1 mês atrás 9

'Mentia para todo mundo': ela perdeu mais de R$ 500 mil com day trade

Day trade é a prática de comprar e vender, no mesmo dia, o mesmo ativo financeiro na Bolsa. O objetivo é lucrar por meio de variações de curtíssimo prazo nos preços. É diferente de estratégias de investimento de médio e longo prazo por exigir o encerramento de todas as posições até o fim do pregão.

O caso de Suzana não é isolado. Um estudo inédito da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que quase 1 milhão de brasileiros recorreram ao day trade durante a pandemia —e perderam, em conjunto, R$ 9,9 bilhões entre 2020 e 2023. O montante não inclui custo de corretagem, gasto com cursos e plataformas.

A pesquisa explica que a prática foi vendida por corretoras e influencers como oportunidade de renda rápida em meio ao confinamento e à crise. Mas, segundo os autores, funcionou, na verdade, como uma "transferência de recursos das pessoas físicas para as instituições financeiras". A pesquisa apontou o "caráter sistematicamente desfavorável do day trade para pessoas físicas". O estudo, publicado na Revista Brasileira de Finanças, analisou dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Pessoas que investiram em day trade fazem parte de grupos sociais, etários e regionais variados. Segundo o estudo, profissões ligadas ao setor administrativo e de negócios concentram parte relevante dos participantes, como administradores (12,1%), empresários (6,9%), analistas de sistemas (4,3%) e engenheiros (4,4%). O day trade também atraiu vendedores (2,8%), motoristas (1,4%), cabeleireiros (0,6%) e feirantes (0,5%). Aposentados e estudantes participaram —o que sugere que o day trade atraiu tanto jovens quanto pessoas já afastadas do mercado de trabalho formal.

Longe de oferecer uma oportunidade de ganho, a atividade funcionou como um canal de transferência sistemática de recursos de pessoas físicas para instituições financeiras. Esse episódio serve de alerta quanto ao risco de que novos choques econômicos ou sociais-- como crises de emprego, novas pandemias ou avanços tecnológicos que facilitem ainda mais o acesso a instrumentos complexos de negociação-- voltem a induzir um grande contingente de indivíduos a estratégias especulativas com elevado potencial de destruição de riqueza.
Fernando Chague e Bruno Giovannetti, autores do estudo da FGV

Leia o artigo inteiro

Do Twitter

Comentários

Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro