Dedicamos muita atenção para ter um ambiente cada vez melhor para trabalhar, reforçamos ações em produtividade, por meio de processos internos, visando tornar a empresa mais eficiente e inovadora, pensando muito no futuro. A inovação começou há algum tempo, mas, agora, com as mudanças climáticas, a descarbonização passa a ser prioridade. Vamos continuar ampliando os produtos tecnológicos.

JC – Você comentou sobre pessoas e mão de obra tem sido um problema crucial em praticamente todas as atividades econômicas. O que a Marcopolo tem feito para equacionar esta situação?

Armaganijan – A gente já vinha trabalhando em um processo de transformação cultural. Agora, adotamos a denominação de evolução cultural. Existe uma preocupação muito grande em ter um melhor ambiente para se trabalhar, mas isto não se constrói em um ano. Temos vários projetos que vão sustentar essa evolução no ambiente. E isto é importante para trazer mais competitividade à empresa. Estamos falando em automação de fábrica, passando a olhar com mais afinco para a indústria 4.0. Trabalhamos cada vez mais a visão de não só olhar para eventuais expansões das plantas, mas continuar rentabilizando as operações no Brasil e no exterior, onde enxergamos oportunidades de conectar a marca. Temos feito este processo de conexão entre as fábricas, que avançou muito neste último ano, e contribuindo para tornar a empresa cada vez mais global.

JC – Como está sendo feita a qualificação da mão de obra?

Armaganijan - A Marcopolo pode ser considerada um celeiro de formação de pessoas. Temos uma escola em parceria com o Senai para o desenvolvimento e formação de pessoas. No pós-pandemia passamos a fazer feirões de empregos e treinando gente. Na fábrica de São Mateus, no Espírito Santo, temos uma fábrica que forma para a empresa e para comunidade. Formamos mais pessoas do que necessitamos, mas é para ter um grupo mais qualificado ou disponível no mercado. Estas parcerias, juntamente com programas de desenvolvimento, têm sido fundamentais para mitigar essa dificuldade de mão de obra qualificada. Com a melhora no ambiente do trabalho, vamos dar mais atratividade à organização, gerando nas pessoas interesse maior para permanecer no emprego.

JC – Qual tua avaliação sobre o mercado nacional de ônibus?

Armaganijan – Vemos este ano como de crescimento, superando 2023, principalmente pela oportunidade de renovação de frota. No ano passado entregou-se volume similar ao de 2019. Mas são números infinitamente menores do que já tivemos em anos anteriores. Portanto, temos uma oportunidade de renovação boa. O programa Caminho da Escola terá importante participação nos resultados, pois está em andamento a compra de um novo lote, que traz uma quantidade interessante de unidades. Num primeiro momento, os volumes realizados ficaram abaixo do previsto, mas agora está retomando um movimento mais expressivo.

JC – As enchentes que atingiram o RS podem comprometer este cenário positivo?

Armaganijan - Infelizmente, temos esta tragédia no Rio Grande do Sul, que pode interferir. No entanto, a empresa segue trabalhando dentro da normalidade possível diante da crise, não a pleno, mas muito próximo. Paramos um só dia. No seguinte, a maioria dos trabalhadores retornou às atividades. Monitoramos a situação de cada pessoa para verificar se não há riscos no seu deslocamento para a empresa. Avaliamos se ela está segura para depois liberar a presença no trabalho. Temos um problema com matérias-primas, para o qual estamos olhando com muita atenção. Há níveis de estoques suficientes para garantir a continuidade da operação, mas estamos mapeando alternativas em caso de redução ou falta de oferta. Já as estruturas fabris, felizmente, não foram impactadas. Estamos solidários aos desabrigados e ajudando com doações.

JC - Esse crescimento que está se projetando é linear em todas as linhas de produtos?

Armaganijan - O micro-ônibus é o principal favorecido pelo Caminho da Escola. O avanço no segmento rodoviário vem desde o lançamento do modelo G8, que teve grande aceitação do mercado. Associado ao produto existem demanda por um processo de renovação e o custo elevado das passagens aéreas. Importante salientar o efeito dos aplicativos, que têm facilitado as compras. No ônibus urbano também existe a necessidade da renovação. Durante a pandemia, os governos entenderam a necessidade de apoiar o sistema, principalmente via subsídios.

JC – Em que estágio se encontra o desenvolvimento do ônibus elétrico da Marcopolo?

Armaganijan – Se observa um movimento crescente de adesão às novas tecnologias. Mas a migração significativa dos ônibus urbanos de diesel para elétrico não aconteceu como foi anunciada, vem ocorrendo de forma gradual. A Marcopolo, por exemplo, vendeu recentemente oito ônibus elétricos para Porto Alegre. Fizemos um movimento de desenvolver a solução própria e completa, com carroceria e chassi da Marcopolo, mas também oferecemos a alternativa do modelo tradicional, com carroceria nossa e chassi de terceiros. Esta movimentação para novas tecnologias voltadas à descarbonização tem acontecido de forma mais gradual, sem a intensidade preconizada, mas acreditamos que ela se consolidará. Em paralelo, se desenvolvem outras frentes, como a híbrida, biometano e hidrogênio, as quais já estamos testando, principalmente no exterior. A proposta é ter um portfólio de produtos com amplitude grande para atender vários mercados, porque as apostas, necessariamente, não são as mesmas em cada mercado. Tem mercado que valoriza Euro 6, porque antes rodava com motor Euro 3, o que fez cair drasticamente as emissões de poluentes; outro é direcionado ao elétrico e tem aqueles com proposta do hidrogênio, bastante difundido na Austrália, China e Colômbia. Temos produtos para todas as demandas e acredito que todas terão o seu espaço. O difícil é precisar a velocidade de conversão de uma tecnologia para outra. O certo é que ocorrerão, já que as mudanças climáticas constituem tema relevante globalmente. Imagino que agora, com o ocorrido no Rio Grande do Sul, os cuidados com o meio ambiente ganharão ainda mais evidência e, principalmente, encaminhamentos para encontrar soluções ao problema. Acredito que as soluções desenvolvidas pela Marcopolo ajudarão de forma importante não só no Brasil, como lá fora.

Marcopolo/divulgação/jc


A Marcopolo vendeu recentemente oito ônibus elétricos para Porto Alegre

JC – A Marcopolo já tem capacidade instalada suficiente para atender a demanda de elétricos quando as vendas ganharem escala?

Armaganijan - Essa é uma questão que sempre vem à tona. A capacidade atual da Marcopolo é muito maior do que efetivamente as demandas que estamos vendo. O processo de produção do elétrico na parte da carroceria é muito similar à tradicional, do motor a combustão. Usamos as linhas de montagem para ambos. Sem dúvida, temos condições de atender plenamente a necessidade de ônibus elétricos que surgirá no Brasil nos próximos anos.

JC – A empresa já tem uma carteira de pedidos contratada?

Armaganijan - Entre o ano passado e esse produzimos 130 unidades, com as quais fizemos demonstração em dezenas de cidades brasileiras. Venda efetiva somente os oito ônibus para Porto Alegre. Mas continuamos nesse processo de prospecção para estender a venda a diversas cidades. Recentemente, o governo federal anunciou intenção de compra de compra superior a 5 mil ônibus, entre elétricos e Euro 6, para diversas cidades brasileiras. Acreditamos em crescimento gradual dessa produção a partir de agora. Com ingresso de pedidos temos plenas condições de aumentar ainda mais essa produção e a oferta de elétricos, seja solução completa, seja a tradicional com carroceria Marcopolo e chassi de parceiro fabricante.

JC – A Marcopolo está investindo em unidade específica para elétricos?

Armaganijan – Temos um cuidado especial com a linha onde a gente produz o elétrico. O comissionamento, o momento em que você ativa os ônibus elétricos, é feito fora da linha tradicional, em Caxias do Sul. Recentemente, anunciamos investimento no Espírito Santo, na fábrica de São Mateus, para ampliar ainda mais a capacidade de produzir ônibus elétricos. A proposta é ter duas unidades capazes de produzir tanto o chassi como a carroceria de um ônibus elétrico.

JC – Algum de expansão para as fábricas de Caxias?

Armaganijan – A capacidade instalada é maior do que o volume atual de produção. Mas há dois anos estamos aumentando as contratações, nos preparando para volumes mais elevados já em 2025. Medida também alinhada com a busca de ter quadros qualificados para atender esta expectativa positiva. Da mesma foram trabalhamos bastante para melhorar a eficiência. Portanto, não há necessidade de aportes de recursos na expansão da estrutura. Temos é que continuar capacitando a mão de obra, elevando a eficiência e investindo em processos de automatização.

MARCOPOLO/DIVULGAÇÃO/JC


Recentemente, o governo federal anunciou intenção de compra de compra superior a 5 mil ônibus, diz Armaganijan

JC – Durante a pandemia da Covid, insumos tiveram aumentos brutais, alguns até dobrando de valor. Como está hoje a oferta das principais matérias-primas usadas pela Marcopolo e os preços?

Armaganijan - A questão de falta de materiais está relativamente equacionada, lógico que ainda preocupa um pouco. Agora, um pouco mais em função das enchentes no Rio Grande do Sul. Temos trabalhado muito próximo aos fornecedores e controlado bem os níveis de estoque para evitar faltas. A disponibilidade não tem sido um problema relevante. Os preços, por sua vez, foram mantidos, sem recuos significativos. As influências atuais têm relação com inflação e, no caso de importados, com o real desvalorizado. Temos ainda os reajustes dos salários em razão dos dissídios. Tudo isto afeta no preço final ao cliente, a quem é repassado parte destes aumentos. Nos preocupa, sim, as consequências das guerras internacionais e as condições climáticas. Isto pode afetar o negócio, mas estamos acompanhando bem de perto para a melhor tomada de decisão e cuidar para que os custos não aumentem de forma significativa como tivemos no passado. Por isso, a importância de olhar para dentro, buscar eficiência e competitividade para não ter o repasse ao preço final.

JC – A Marcopolo desenvolveu uma série de tecnologias durante a pandemia, chegou a criar a marca Biosafe. O mercado segue absorvendo estas melhorias sanitárias?

Armaganijan – Muitas tecnologias foram até incorporadas aos produtos. Como exemplos, o pega mão e tecidos higienizados, luz ultravioleta, cortinas de separação e outros. Algumas ficaram como de série nos produtos e outras como opcionais. Estamos aproveitando bastante esses novos produtos até para manter esse grau de inovação a que a empresa tem.

JC – Como estão se comportando as operações do mercado externo?

Armaganijan - Estão no processo de retomada gradual como no Brasil. Muitas foram fortemente impactadas pela pandemia. Estamos também desenvolvendo novas tecnologias no mercado internacional, como hidrogênio e elétrico, temos feito muito intercâmbio entre as operações externas com as do Brasil, inclusive de pessoal, nesta busca pela conexão. Temos trabalhado muito a transferência de melhores práticas entre todas elas de forma a criar, realmente, uma conexão global. Os resultados de todas estão melhorando e trazendo contribuição positiva para o desempenho positivo da companhia. A empresa está cada vez mais globalizada.

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