Mulher chorando após operação policial no Rio

Crédito, EPA

Legenda da foto, Pelo menos 64 pessoas morreram em operação policial nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio
    • Author, Mariana Alvim e Rafael Barifouse
    • Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
  • Há 16 minutos

A megaoperação policial contra o Comando Vermelho nesta terça-feira (28/10) é a mais letal já registrada desde 1990 na região metropolitana do Rio de Janeiro, segundo levantamento do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni/UFF).

Pelo menos 64 pessoas morreram e 81 foram presas na ação das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro contra a facção nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da capital fluminense.

Entre os mortos, estão 60 civis e 4 policiais, segundo informações da Polícia Civil. Há também registros de policiais e moradores baleados.

Até então, a operação policial mais letal do Rio havia sido registrada na comunidade do Jacarezinho, também na Zona Norte, em maio de 2021, quando 28 pessoas morreram, entre elas um policial.

Na ocasião, a Polícia Civil do Rio de Janeiro fez uma ação contra o tráfico de drogas na região.

Em seguida, está outra operação na Vila Cruzeiro, no conjunto de favelas da Penha, em maio de 2022, quando 23 pessoas, todas elas civis, foram mortas.

As operações policiais mais letais da história do Rio

  • Penha e Alemão: 64 mortos | Outubro de 2025
  • Jacarezinho: 28 mortos | Maio de 2021
  • Penha: 23 mortos | Maio de 2022
  • Alemão: 19 mortos | Junho de 2007
  • Alemão: 17 mortos | Junho de 2022
  • Senador Camará: 17 mortos | Janeiro de 2023
  • Fallet: 15 mortos | Fevereiro de 2019
  • Alemão: 14 mortos | Maio de 1995
  • São Gonçalo e Salgueiro: 13 mortos | Março de 2023
  • Vidigal: 13 mortos | Julho de 2006
  • Catumbi: 13 mortos | Abril de 2o007
  • Alemão: 13 mortos | Julho de 1994

Policiais em operação no Alemão e na Penha no Rio

Crédito, EPA

Legenda da foto, Operação foi realizada para conter expansão do CV, segundo autoridades

Três operações mais letais ocorrem no governo Castro

Os pesquisadores do Geni/UFF destacam ainda que as três operações mais letais do Rio ocorreram durante o governo de Cláudio Castro (PL).

Castro classificou a ação desta terça como "a maior operação das forças de segurança do Rio de Janeiro" e parte de uma iniciativa permanente de combate à expansão do Comando Vermelho.

"Uma operação do Estado contra narcoterroristas, porque as pessoas que fazem isso que fazem são narcoterroristas", disse Castro.

O Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) pediram nesta terça-feira explicações do governador do Rio sobre a operação policial, considerando, entre outros pontos, sua alta letalidade.

Os órgãos pediram que o governo de Cláudio Castro demonstre se não havia "meio menos gravoso" de atingir seus objetivos na segurança pública.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, classificou a operação no Rio de Janeiro como "'bastante cruenta" e disse que combate à criminalidade se faz com planejamento.

"Eu estou aqui à distância, tenho acompanhado pelos jornais, foi uma operação bastante cruenta, segundo notícias. Lamentavelmente, morreram agentes de segurança pública e, pior ainda, pessoas comuns, inocentes. É de se lamentar isso."

"Eu queria enfatizar que o combate à criminalidade, seja ela comum ou organizada, se faz com planejamento, inteligência, coordenação das forças de segurança."

Claudio Castro, governador do Rio de Janeiro

Crédito, Getty

Legenda da foto, O governador Cláudio Castro afirmou que Estado combate 'narcoterroristas'

As mortes em operações policiais no Rio

De janeiro de 2007 a outubro de 2025, o Geni/UFF registrou 707 ações policiais com morte na região metropolitana do Rio, que tiveram como vítimas 2.905 civis e 31 policiais.

"Esses dados nos permitem constatar que as chacinas policiais são a regra e não a exceção no Estado do Rio de Janeiro", dizem os pesquisadores da UFF.

"Reiteramos que esta política de segurança pública centrada em operações policiais em favelas, além de implicar em altíssimos custos para a sociedade, há décadas vem se demonstrando ineficiente no controle do crime, incapaz de proporcionar a redução das ocorrências criminais e conter o avanço do controle territorial armado", prosseguem os pesquisadores.

"A recorrência de incursões policiais armadas com tiroteios em territórios densamente povoados revela o descaso do Estado com a preservação de vidas negras e faveladas."