Luiz Inácio Lula da Silva durante pronunciamento televisivo

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    • Author, Thais CarrançaThais Carrança
    • Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
  • Há 24 minutos

Em pronunciamento televisivo neste sábado (6/9), véspera do feriado de Dia da Independência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou discurso em defesa da soberania nacional e fez críticas veladas ao presidente americano Donald Trump e à família Bolsonaro.

Lula também voltou a defender o Pix, sistema de pagamento instantâneo do Banco Central, alvo de investigação pelo governo americano. E defendeu também a necessidade de regulamentação das plataformas digitais.

"Não somos e não seremos novamente colônia de ninguém. Somos capazes de governar e de cuidar da nossa terra e da nossa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro", disse Lula, após lembrar que o 7 de Setembro marca o momento em que o Brasil deixa de ser colônia e se torna um país independente.

"Mantemos relações amigáveis com todos os países, mas não aceitamos ordens de quem quer que seja. O Brasil tem um único dono: o povo brasileiro", completou, repetindo slogan nacionalista criado pelo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira.

Em seguida, o presidente fez críticas a "políticos que estimulam ataques contra o Brasil", parecendo fazer referência ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se encontra atualmente nos Estados Unidos.

"É inadmissível o papel de alguns políticos brasileiros que estimulam os ataques ao Brasil. Foram eleitos para trabalhar pelo povo brasileiro, mas defendem apenas seus interesses pessoais. São traidores da pátria. A História não os perdoará", disse Lula, no pronunciamento televisivo, que teve duração de 5 minutos e 25 segundos.

O petista reforçou ainda a defesa da soberania. "A soberania pode parecer uma coisa muito distante, mas ela está no dia a dia da gente. Está na defesa da democracia e no combate à desigualdade, a todas as formas de privilégios de poucos em detrimento do direito de muitos", disse o mandatário.

Lula reforçou então algumas das bandeiras de seu governo, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação dos super-ricos.

O presidente mencionou também o esforço do governo para abertura de novos mercados, como uma alternativa às tarifas impostas por Trump.

"Abrimos mais de 400 novos mercados para as nossas exportações. Defendemos o livre comércio, a paz, o multilateralismo e a harmonia entre as nações, mas nunca abriremos mão da nossa soberania", disse Lula, lembrando ainda da redução do desmatamento e que o Brasil deve sediar em novembro a COP30.

Ao defender o Pix, Lula reforçou que o meio de pagamento continuará sendo gratuito — em janeiro, uma onda de notícias falsas difundiu a noção de que o serviço poderia passar a ser taxado, após uma mudança regulatória que visava aumentar o controle sobre operações criminosas em instituições financeiras.

"Defendemos o Pix de qualquer tentativa de privatização. O Pix é do Brasil. É público, é gratuito e vai continuar assim", disse Lula.

O presidente também voltou a defender a regulamentação das plataformas digitais.

"Reconhecemos a importância das redes digitais. Elas oferecem informação, conhecimento, trabalho e diversão para milhões de brasileiros, mas não estão acima da lei. As redes digitais não podem continuar sendo usadas para espalhar fake news e discurso de ódio. Não podem dar espaço à prática de crimes como golpes financeiros, exploração sexual de crianças e adolescentes e incentivo ao racismo e à violência contra as mulheres."

Por fim, Lula reforçou que a Constituição brasileira estabelece a separação entre Poderes, o que significa que o presidente da República não pode interferir em decisões judiciais — numa referência ao julgamento de Bolsonaro e outros setes réus pela suposta tentativa de golpe de Estado, que vêm sendo criticado por Trump.

"Zelamos pelo cumprimento da nossa Constituição, que estabelece a independência entre os Três Poderes. Isso significa que o presidente do Brasil não pode interferir nas decisões da justiça brasileira, ao contrário do que querem impor ao nosso país."

O pronunciamento televisivo deste sábado foi pré-gravado e transmitido em rede nacional às 20h30, pelo horário de Brasília.

Mais cedo, às 18h, Lula assistiu ao filme Malês, em sessão no Cine Alvorada. A estreia nacional do longa, dirigido por Antônio Pitanga, acontece em 2 de outubro.

O filme conta a história de uma das principais insurreições organizadas por africanos e seus descendentes escravizados no Brasil, em 1835.

No domingo, Lula participa do desfile do 7 de Setembro, em Brasília, onde deve mandar novos recados a Trump, e ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

O evento tem o tema "Brasil Soberano" como mote.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usa um boné com os dizeres "O Brasil é dos brasileiros" enquanto participa de uma cerimônia para anunciar o início dos pagamentos do Programa de Transferência de Renda para agricultores e pescadores, em Linhares, estado do Espírito Santo, Brasil, 11 de julho de 2025

Crédito, Ricardo Stuckert/Presidência da República

Legenda da foto, No domingo, Lula participa do desfile do 7 de Setembro, em Brasília

Domingo de manifestações

O pronunciamento de Lula na noite de sábado acontece na véspera de um domingo de 7 de Setembro que deverá ser marcado por manifestações de apoiadores do governo e da oposição.

Do lado governista, movimentos sociais e centrais sindicais devem sair às ruas tendo como pauta a defesa da soberania e da prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, com críticas às tarifas e sanções impostas pelos Estados Unidos ao Brasil e em defesa da taxação de super-ricos e do fim da jornada 6 por 1.

Há manifestações marcadas para diversas cidades do país e a maior delas deve acontecer em São Paulo, com saída na Praça da República, às 9h.

Já bolsonaristas organizam protestos contra o julgamento do ex-presidente, que deverá ser retomado a partir de terça-feira (9/9).

O principal ato em defesa de Bolsonaro será na Avenida Paulista, em São Paulo, a partir das 15h, e deve contar com a presença de políticos e aliados do ex-chefe do Executivo.

O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), está entre os que teriam confirmado presença, ao lado do pastor Silas Malafaia, investigado — junto a Bolsonaro e a Eduardo Bolsonaro — por crimes de coação no curso do processo, por sua suposta participação em fatos que teriam levado ao anúncio de tarifas de 50% pelos EUA sobre produtos brasileiros.