O prefeito do Recife, João Campos (PSB), é conhecido por sua força nas redes sociais e um dos principais expoentes da comunicação digital na esquerda. Ele vê no deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) quem mais engaja no outro lado do espectro político, o que chama de "senso de oportunidade" –algo que toda a direita teria nas redes sociais.
Além disso, avalia que a "velocidade do Estado não acompanha a velocidade do digital" e que o poder público precisa se adequar. E diz que a amplitude da discussão hoje, que vai de liberdade de expressão a democracia, impede que o debate avance. "Aí fica todo mundo brigando e ninguém decide nada."
João Campos diz que a rede social é instrumento indispensável da política hoje e reconhece a atuação da direita nessa área. O engajamento que o deputado do partido de Jair Bolsonaro consegue nas redes é "mistura de muita coisa".
"Tem o senso de oportunidade, dizer a coisa precisa –não vou dizer que é a coisa certa–, numa hora devida", disse à Folha. "Tem instrumentalização de patrocínio para startar o vídeo até ele pegar na veia, e tem uma rede orgânica muito grande que a direita tem", afirmou.
Nikolas já era conhecido pela direita por sua atuação nas redes sociais, mas furou a bolha quando, em janeiro, um vídeo criticando novas regras da Receita Federal que ampliavam o serviço de monitoramento sobre movimentações financeiras do Pix. Hoje, só no X (ex-Twitter), a publicação teve 8,7 milhões de visualizações.
O vídeo, que tem algumas imprecisões, impulsionou a pressão contra a medida e fez o governo recuar. Nele, o parlamentar dizia que o Pix não seria taxado com a norma da Receita, mas diz "não duvidar" que o sistema de pagamento possa ser tributado no futuro.
João Campos reconhece que um dos elementos para Nikolas viralizar é "a rede orgânica muito grande que a direita tem". Mas também aponta para uma parte inorgânica, que é utilizar patrocínio para fazer o vídeo "startar até pegar na veia".
"E tem uma parte aí que é de você colocar informações que não necessariamente condizem com a verdade. Não estou falando especificamente de determinado vídeo de pessoa, mas você pega um assunto amplo, aí você fala de dez assuntos, bota seis verdades e quatro invenções no meio", disse.
"E isso não é feito por acaso, isso é feito para engajar, porque muitas vezes o que engaja é a mentira. Então é difícil, é difícil. Mas há de se reconhecer que a direita tem um senso de oportunidade importante", completou.
Novo presidente nacional do PSB, João Campos ganhou destaque no seu campo político com comunicação nas redes sociais, virou conselheiro do governo Lula (PT) nesse setor e até indicou integrantes da sua equipe de Recife para a Secom.
"Não tem uma fórmula mágica. Na minha opinião, a premissa número um é que tem que ser algo verdadeiro, autêntico. Então, não queira ser como outra pessoa na rede social. Esse é o primeiro erro. Se você quiser imitar alguém na rede social, vai ficar possivelmente uma coisa fake, não vai parecer verdadeiro", disse.
A rede social é hoje um instrumento necessário da política, de acordo com o prefeito. Mas defende que é preciso fazer melhorias no uso, cada vez mais violento, delas, sobretudo na política.
"A velocidade do Estado não acompanha a velocidade do digital. É claro que isso tem que ter adequação. Do jeito que está hoje, você parte de uma premissa que tem um bom senso, tanto de quem usa, quanto das empresas. E muitas vezes falta bom senso. Tem que ter alguma construção. Talvez até mudar o nome, não ser mais uma regulamentação das redes sociais", afirmou.
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