A utilização de aplicativo não é tarefa fácil para muitos idosos. Dona Maria das Graças, que já foi auxiliar de limpeza, conta com a nora, Rosiclare da Silva Cobo, para acessar o Meu INSS. "A orientação que eu vi é que a gente tem que pedir o cancelamento do desconto pelo aplicativo", diz a aposentada, que ainda não conseguiu acessar porque não encontrou a senha. "Eu pedi pra redefinir a senha, e agora estou esperando pra continuar mexendo", explicou Rosiclare, que já verificou as contas dos outros dois idosos da casa.
Ainda assim, Rosiclare enfrentou dificuldades. "Primeiro o aplicativo estava fora do ar. Depois consegui entrar e vi que nenhum deles teve desconto", diz ela. Seu pai, de 70 anos, não sabe se foi uma das vítimas porque não tem o aplicativo. "Quero levá-lo direto no INSS", diz ela. O governo diz que a solicitação deve ser feita apenas pelo Meu INSS ou pela Central 135.
Todo aposentado está indignado. Nos de cima [políticos, juízes, militares] eles não mexem, né? A gente tá pagando a aposentadoria deles!
Maria das Graças da Silva Cobo, 66
A professora aposentada Maria Aparecida Barbosa, 83, critica a necessidade do aplicativo. "É terrível pra gente, sabe? Logo a gente não vai ter mais identidade própria com tudo eletrônico", disse ela, que contou com familiares para ter certeza de que não foi lesada. "Eu acompanho o que está acontecendo pela televisão, mas ela é manipulada e não dá pra acreditar em tudo."
Vi que isso acontece desde 2016 e foi piorando como tempo, né? Pra mim é uma máfia de associações que se junta com gente infiltrada no governo. O país não tem mais conserto. Aliás, o mundo inteiro.
Maria Aparecida Barbosa, 83

O orçamentista aposentado Paulo Scarpello, 79, prefere ir ao banco. "Vou à Caixa Econômica tirar um extrato pra saber se descontaram alguma coisa", diz ele. "Eu não uso o aplicativo, nunca usei, nunca precisei usar. Agora é que surgiu essa história."
Ele diz que quase foi vítima de um golpe. "Recebi um telefonema dizendo que foi debitado R$ 929,44 da minha conta. Eu sei que é mentira, mas vai ter gente que vai cair no trote", disse ele, que se recusou a repassar seus dados pessoais.
Embora torça pela punição dos responsáveis, seu Paulo ironiza:
Seria legal a punição de todos e a devolução do dinheiro. Mas me pergunto por que todo mundo que faz tramoia e é condenado diz que está doente e sai da cadeia. Por que será que essas pessoas 'doentes' praticam tantas barbaridades?
Paulo Scarpello, 79
O vigia aposentado Oscar Alves de Brito, 73, aposta na impunidade. "Essa doença é velha, estão roubando faz anos. Cada mês eu recebo um valor de aposentadoria", diz ele, que não vai usar o aplicativo para saber se foi lesado. "É tudo enrolado. Não dá pra reclamar. Todo aposentado é roubado."
Ninguém vai conseguir o dinheiro de volta. Já era.
Oscar Alves de Brito, 73
'Aplicativo é melhor'
As dificuldades são menores entre os aposentados com mais dinheiro e grau de instrução. A psicanalista Cláudia Monte, 65, não enfrentou problemas no aplicativo para descobrir que não descontaram de sua aposentadora. "É o melhor método para verificar. As pessoas precisam aprender a mexer, por isso a educação no país tem que melhorar", afirmou. Ela lamentou, no entanto, pelos aposentados com baixa instrução. "A maior parte [60%] dos lesados mora no Nordeste. É preciso enviar assistentes sociais para chegar a essas pessoas."
A aposentada cobrou o governo Lula. "É uma decepção que isso se mantenha ainda mais num governo como esse, de esquerda, do PT, que tem como presidente um ex-sindicalista. A gente sabe que começou antes, desde o [ex-presidente Michel] Temer, mas ainda tá comendo solto", diz. "Mas eu continuo acreditando que o Lula possa fazer algo melhor para o nosso país, que está muito sofrido. Que ele não nos decepcione."
As instituições têm que cavoucar constantemente, porque o ser humano se encanta com dinheiro e poder. É uma pena.
Claudia Monte, 65
A decoradora aposentada Ana Maria Honigger, 75, fez tudo sozinha pelo aplicativo. "Já entrei no aplicativo e conferi", disse. "Mas foi muito difícil. É ruim para quem não tem o hábito de usar. Eu uso bastante internet e mesmo assim às vezes eu peno pra mexer. Precisam oferecer um jeito mais fácil para idosos porque muitos não têm essa intimidade."
Dona Ana identificou um desconto associativo em maio. "Esse mês descontaram R$ 70 de alguma coisa sem eu autorizar. Não me lembro o nome da associação, mas já falei com o advogado", disse. "Nos meses anteriores não descontaram."
Eles descontam de pouquinho porque se tiram R$ 1.000 todo mês, a pessoa percebe. A gente se surpreende como tem gente que pode fazer uma coisa dessa com aposentado...
Ana Maria Honigger, 75
A professora universitária aposentada Eliane Fruman, 66, acompanha cada detalhe do escândalo. "Vejo pelo jornal e internet. É o assunto do momento. Todo mudo está falando."
Ela conferiu o Meu INSS já no primeiro dia. "Foi bem tranquilo, não tive problema nenhum", disse ela, que lamentou por quem não tem o mesmo grau de instrução. "O governo precisa encontrar as pessoas que não sabem ou têm internet. Se a pessoa não tiver tecnologia, ela não será ressarcida?", questiona.
O que está acontecendo é um absurdo, uma falta de respeito, de empatia. Tirar dinheiro de idoso é o fim do mundo...
Eliane Fruman, 66
"Ninguém à margem"
Segundo o INSS, haverá "busca ativa" para encontrar todos os prejudicados. "O INSS vai atrás dessas pessoas por meios próprios (...) de busca ativa dessas pessoas, não deixando ninguém à margem", afirmou na terça (14) o presidente do instituto, Giberto Waller.
Como não há prazo para pedir o ressarcimento, o executivo pediu "calma". "Tenham calma. Começou uma correria para acessar o aplicativo, mas não tem prazo [para pedir a devolução pelo app], e todos serão ressarcidos", disse.
1,3 milhão já pediram reembolso
Entre quarta e sexta-feira, 1.370.635 pessoas pessoas consultaram o aplicativo para saber se houve desconto. Desses, 1,3 milhão disseram que não autorizaram o débito e pediram reembolso. Outros 24.828 autorizaram o desconto.
Quase todas as consultas foram pelo Meu INSS. Enquanto 1,2 milhão utilizaram o canal, 104 mil pessoas preferiram ligar na Central 135.
Até o momento, 41 entidades foram contestadas. "O INSS intima automaticamente as instituições para que, em 15 dias úteis, mostrem a regularidade [do desconto] ou realizem o pagamento devido corregido pelo IPCA (índice oficial da inflação no Brasil)", disse Waller."

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5 meses atrás
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