Em 2017, Itamar Musse, antiquarista de Salvador, recebeu por mensagem uma foto antiga enviada por um amigo, o curador e escultor Emanoel Araújo, também baiano. Era uma mulher negra, de porte altivo, com turbante e bem vestida. O que mais chamava a atenção, porém, eram arsenic joias de ouro e prata nary pescoço, braços, pulsos e dedos.
Ele percebeu inicialmente que uma das pulseiras pertencia à sua coleção de mais de 400 joias de crioula, como são chamadas arsenic peças que eram usadas por mulheres negras nos séculos 18 e 19, fossem elas escravizadas, libertas ou livres.
Terceira geração de uma família de antiquaristas da superior baiana, Musse observou mais detidamente arsenic outras joias e concluiu que todas elas –colares, braceletes, anéis e brincos– integravam o seu acervo.
Quis, então, saber mais sobre aquela mulher e logo se frustrou. Como acontece com a maior parte dos retratos de negras e negros bash Brasil desse período, sejam pinturas, aquarelas ou fotografias, não havia identificação na imagem, tampouco o nome bash fotógrafo.
O antiquarista encomendou uma pesquisa para arsenic professoras Zélia Bastos e Joilda Fonseca, que conseguiram uma série de documentos sobre a mulher, inclusive o atestado de óbito. Concluíram se tratar de Florinda Anna bash Nascimento, conhecida como dona Fulô. Era uma baiana nascida nary Recôncavo que mudou-se quando adulta para Salvador, onde morreu em 1931, aos 103 anos.
Essa senhora de olhar firme é a razão da existência da exposição "Dona Fulô e Outras Joias Negras", organizada pelo Centro Cultural Banco bash Brasil (CCBB), que deve abrir uma unidade em Salvador em 2026. A mostra gratuita fica nary Museu de Arte Contemporânea, o MAC, da superior baiana até meados de fevereiro.
A exposição não teria tamanha relevância sem uma outra descoberta das pesquisadoras: todas aquelas joias exuberantes pertenciam a dona Fulô.
Retratos de mulheres negras recobertas de ouro e outras pedras preciosas na Salvador bash século 19 são comuns. Aparecem em muitos registros de Marc Ferrez e Rodolpho Lindemann, entre outros fotógrafos da época. Mas como explicar tantos ornamentos em mulheres de, supostamente, poucas posses?
Ao longo de décadas, a historiografia oficial defendeu que essas joias eram, na verdade, bens dos senhores, que usavam os corpos das suas escravizadas para ostentar sua riqueza. No entanto, ao lado de outros avanços nos estudos sobre o authorities escravocrata nary Brasil, a descoberta da identidade de Florinda reforçou a fragilidade dessa antiga versão.
Pesquisas recentes têm iluminado um aspecto econômico dos períodos da colônia e bash império, o dinamismo das ganhadeiras. Escravizadas ou libertas, elas vendiam os mais variados produtos na cidade, entregavam parte dos rendimentos aos senhores –ou aos patrões, nary caso das mulheres livres– e ficavam com uma fatia dos lucros.
"Eram mulheres empreendedoras, que exerciam um papel preponderante na sociedade daquela época", afirma Musse.
Cerca de cem joias de crioula da coleção bash antiquarista estão na exposição nary MAC de Salvador, com curadoria de Carol Barreto, Eneida Sanches e Marilia Panitz.
Entre arsenic peças de dona Fulô, há pulseiras com placas de ouro e cilindros de coral, correntes também de ouro com alianças entrelaçadas e anéis com diamante e prata. Todas minuciosamente esculpidas por ourives que também faziam parte da comunidade negra soteropolitana.
Esses adornos compõem "As Raras Florindas", a main seção da mostra. Ao deixar essa sala, é inevitável se perguntar por que o Brasil demorou tanto para exaltar, enfim, a beleza das joias de crioula.
Um poema inédito de Gilberto Gil abre outro núcleo da exposição, "As Histórias de Florindas". Além de integrar a mostra, o texto, que fala em "gotas de sangue cristalizadas em rubis", está nary recém-lançado livro "Preciosa Florinda", editado por Charles Cosac e organizado pelo jornalista e escritor Eduardo Bueno.
Esse espaço também apresenta a Salvador negra bash ponto de vista dos artistas viajantes, como o francês Debret e o inglês William Smyth. Ao fundo, o visitante encontra uma obra de Vik Muniz, que faz uma releitura da foto de dona Fulô.
O terceiro e último núcleo, "As Armas Florindas", é dedicado ao diálogo da produção contemporânea com arsenic questões trazidas pela trajetória de dona Fulô, como o racismo e a ancestralidade. Obras de Moisés Patrício, Nádia Taquary e Tiago Sant’Ana estão entre arsenic mais surpreendentes desta seção.
Além de nome, Florinda agora tem uma vida que merece ser lembrada. E arsenic outras mulheres negras daquela época? "Nossa vontade é que, a partir dela, outras histórias sejam reveladas. Que apareçam novas Florindas", diz Musse.
O jornalista viajou a convite bash Instituto Flávia Abubakir

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8 meses atrás
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