
Crédito, Divulgação
- Author, André Biernath
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
Há 15 minutos
O ex-pugilista José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, morreu aos 66 anos, segundo informou a família dele nesta quinta-feira (24/10).
Nascido em Aracaju (SE), Maguila conquistou no boxe vários títulos brasileiros, sul-americanos e também um mundial, na categoria peso-pesado pela Federação Mundial de Boxe, em 1995.
O ex-atleta vivia há anos com a encefalopatia traumática crônica — também conhecida como "demência pugilística", embora este termo esteja em desuso.
Em entrevista à TV Record, a viúva de Maguila, Irani Pinheiro, disse que ele conviveu por 18 anos com a condição e, no último mês, foi descoberto um nódulo no pulmão do pugilista. Entretanto, não foi possível fazer uma biópsia no nódulo.
A encefalopatia traumática crônica afeta pessoas que sofreram pancadas repetidas na cabeça ao longo da vida — como os boxeadores e jogadores de futebol.
Mas, afinal, o que é a encefalopatia traumática crônica? E quais são os meios de evitar esse problema?

Crédito, Divulgação
A questão está na frequência
A médica Roberta Diehl Rodriguez, do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), explica que essa doença passou a ser estudada mais a fundo recentemente, há cerca de 15 anos.
"E nós só conseguimos fazer o diagnóstico definitivo da encefalopatia traumática crônica depois que o indivíduo morre, por meio da análise do cérebro", disse à BBC News Brasil em 2022.
Pelo que se sabe até o momento, o quadro pode se manifestar de diferentes maneiras.
Alguns apresentam sintomas parecidos ao do Alzheimer, como perda de memória e dificuldades para completar o raciocínio.
Em outros, porém, os incômodos se aproximam mais de quadros psiquiátricos, como o transtorno bipolar, em que ocorrem alterações de humor.
Há também casos descritos em que o paciente desenvolveu vícios fortes em apostas, álcool ou outras drogas.
"Os estudos mais recentes também nos mostram que, mais importante do que a quantidade ou a força das pancadas, um aspecto fundamental da doença é o intervalo entre os traumas", informa Rodriguez.
Ou seja: se o indivíduo tem um choque de cabeça e, poucos dias depois, passa por um acidente parecido, isso representaria um sinal de alerta maior.
Possivelmente, pancadas tão próximas não dão tempo de o cérebro se recuperar bem daquele primeiro impacto, o que piora ainda mais os efeitos que isso tem ao longo da vida.

Crédito, Getty Images
É por isso, aliás, que atletas de algumas modalidades são mais propensos a sofrer com a tal da encefalopatia traumática crônica: a própria natureza da profissão os predispõe a levar pancadas no crânio.
Os primeiros dessa lista são os lutadores, já que a meta desse esporte está justamente em acertar a cabeça do adversário com socos e chutes — por isso o antigo termo "demência pugilística".
Grandes nomes do boxe, como Muhammad Ali e Éder Jofre, por exemplo, apresentaram problemas neurológicos no final da vida.
Jogadores de rúgbi e futebol americano também são mais propensos a desenvolver o problema, já que esses esportes são marcados por muitos choques e encontrões.
Por fim, os profissionais do futebol completam o grupo. Como cruzamentos e bolas aéreas são um recurso importante do esporte, as batidas de crânio são frequentes.
Cérebro em desalinho
Mas o que acontece na cabeça logo após a pancada?
Para entender esse mecanismo, é preciso conhecer antes uma proteína chamada TAU.
"Ela ajuda a manter a estrutura dos neurônios e auxilia no transporte de nutrientes entre uma célula e outra", resume Rodriguez.
Só que as pancadas repetidas parecem alterar um pouco desse balanço neuronal.
Quando ocorre o choque de cabeça, essa proteína se rompe e ocorre uma inflamação.
E aí entra o aspecto crônico das batidas.
"Se outra pancada acontece logo depois, o cérebro não consegue se recuperar da primeira e aquela proteína começa a se depositar ali", diz a neurologista.
"Com o passar do tempo, esses agregados anormais de proteína TAU começam a prejudicar a passagem de informações e nutrientes nos neurônios", complementa.
E isso, ao longo de várias décadas, pode culminar em grandes dificuldades para o funcionamento adequado do cérebro.
Vale mencionar que esses mesmos emaranhados de proteína TAU são observados em outras enfermidades neurológicas, como o próprio Alzheimer.
Na encefalopatia traumática crônica, porém, é possível identificar um fator que está por trás do acúmulo dessa substância: as pancadas repetidas na cabeça.
Rodriguez conta que a USP possui um grande banco de cérebros, que são conservados para pesquisas científicas.
"Num estudo, eu avaliei 1.157 desses órgãos que pertenceram a pessoas que não tinham um histórico de atleta profissional."
"Desses, só encontramos a encefalopatia traumática crônica em sete homens", continua.
"Depois, consegui conversar com a família de um deles e descobri que o indivíduo era goleiro de um time amador, pelo qual disputava jogos no final de semana", revela.

German (DE)
English (US)
Spanish (ES)
French (FR)
Hindi (IN)
Italian (IT)
Portuguese (BR)
Russian (RU)
1 ano atrás
38





:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/l/g/UvNZinRh2puy1SCdeg8w/cb1b14f2-970b-4f5c-a175-75a6c34ef729.jpg)










Comentários
Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro