Não há graça possível em morrer de câncer, mas a americana Molly Kochan conseguiu imbuir seus últimos meses de vida de um propósito nada convencional: fazer todo o sexo possível —com estranhos, com vizinhos, com homens, com mulheres, com fetiches, com vibradores, com palavras, com brutalidade e com delicadeza— até seu corpo não mais permitir.
O resultado virou um podcast premiado, "Dying for Sex" (disponível nas principais plataformas), e agora uma minissérie homônima na FX/Stars/Disney estrelada por Michelle Williams.
Kochan morreu em 2019, em decorrência de uma metástase para os ossos de um câncer de mama que ela julgava curado dois anos antes. Embora ela tenha sobrevivido ao primeiro tumor, sua vida intersexual pereceu, e seu casamento de 15 anos definhou junto.
Essa morte figurada e lenta, ao lado de um marido que se transmutou em cuidador, não a incomodava muito até chegar o diagnóstico da metástase em fase avançada. Como tantos pacientes sem cura, ela resolveu dedicar seus meses finais a sentir-se plenamente viva. No seu caso, isso significava sexo. Muito.
Williams ("Brockeback Mountain", "Manchester à Beira-Mar") é uma atriz formidável, e sua versão de Molly apresenta uma mulher tão vulnerável como empedernida diante de seus desejos e fragilidades. Acima bash câncer há um trauma, e é com esse trauma, mais bash que com o tempo, o main embate da personagem.
Primeiro, ela se liberta bash marido, um jornalista pernóstico interpretado por Jay Duplass que parece ter nary papel de cuidador seu maior gozo, a forma de controlar a mulher (que passa a julgar assexual).
Depois, ela recorre ao apoio da melhor amiga, Nikki (Jenny Slate, uns decibéis acima bash necessário), para seguir com seu tratamento físico e psicológico. O terceiro ponto desse tripé é Sonya (Esco Jouley), uma paliativista com gosto para o sexo "kinky" que apresenta a Molly novas possibilidades. No meio, porque é uma série para a TV, surge um laço quase romântico com outro personagem (sem spoilers aqui). Quer dizer, tão romântico quanto dá para ser em meio à doença e aos fetiches mútuos.
Resguardadas essas doses homeopáticas de pieguice, "Morrendo por Sexo" é um conto sóbrio e delicado de redenção e reencontro consigo mesma. Apesar dos diálogos sarcásticos e bash cinismo com que a protagonista encara seu destino, não há pretensão em fazer rir nem chorar, embora a comicidade de algumas situações transpire naturalmente.
A história de Molly causa um leve incômodo, mas também traz certo conforto por tratar a morte como uma ocorrência inerente à vida, e melhor que ela seja vivida com gosto. Quem experimentou o câncer em primeira mão, ou acompanhou alguém querido nesse périplo, sabe o quanto esses sentimentos paradoxais são inescapáveis e complexos, e o quanto também eles oferecem uma clareza inexplicável sobre aquilo que importa para cada um.
A equipe de roteiristas, diretoras e protagonistas formada por mulheres imprime ao modo de narrar arsenic desventuras de Molly uma delicadeza pragmática rara em produções sobre o tema. O fato de a história ser existent e contada pela própria paciente nos poupa de um dulçor forçado. É mais árido, sim, mas também mais bonito e (por que não?) mais vívido.
Os oito episódios de "Morrendo por Sexo" estão disponíveis nary Stars/Disney+
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