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- Author, Annabel Rackham
- Role, Repórter de saúde e bem-estar, BBC News
Há 11 minutos
A tecnologia de LED é empregada em clínicas médicas para cuidar de uma série de problemas da pele, como eczemas, acne suave a moderada, psoríase e lesões causadas pelo Sol.
Mas o mercado de LED doméstico está à beira de se tornar uma indústria de massa. Máscaras e outros aparelhos estão sendo vendidos no Reino Unido aos mais variados custos, de 40 até 1,5 mil libras (cerca de R$ 300 a R$ 11,3 mil).
A tecnologia emprega a potência dos diodos emissores de luz (LEDs, na sigla em inglês), que estimulam as células da pele quando expostas repetidamente.
Os fabricantes afirmam que as máscaras de LED domésticas podem ser empregadas para tratar cicatrizes da acne, lesões causadas pelo Sol e linhas finas da pele. Mas os exames confirmam estas promessas?
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Calcula-se que o mercado mundial de LEDs irá atingir 600 milhões de libras (cerca de R$ 4,5 bilhões) até 2032. Este valor representa quase o dobro do montante estimado para a tecnologia airflow, como o modelador Dyson Airwrap, para a mesma época.
O dermatologista clínico Jonathan Kentley explica que a tecnologia de LED trabalha fazendo a pele absorver a energia da luz, que aciona mudanças celulares em um processo conhecido como fotobiomodulação (PBM, na sigla em inglês).
"Isso permite a formação de novos vasos sanguíneos e células da pele, além do aumento de colágeno e elastina", ele conta. "A PBM também vem sendo usada para tratar acne, pois apresenta efeitos anti-inflamatórios e reduz a quantidade de óleo na pele."
Um estudo detalhado sobre a PBM concluiu recentemente que é preciso realizar mais testes clínicos para podermos compreender totalmente como ela funciona.
A agência espacial americana (Nasa) começou a estudar o efeito dos LEDs nos anos 1990, para descobrir se eles podem ser úteis na regeneração celular.
Por isso, os dermatologistas vêm utilizando aparelhos médicos "há muitos anos", segundo Kentley. Mas as máscaras domésticas estão à venda no varejo há cerca de cinco anos e custam uma fração dos aparelhos médicos.
As principais diferenças entre os aparelhos médicos e os domésticos são a potência dos LEDs, o número de lâmpadas em cada aparelho e sua distância da superfície da pele durante o uso.
'Visualmente interessante'
Justine Kluk é especialista no tratamento de acne na sua clínica dermatológica própria. Ela acredita que as máscaras domésticas "parecem promissoras", mas os fabricantes estão "especulando" sobre seus benefícios.
"Não acredito que alguém tenha realizado testes clínicos da máscara de LED doméstica, para verificar se ela fornece a mesma dosagem de um aparelho utilizado em uma clínica ou hospital", declarou ela à BBC.
"Ninguém está testando estes aparelhos em amostras de tamanho suficiente, por períodos de tempo suficientes, para podermos nos sentir realmente confiantes. Por isso, acredito que os benefícios do uso dessas máscaras, provavelmente, sejam muito reduzidos."
Este crescimento é impulsionado pela Geração Z (os nascidos entre 1995 e 2009) e mesmo pela Geração Alfa (nascidos a partir de 2010) . Acredita-se que sua fascinação pelos cuidados com a pele seja alimentado pelas tendências nas redes sociais.
Kluk afirma que vem observando "que o interesse das pessoas pelo cuidado e tratamento doméstico da pele aumentou imensamente desde a covid". Ela acredita que o elemento "visualmente interessante" tenha feito com que a máscara de LED doméstica se tornasse um produto tão atraente para vendas online.
"Pessoas sentadas, assistindo à TV e usando uma máscara de LED vermelha atraem a curiosidade das pessoas", explica ela. "Uma a cada duas das minhas consultas nos últimos seis meses envolveu pessoas que me perguntaram sobre as máscaras de LED."
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Procurando máscaras de LED nas plataformas de redes sociais, como o TikTok, podemos encontrar centenas de vídeos de usuários exibindo seus resultados após o uso dos aparelhos domésticos.
Natalie O'Neill tem 29 anos e é criadora de conteúdo sobre cuidados com a pele na internet. Ela conta à BBC que começou a usar a máscara "por curiosidade, para ver se observaria alguma diferença". Ela não usou o aparelho para tratar condições da pele já existentes, como a acne.
"Observei mudanças na minha pele depois de duas semanas e achei que a máscara evitou erupções muito bem", afirma O'Neill. Ela destaca que o aparelho ajudou a "manter minha pele com aparência mais homogênea" e reduziu as marcas no rosto com mais rapidez.
O'Neill não recebeu pagamento para promover máscaras específicas e ressalta, em todo o conteúdo criado sobre esta tecnologia, que ela usa a máscara em conjunto com uma rotina sistemática de cuidados com a pele.
"Muitos consumidores não percebem que a terapia com LED ou luz vermelha em uma clínica não pode ser imediatamente transferida para uma máscara", explica ela. "Para mim, está bom porque tenho a expectativa certa."
Parte do apelo das máscaras de LED vem da sua facilidade de uso, que atrai possíveis compradores.
Laurence Newman é o CEO (diretor-executivo) da empresa CurrentBody. Sua máscara de LED doméstica é uma das mais vendidas do mundo.
Ele vende equipamentos profissionais para clínicas há mais de 25 anos e começou a desenvolver uma máscara de LED doméstica em 2009. O primeiro aparelho da empresa foi lançado apenas 10 anos depois.
"Observamos pessoas que usam a máscara por 10 minutos e conseguem um brilho instantâneo em seguida", contou ele à BBC.
Newman afirma que as mulheres, especificamente, "estão adotando tratamento da pele totalmente não invasivo". Elas procuram formas de melhorar sua pele sem o uso de botox e preenchimento.
Ele explica que as máscaras vendidas pela sua empresa foram desenvolvidas utilizando a mesma tecnologia dos aparelhos médicos, que têm um requisito mínimo de comprimento de ondas de luz.
Newman destaca que o mercado de máscaras de LED domésticas e o próprio mercado de tecnologia de beleza doméstica estão em sua fase inicial e que há "um movimento real de aprendizado" em crescimento.
'É muito dinheiro'
Jonathan Kentley destaca que "a PBM é basicamente considerada segura, mesmo em altos níveis".
Por isso, o uso de qualquer forma de tecnologia de LED provavelmente não irá "causar danos para as células", mas são necessárias mais pesquisas sobre o funcionamento exato da PBM para entender o que ela pode fazer.
"Surgiram muitos estudos clínicos e experimentais sobre o uso de PBM para diversas condições dermatológicas, mas houve variações dos parâmetros do aparelho e dos protocolos de tratamento", segundo ele.
"Muitos desses estudos foram pequenos e não padronizados, frequentemente pagos pelos fabricantes. Por isso, é difícil traçar conclusões concretas."
Ele aconselha a qualquer pessoa disposta a comprar esse aparelho que procure uma marca com certificação de segurança da União Europeia e alta densidade de lâmpadas de LED, para garantir o fornecimento de energia suficiente para a pele.
Justine Kluk também ressalta que não "deseja desencorajar ninguém" que tenha ficado curioso com a tecnologia.
Ela deseja "que as pessoas entendam que a compra do aparelho requer muito dinheiro, que poderia financiar uma boa rotina de cuidados com a pele ou, no caso de algo grave como a acne, um bom regime de medicações e mudanças de estilo de vida. Mas é improvável que o aparelho faça o suficiente sozinho."
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